A vitória eleitoral e a chegada de Barack Obama à Casa Branca entusiasmou os militantes pela igualdade racial, mas nenhuma mudança tão radical aconteceu como na media, na moda ou na publicidade. Em Julho de 2008, poucos meses antes da eleição presidencial americana, a edição italiana da revista Vogue publicou uma edição que se transformou em referência por apresentar apenas modelos negras.
A expressão “Black is the new black” nasceu daí, para dizer que “negro é o novo negro”, o novo modelo, em referência à famosa cor, uma das mais clássicas da moda. “Mas nas inumeráveis páginas de publicidade desta edição, todas as modelos eram brancas. Nada teria mudado para os anunciantes, cujo objectivo são clientes que para eles continuam sendo brancos”, explica Jamie Ambler, director criativo de uma agência de publicidade de Nova York.
“Mesmo que 90% dos profissionais da publicidade tenham votado em Obama e se considerem multiculturais, no set de produção a maioria dos negros são motoristas e não directores de arte”, lembra Jamie. Em cerca de sessenta funcionários de sua agência, somente 4 ou 5 são negros. Durante a última semana de moda de Nova York, em Setembro, somente um grupo de estilistas africanos desfilaram modelos negras em suas colecções e quantidade de modelos negras era tão pequeno quanto sempre foi, em um mundo acostumado desde os anos 70 a celebrar a beleza “afro”.
“Certamente isso diminuiu, e estamos muito orgulhosos da eleição do presidente, mas os Estados Unidos continuam sendo um país muito racista”, diz Nancy Foner, professor de sociologia da CUNY, uma universidade pública de Nova York. “Este ano não temos mais estudantes negros do que antes, as matrículas já aumentavam antes da chegada de Obama à Casa Blanca, e para poder fazer comparações é necessário remontar aos anos 80”, disse Nancy.
Ebony, a revista especializada na comunidade negra dos Estados Unidos, fundada em 1945 com circulação de 1,5 milhão de exemplares, publica anualmente em Dezembro uma lista dos 150 negros mais influentes. A directora de redação da Ebony, Henriette Cole, se negou a revelar em antecipação as mudanças que serão feitas em 2009 na lista, onde figuram principalmente desportistas, actores e cantores famosos, mas também políticos como Donna Brazile ou magnatas da media como Oprah Winfrey.
“Não acredito que me olhem diferente desde que meu presidente é negro”, estima Douglas Davis, um design gráfico negro de 33 anos. “Sempre procurei a excelência artística, sempre trabalhei graças a meu talento e nunca considerei que minha raça fosse um obstáculo. Acredito que o que Obama generalizou foi a idéia de que se pode ser o melhor sem que a cor da pele tenha alguma importância”, explicou.