Em Maputo grande percentagem dos telefonemas entre homens e mulheres começa assim: “tás aonde?!” E a pergunta é inquisitiva, pede informação tão básica, soa a tal impulso, fala tão acusatória, é tão veloz – que é desarmante e parece que temos mesmo de responder. A frase é lançada como um tiro logo que atendemos o celular, e vem assim, de surpresa.
Não sei bem porquê, mas penso que é com a esperança de nos apanhar desprevenidas e deixarmos cair alguma informação… comprometedora. Porque é que estes homens pensam que nós, as mulheres, temos informações desse tipo, eu não sei. Mas desconfio… E para evitar confusionar na nossa resposta não pode haver hesitação, a informação tem de ser clara, e principalmente verdadeira! Porque não raras vezes a seguir vem a frase: “se eu estou aqui, nesse sítio!
TÁS AONDE?”.
E neste momento mesmo aquelas de nós que estão a dizer a verdade – resultado de terem sido apanhadas de surpresa ou não – ainda duvidam, olham em redor, como que para confirmar que estão naquele sítio. E param o que estão a fazer, interrompem o papo, refreiam o passo, largam as compras, espreitam à janela, vão à porta, mudam a pasta de mão e prendem o celular, em desequilíbrio, entre o ombro e o ouvido. Rodam a cabeça à esquerda e à direita, e em sorriso, ou em urgência, ou com receio… procuram o tal damo do telefonema. E invariavelmente, ele não está por perto… era jogo, golpe, manobra de diversão.
E é curioso que em geral não atacamos, estamos ocupadas com a defesa não é? Neste aspecto acho que devíamos estudar mais tácticas, ver mais jogos de futebol, talvez. Mas parece mais uma luta que um jogo… Defendemo-nos como podemos, e é cansativo. Da nossa resposta depende o desenrolar do papo. E às vezes nem têm mais nada para dizer, é mesmo só para saber onde estamos. Ligou para saber onde eu estou?! Não é por preocupação, ou para me visitar, para me fazer uma surpresa ou por pura partilha de quotidiano, não. É para saber. Eu não sei porquê, mas desconfio.
E oiço as estórias dos maridos e dos namorados que põem um chip no celular das mulheres, para saber onde estão. E parece que mesmo assim ligam e disparam o mesmo tiro “estás aonde?!”, para confirmar. E também de mulheres que aparecem de surpresa, que lêem as mensagens e verificam a lista de chamadas… E dizem-me que os homens mentem mais mas as mulheres mentem melhor… Mas para quê? O que conseguimos nós com tanto malabarismo de enganar e de descobrir?
Não é cansativo? E é que n’um vale a pena! Enquanto escrevo o celular toca, e em vez do habitual “alô!” eu disparo, – Tás aonde?! – do outro lado há atrapalhação e a chamada é bastante curta. Parece que pelo menos desta vez, ganhei. Não ganhei a guerra, mas nas relações homem mulher que às vezes se assemelham a batalhas, ganhei uma…