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Pior cenário da covid-19 em Moçambique são mais de 1000 infectados e pelos menos 30 óbitos; Autoridades querem empurrar pico de Maio/Junho para Janeiro/Fevereiro

Pior cenário da covid-19 em Moçambique são mais de 1000 infectados e pelos menos 30 óbitos; Autoridades querem empurrar pico de Maio/Junho para Janeiro/Fevereiro

@VerdadeO Ministério da Saúde (MISAU) prevê que o pior cenário da covid-19 seja a transmissão Comunitária da pandemia em Moçambique. Nesse cenário o nosso país, que apenas diagnosticou oito infectados até este domingo (29), poderá ultrapassar os mil doentes, os contactos deverão ascender a cem mil, com pelo menos 200 doentes em isolamento nas unidades sanitárias e uma previsão de pelo menos 30 óbitos. Porém o director-geral adjunto do INS esclareceu ao @Verdade que os esforços do Governo de Filipe Nyusi visam reduzir o pico da doença, “em vez do pico acontecer em finais de Maio e princípio de Junho (…) atrasa-lo e afasta-lo para que ocorra, por exemplo, em Janeiro ou em Fevereiro do próximo ano”.

O @Verdade teve acesso ao Plano Nacional de Preparação e Resposta a pandemia do covid-19, elaborado pelo MISAU e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que prevê quatro cenários para a pandemia em Moçambique.

O primeiro sem nenhum caso reportado, um segundo cenário com casos esporádicos “Um ou mais casos, importados ou adquiridos localmente”, um terceiro cenário de aglomerado de casos onde “a maioria dos casos de transmissão local está ligada a cadeias de transmissão” e o último e pior cenário de Transmissão Comunitária “no qual há incapacidade de relacionar os casos confirmados através de cadeias de transmissão para um grande número de casos, ou aumento de testes positivos através de amostras colhidas nos postos sentinelas”.

A julgar pelos números de casos infectados existentes até ao domingo (29) o nosso país ainda está no segundo cenário com oito doentes, 103 contactos, nenhum óbito e todos infectados em isolamento domiciliar. Elaborado antes da detecção do primeiro infectado este segundo cenário de “casos esporádicos” previa a existência de 1 a 20 doentes, com 111 a 2.220 contactos, um óbito e quatro doentes em isolamento hospitalar.

O @Verdade questionou as autoridades de saúde se este plano continua actual e quanto tempo Moçambique demorará a atingir o pior cenário que prevê mais de 1000 doentes, os contactos deverão ascender a 111 mil, 200 doentes em isolamento nas unidades sanitárias e uma previsão de pelo menos 30 óbitos.

Plano Nacional de Preparação e Resposta a pandemia do covid-19

“O Plano (Nacional de Preparação e Resposta ao covid19) não é estático, em função da evolução da epidemia há necessidade de actualiza-lo com base na evolução global e local, e ainda em função dos cenários que estamos a fazer a modelagem. Estamos a fazer a modelagem do impacto da doença em Moçambique em vários cenários, uma das medidas tomadas pelo Governo foi o encerramento das escolas desde o ensino pré-escolar até ao universitário e só este facto já altera os nossos cenários”, começou por explicar o Dr. Eduardo Samo Gudo Júnior.

“Encerrando as escolas estamos a reduzir o risco de infecção em pelo menos 25 por cento da população”

O director-geral adjunto do Instituto Nacional de Saúde (INS) afirmou que “os cálculos tem de ser feitos tendo em conta que Moçambique antecipou-se, Moçambique tem vindo a antecipar-se nas medidas de prevenção, as primeiras foram tomadas antes de termos sequer o primeiro caso o que é um aspecto importante a realçar pois a prevenção é a melhor estratégia para mitigar o impacto desta doença”.

“Nós estamos a usar métodos científicos recomendados, temos um grupo de epidemiologistas e de especialistas nas áreas de gestão de dados, estatística e na área clínica. Este grupo de peritos nacionais, que conta com ajuda de peritos internacionais, particularmente do Estados Unidos da América, está a avaliar o impacto de cada uma das intervenções que o Governo está a implementar. Nós temos que assegurar que as intervenções que o Executivo está a implementar são baseadas em evidências, não podemos tomar decisões empíricas”, acrescentou.

O Dr. Samo Gudo citou como exemplo “a decisão de encerrar escolas foi feita com base no facto de 25 por cento da população moçambicana é estudantil, encerrando as escolas estamos a reduzir o risco de infecção em pelo menos 25 por cento. As decisões subsequentes serão feitas com base nas evidências científicas geradas por este grupo de especialistas. O plano tem que ser reajustado em função destes pressupostos todos”.

Diante da insistência do @Verdade o director-geral adjunto do INS clarificou: “Já não podemos nos colocar no contexto do pior cenário, que iria acontecer se nenhuma medida fosse tomada, portanto esse cenário já não se coloca porque como eu disse o impacto de encerrar as escolas influencia em 25 por cento da população, portanto estamos fora do pior cenário”.

“Mas estamos ainda num contexto em que ainda é preocupante, o que os especialistas estão a fazer é desenhar o impacto dos vários com vista a evitar com que o sistema de saúde colapse, que haja muita transmissão activa num curto espaço de tempo, porque o impacto é catastrófico quando há uma transmissão activa e explosiva, quando a maior parte dos indivíduos procuram os Sistema Nacional de Saúde num curto espaço de tempo. As medidas que já estão em implementação, do ponto de vista individual e colectivo, elas tem como objectivo criar o melhor cenário possível”, chamou atenção.

“Em vez do pico acontecer em finais de Maio e princípio de Junho (…) afasta-lo para que ocorra em Janeiro ou em Fevereiro”

Doutorando em Imunologia de Retrovirus Humanos o Dr. Eduardo Samo Gudo Júnior declarou que: “nós queremos é quebrar a cadeia de transmissão de modo que a transmissão seja muito baixa com vista a evitar que haja um numero muito grande de indivíduos padecendo da doença num curto espaço de tempo. Ou seja nós pretendemos reduzir o pico (da doença), para em vez de um pico com centenas de milhares de casos possamos atrasa-lo e, em vez do pico acontecer em finais de Maio e princípio de Junho, que se pensar que seria alcançado na maioria dos países africanos sem nenhuma medida, atrasa-lo e afasta-lo para que ocorra, por exemplo, em Janeiro ou em Fevereiro do próximo ano”.

“A importância de atrasar o pico para Janeiro ou Fevereiro é para o Sistema Nacional de Saúde ganhar tempo para mobilização de recursos, fortalecimento do Sistema, para entender melhor a epidemia (há ainda aspectos que não são conhecidos), ganhamos tempo para que apareça um medicamento”, deixou claro o médico e investigador moçambicano.

De acordo com o director-geral adjunto do INS, “há alguns candidatos a tratamento que são promissores, por exemplo o Remdesivir é um dos candidatos mais fortes e cujos resultados preliminares estarão disponíveis em Abril. Se em Abril o Remdesivir mostrar eficácia seguem-se vários meses de produção em escala, isso leva quatro a cinco meses, portanto atrasando o pico da epidemia (em Moçambique) para Janeiro ou Fevereiro nós estamo-nos a dar tempo para que se identifique um candidato eficaz (para o tratamento), que se faça produção em grande escala e que possa estar disponível para os moçambicanos. O mesmo para a vacina, atrasando o pico temos tempo para que o mundo descubra uma nova vacina e possa ser usada antes que o pico (em Moçambique) aconteça. São estes os pressupostos técnicos e científicos que nós estamos a trabalhar para mitigar o risco”.

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