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SELO: A era da geração android – Por Basílio Macaringue

Muitos sociólogos e filósofos dedicaram o seu preciso tempo procurando atribuir conceitos que tivessem um enquadramento concreto a factores que permeiam a sociedade contemporânea. Trata-se, nesse sentido, de um estilo de vida oriundo da evolução industrial que, conforme escritos científicos, teve origem no século XVIII, no Ocidente.

A partir daí, no entanto, sucessivas mudanças, senão híper-transformações, foram se verificando em diferentes campos, o que forneceu novos elementos para uma nova releitura e caracterização da sociedade global.

E entre essa dita híper-transformação podemos citar: a melhoria no campo de medicina, o que permitiu o controlo, a prevenção e o combate de diversas enfermidades que ameaçavam a espécie humana principalmente; o crescimento das urbanizações, o que multiplicou de forma acentuada a ambição do ser humano, incluindo a disputa pela extracção de recursos humanos (muitas vezes sem se observar os critérios de sustentabilidade ambiental);… No entanto, a mesma dita híper transformação serviu de forca-motriz para a explosão demográfico que somado aos factores anteriormente mencionados, determinaram, sobremaneira, o inicio da incerteza sobre o futuro da humanidade.

Nesse contexto, diversos pensadores desafiados pelas novas características da Natureza, incluindo a espécie humana, atribuíram vários e distintos conceitos a esta nova era. de entre esses conceitos encontramos: era do vazio, sociedade liquida, sociedade de risco, híper-modernidade, era do individualismo, era do informíssimo, etc. meio a isso, nasce um novo conceito: era da geração android.

Os escritos científicos definem android como sendo um sistema operacional baseado em Linux que opera em celulares (smartphones), netbooks e tablets. Esse sistema tem como função gerenciar todos os processos dos aplicativos e do Hardware de um computador para que funcionem perfeitamente.

Notavelmente, existe uma base de dependência que permite o funcionamento eficiente dos aparelhos acima indicados. Essa base, no entanto, é o sistema android. sem ele, esses aparelhos se tornam inúteis, descartáveis.

Literalmente, a geração actual depende sobremaneira dos telemóveis não soo para se manter em conexão permanente e eficiente com o mundo ao redor, como também para organizar a sua vida individual e colectiva, através de programas como alarme, calendário, agenda, lembrete, previsão de tempo, etc.

Paralelamente a isso, conforme descreveu o grande pensador Martin Heidegger, a técnica em si não nos oferece nenhuma questão espiritual: ela opera e não opera, funciona e não funciona. Portanto, facto questionável nesse cenário é que o Homem deixou de controlar a sua vida com base nas suas capacidades pessoais, deixando-se refém da tecnologia e, assim denso, passando a ser por ela dirigido. Em todo caso, a tecnologia criou uma forte conexão dos Homens entre si mesmos, incluindo as suas crenças, os seus tabus, valores, os padrões de comportamento socialmente admissível, etc.

Nesse contexto, as sociedades consideravelmente mais desenvolvidas transmitem suas civilizações às sociedades dominadas, através das tv’s e redes sociais, incluindo até no sistema educacional formal em que aqueles tem o poder de influencia (in)directa. por via disso, as gerações mais novas das sociedades dominadas (na sua maioria) problematizam a sua cultura, seus valores, tabus, crenças tradicionais, e até a sua própria identidade, em virtude de uma cultura externa e aparentemente melhor.

No entanto, com a entrada da modernidade, as sociedades “mais” tradicionais vem assistindo constantemente o enfraquecimento da sua própria coesão social em detrimento do conflito cultural, enfraquecimento ou perda de poder das instituições sociais tradicionais (família e igreja) em detrimento das modernas (tv’s, redes sociais, escola, etc.).

Nesse sentido, actualmente as sociedades vivem em estado de permanente conflituada de, numa perspectiva de que os grupos que reúnem características peculiares consideravelmente semelhantes tendem a afirmarem-se pela oposição e, por sua vez, segmentando-se e unificando-se. Nesse caso, o conflito social é um facto característico das sociedades modernas, que ao nosso ver poderiam ser entendidas como sendo da era Android (acreditado como elemento que mais dinamiza a circulação da informação).

Inúmeras vezes foi dito que a geração do século XXI não tem cultura típica, é variável, circunstancial e mutável… Por via disso, diversos escritos acreditam que este seja o fim do mundo, associando-se a profecias da Bíblia Sagrada. Todavia, o facto é que os grupos dominantes, detentores do poder político, transformam constantemente a sua ideologia em ideologia da sociedade geral ou mesmo global.

No tocante à cultura moçambicana, desde a antiguidade, no recinto escolar aos rapazes sempre coube vestir-se de camisa e calças e às raparigas blusa e saia, conforme as tonalidades definidas por cada escola. enquanto isso, os rapazes não eram permitidos fazer cortes como se se tratasse de quem vai ao campo de futebol e, igualmente, as raparigas faziam trancas típicas de mulher moçambicana. Essas regras não só permitiam salvaguardar as semelhanças dos alunos de acordo com o género no recinto escolar, como contribuir de forma acentuada para a conservação da nossa identidade como moçambicanos.

Nas zonas rurais, independentemente do cargo que uma mulher pudesse ocupar ou mesmo do seu nível académico, constituía um tamanho insulto dirigir uma reunião vestida de calças ou saia que não fosse ao menos até a altura do joelho. Nas mesmas zonas, a hora do jantar era visto como ponto-de-encontro entre a família para partilha de histórias sobre a origem da família, o perfil que cada descendente devia assumir quando adulto no seio da sociedade inserida, os padrões de comportamento aceito pela maioria, os desafios que cada um enfrenta durante a sua jornada laboral…

Com a “invasão” do estilo de vida moderno, todos esses princípios e mais outros entraram em forte declínio, em detrimento do individualismo e do modernismo. por conta disso, hoje em dia os alunos fazem-se presentes à escola vestidos como quem vai desfilar ou jogar futebol ou contemplar água da praia, o jantar em família perdeu significado e todas instruções da vida são transmitidas e adquiridas via “android” ou mesmo tv.

No inicio, queríamos ser civilizados… Não satisfeitos com o resultado, desejamos ser modernos e assim sucedeu-se… Insatisfeitos, quisemos mais, tanto que engrenamos na era da geração android. Afim ao cabo, negamos sempre aquilo que somos para vivermos o que não somos!

Por Basílio Macaringue

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