Uma viagem extraordinária de 150.000 km seguindo a trilha de Darwin: a escuna Tara zarpa sábado de Lorient para uma volta ao mundo inédita de três anos, durante os quais vai estudar o impacto do aquecimento climático sobre os micro-organismos marinhos que deram origem à vida. “Esta missão ambiciosa vai mergulhar no ‘mundo invisível’ dos ecossistemas marinhos, uma das áreas menos exploradas da oceanografia”, explicou Etienne Bourgois, o chefe da expedição.
Esta expedição inédita financiada com recursos privados, inclui várias parcerias, entre elas a Agence France Presse. “Esta causa é universal e a aventura, singular”, disse Pierre Louette, presidente da AFP. “Precisamos mostrar ao maior número de pessoas o que nossos oceanos estão sofrendo, o que os tornam ainda tão ricos, também, e difundir uma mensagem de consciência ambiental”, continuou. “Ao contribuir com informações divulgadas no mundo inteiro para ciência e para a conscientização, a Agência está sendo fiel às suas missões”, destacou Louette.
O veleiro entrou para a história com uma viagem de 18 meses entre a Sibéria e a Groenlândia, de setembro de 2006 a janeiro de 2008. O percurso desta nova exploração marinha lembra, em linhas gerais, o realizado pelo lendário Beagle de 1831 a 1836, a bordo do qual Charles Darwin elaborou sua teoria da evolução e da qual Tara reivindica a herança naturalista.
É como um convite à viagem, das regiões mais quentes às mais frias do planeta, do Ocidente ao Oriente e de pólo a pólo: Mediterrâneo, Mar Vermelho, Golfo Pérsico, Oceano Índico, Oceano Atlântico, Antártico, Oceano Pacífico, Oceano Ártico… Quase 60 escalas em 50 países. A missão Tara-Oceano mobilizará, em mar e terra, cerca de 100 pesquisadores de quase 50 laboratórios e institutos científicos internacionais. O professor Eric Karsenti, 60 anos, chefe do departamento de biologia celular e de biofísica no Laboratório Europeu de Biologia Molecular (EMBL) de Heidelberg na Alemanha, é o responsável científico da expedição. “Tara-Oceanos é uma continuação do Tara-Ártico, que mostrou com força a realidade do aquecimento climático”, explicou.
“Os micro-organismos marinhos (90% da biomassa dos oceanos) absorvem a maioria do CO2 atmosférico e produzem 50% do oxigênio. Medir o impacto do aquecimento que sofrem, estudar os ciclos do carbono e de oxigênio revelará dados até agora desconhecidos, em simulações climatológicas futuras”, acrescentou Karsenti. “Sem estas microespécies, o homem jamais teria visto a luz do sol. Sem elas, ele desapareceria”, destacou. Os pesquisadores a bordo da escuna analisarão o plâncton e fitoplâncton em diferentes profundidades.
“Do vírus (0,1 micron) à medusa, passando pelas larvas de peixes, corais, diferentes microorganismos como os cocolitóforos ou diatomáceos, vamos estudar o conjunto dos ecossistemas que são a base da cadeia alimentar marinha. Isto nunca foi feito global e continuamente em todos os mares do mundo”, disse Karsenti.