Enquanto em Quelimane há uma menina de 16 anos de idade que ainda chora, copiosamente, pela morte do seu bebé, horas depois de nascer com os intestinos fora do abdómen, na Matola, a cidade industrial e satélite da capital do país, uma outra miúda da mesma idade deu à luz a uma criança e, imediatamente, enterrou-a viva.
A notícia, que se propagou pelo bairro Intaka 2 como rastilho de pólvora e atraiu várias pessoas para o local da tragédia, deu-se no quarteirão 18. Porque não é um caso perante o qual se pode ousar fazer vista grossa, a Polícia da República de Moçambique (PRM) foi solicitada para intervir.
O @Verdade apurou que a adolescente sentiu contrações de parto na manhã de terça-feira (11), enquanto estava sozinha em casa e manteve-se muda e surda até dar luz na casa de banho.
A rapariga vive com o irmão. Este disse que no princípio ela escondia a gravidez e até ao último mês de gestação não revelou quem a engravidou.
Até a saída da nossa Reportagem do local não se sabia exactamente em que momento ela deu à luz nem com que instrumento e como cortou o cordão umbilical.
A mulher do seu irmão, que acabava de chegar da rua, apercebeu-se de que a cunhada tinha hemorragia mas quando perguntou se tinha entrado em trabalho de parto ela alegou que não, apenas teve sangramento passageiro.
Horas passaram até que, na noite da mesma terça-feira, o caso foi descoberto quando a presumível infanticida começou a passar mal. Voluntariamente, ela chamou algumas vizinhas e foi conduzida ao hospital, supostamente porque estava prestes a dar à luz.
Na unidade sanitária, os obstetras disseram havia horas que a jovem já tinha dado parto. Estupefactas, as acompanhantes perguntaram sem sucesso onde estava a criança.
Durante o interrogatório, a adolescente tentou atribuir um certificado de incompetência aos médicos, jurando de pés juntos que sentia dores de parto e o bebé ia nascer.
O pessoal da saúde não entrou nas mentiras de uma mulher que, apesar da sua pouquíssima idade, acabava de criar, por razões não reveladas, uma situação de bradar aos céus e por conta da qual foi alvo de um cadastro criminal na Polícia. Para arrancar a verdade os profissionais de saúde ameaçaram a miúda dizendo que ela seria mandada de volta para casa sem atendimento se continuasse a mentir.
Afinal, após o trabalho de parto e longe dos seus familiares, a rapariga envolveu o recém-nascido numa capulana e enterrou-o, qual lixo, num buraco nas proximidades da própria residência.
Para dissimular o crime, segundo o seu relato aos seus parentes e vizinhos, a menina “abriu uma cova e enterrou o próprio filho” e colocou pedregulhos e blocos sobre o local.
Ela justificou o comportamento alegando que quando a criança veio ao mundo não chorou e julgou que estava morta.
Devido ao seu quadro de saúde debilitada e hemorragia, a adolescente permanecia internada até à publicação deste texto. Todavia, do leito hospitalar, ela será conduzida aos calabouços.
Infanticídio é punível nos termos da lei em Moçambique e dá direito à pena máxima.