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O português continua uma língua alheia para 89% de moçambicanos, particularmente crianças que estudam pela primeira vez

Pelo menos 89,2% de moçambicanos, mormente as crianças que frequentam a 1a. classe, não usam a língua portuguesa, o que faz com que aprender a ler, a escrever e a fazer cálculos nesta língua seja penoso. Diante deste facto, a ministra da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH), Conceita Sortane, alertou, na quarta-feira (11), em Maputo, que “se continuarmos a excluir a língua materna” deste grupo da sala de aulas o seu insucesso estará pré-determinado. Não poderá, igualmente, ter acesso a vários serviços tais como de saúde e justiça.

Dos 15.670.424 moçambicanos de 5 ou mais anos de idade, recenseados em 2007, a língua portuguesa é falada por 50,4%. Mas destes, “apenas 10.8% tem a língua portuguesa como língua materna”.

Aliás, o português, que nos termos da Constituição da República “é a língua oficial”, é um idioma de mobilidade social, de prestígio e predominantemente urbano num país onde a maioria da população vive na zona rural, disse Conceita Sortane, na abertura do Fórum Nacional sobre Educação Bilingue.

O evento, que decorre sob o lema “Por uma Educação Inclusiva, Competitiva e de Qualidade”, tem como objectivo partilhar a experiência do MINEDH na implementação do ensino bilingue, reflectir sobre a importância do reconhecimento do multilinguismo e o uso de vários recursos linguísticos de que o país dispõe, na construção de uma sociedade inclusiva e de oportunidades iguais para todos.

Segundo a governante, um olhar atento às estatísticas por ela apresentadas “permite perceber claramente o quanto os nossos concidadãos não podem usufruir dos serviços de saúde, de justiça, de oportunidades de emprego, de acesso à informação”.

As limitações não esgotam aí. Os compatriotas que não sabem se expressar e/ou comunicar em “língua de Camões” não podem beneficiar de ascensão social e até da participação política, porque não conseguem permanecer no sistema educativo.

Tudo isso “por causa de não saberem a língua portuguesa”, uma situação que chama atenção para o quão a questão da educação bilingue é importante e actual na construção da identidade moçambicana e na modernização do sistema educativo de modo a torná-lo relevante e alinhado com a nossa realidade moçambicana, disse a ministra, sublinhando que é uma realidade que não pode e nem deve ser continuamente ignorada sob o risco de se hipotecar o futuro do país.

“A nossa condição de país multilingue e multicultural desafia-nos a sermos criativos e proactivos na gestão do nosso sistema educativo que queremos inclusivo, equitativo e de qualidade para todos sem discriminação”.

Neste contexto, a educação bilingue em Moçambique tem vindo a progredir desde 2003, pese embora as dificuldades enfrentadas, algumas das quais relacionadas com a falta de material didáctico.

“O número de escolas e de alunos tem evoluído de 23 escolas e 700 alunos, em 2003, para 1.620 alunos, em 2004 e 69.863, em 2011. Em 2016, o Programa de Educação Bilingue já contava com 700 escolas e cerca de 100.000 alunos”, explicou a ministra e actualizou o número de instruendos e estabelecimentos de ensino, tendo em 2017 atingido 3.550 escolas primárias e um universo de quase dois milhões de alunos.

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