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SELO: China vs EUA em África: Como é que a luta entre dois elefantes pode prejudicar o inofensivo capim? – Por Raúl Barata

Nos últimos anos a China vem se tornando num dos maiores investidores do continente africano e parece que irá continuar assim durante algum tempo. A lógica de investimento chinês em África é sem condicionalismos políticos diferenciando desta forma do principal doador, os EUA que colocam pela frente o combate à corrupção, os direitos humanos, a boa governação como um dos principais factores para ajuda ao desenvolvimento.

Com a chegada de Xi Jinping à posição de líder vitalício na China tendo ganho confiança do partido comunista pelo seu ambicioso projecto de investimento multi-milionário no continente africano e não só, e de colocar a China como a maior economia mundial, aumentou a influência daquele país asiático sobre o continente, investindo grandemente nos últimos anos em diversas áreas, sobretudo na das infra-estruturas criando consequentemente oportunidades de emprego à curto e médio prazos sem benefícios concretos no desenvolvimento humano ou social.

O projecto chinês no continente africano parece ter colocado pressão sobre o maior doador de África, os EUA, que sente a sua influência na África a perder lugar para os asiáticos a cada que passa. No contexto das relações internacionais, estas duas super potências permanecem com o discurso diplomático de uma relação de ganhos mútuos com a África, que no entanto, não parece tornar-se uma realidade, pois nota-se que na exploração dos recursos naturais africanos versus a criação de empregos, combate a corrupção, democracia, direitos humanos, ou seja, na ajuda ao desenvolvimento a relação de África com a China e os EUA tem sido de soma-zero com claro benefício para ambas super potências.

A exploração desenfreada dos recursos naturais africanos como o gás natural, carvão mineral, o petróleo, a madeira, etc, pela China e EUA para alimentar as suas indústrias e catapultar as suas economias coloca em risco o futuro de África. A guerra para se manter e se colocar a frente dos destinos do mundo sob ponto de vista económico, político e militar é tudo que importa para a águia e o dragão neste momento, e a África é vista como um meio para atingir tais objectivos. É aqui onde o real perigo para os africanos reside. Importa frisar que os recursos naturais são escassos e aliada a isto está a exploração insustentável e desmedida dos mesmos. A actual guerra comercial entre os EUA e a China pode ter consequências para África a partir do momento que as duas potências tentam manter as suas posições de influência no continente, a China por um lado aumentando o seu domínio como o maior parceiro comercial de África, e por outro lado, os EUA mantendo-se como maior investidor e doador.

A ajuda da China ao desenvolvimento de África é sem condicionalismos políticos, no entanto, existem garantias exigidas pelo governo chinês e aceites pelos governos africanos que envolve a exploração dos recursos naturais. O mesmo pode se dizer dos EUA apesar de a forma de actuação dos americanos na exploração dos recursos naturais não ser tão directa, visível, explicita e violenta como a dos chineses.

Num cenário pessimista como este para o futuro de África, os governos deviam tomar certas precauções e estabelecer novas estratégias de cooperação que possam trazer ganhos mútuos concretos e a longo prazo, porque nunca se sabe quando a China e os EUA podem se saciar com os recursos e deixar o continente. Infelizmente os governos africanos são dominados pela forte dependência económica que tem destes países mesmo numa situação em que detém os recursos naturais, uma moeda muito forte para negociar o seu futuro e o seu desenvolvimento sem necessitar de supostas ajudas ao desenvolvimento.

Para África urge se posicionar face a constante mudança nos sistemas políticos internacionais e que influenciam grandemente na maneira como os vários estados-nação cooperam a nível do sistema internacional. Os EUA e a China estão actualmente em grandes mudanças nos sistemas políticos e nas políticas externas e internacionais e todo este processo infalivelmente tem a África na agenda, e, diga-se que tal agenda não é optimista e risonha como se faz acreditar. Estará a África preparada para enfrentar o enorme scramble no seu território que terá enormes mudanças a curto e longo prazo? Há que estar em alerta sobre o nosso futuro, pois o falcão e o dragão esses certamente estão.

Por Raúl Barata

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