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Tertúlias Itinerantes: Irene Mendes defende uso de componentes culturais nos dicionários de língua portuguesa

Tertúlias Itinerantes: Irene Mendes defende uso de componentes culturais nos dicionários de língua portuguesa

Para que os usuários possam interpretar, correctamente, o significado das palavras em determinadas culturas, o dicionário de língua portuguesa deveria conter componentes culturais na definição das palavras.

Esta abordagem foi defendida na quarta-feira, 21 de Março, em Maputo, por Irene Mendes, especialista em Linguística e docente na Universidade Politécnica, durante a animação do segundo sub-tema das Tertúlias Itinerantes, edição 2018, subordinada ao tema “Interculturalidade e Lexicultura”.

Conforme defendeu a oradora, o dicionário deveria sempre conter componentes culturais na sua definição “porque, sem elas, muitas das vezes os aprendentes não conseguem interpretar, correctamente, um texto”.

“Sabemos, por exemplo, que os animais e outras palavras, como a cobra, o coelho e o pangolim, são unidades lexicais que trazem consigo uma carga cultural muito forte”, explicou, acrescentando que “se estiver a ler um texto sem conhecer o simbolismo de um desses animais, dificilmente compreenderei o contexto do mesmo dentro daquela comunidade”.

Numa outra abordagem que trouxe aos presentes no evento, por forma a consubstanciar a ideia de que o dicionário deve albergar componentes culturais na definição das palavras, Irene Mendes falou do uso de determinados termos que, numa cultura, podem significar algo completamente antagónico em relação a uma outra.

“Se estiver a conversar com alguém ou com várias pessoas, sem no entanto conhecer o significado cultural de menina, rapaz, rapariga, esposa ou de mulher, estarei sempre exposta a cometer erros ou a ferir sensibilidades, ainda que sem saber. Isso pode conduzir a um choque cultural”, referiu.

A título de exemplo, Irene Mendes destacou o uso da palavra “menina” em dois povos diferentes, o moçambicano e o português, sendo que, por um lado, para os moçambicanos ela é somente aplicada a crianças do sexo feminino; “por outro, no contexto europeu, a palavra é usada para todas as mulheres, independentemente das idades.

É, aliás, elegante e carinhoso chamar uma idosa de menina”, considerou, sugerindo, mais uma vez, para que os dicionários incorporem definições culturais e contextualizadas das palavras.

Importa referir que estas afirmações surgiram no âmbito do 3º Ciclo de Tertúlias Itinerantes, intituladas “Fluxos de Comunicação Intercultural no Espaço de Língua Portuguesa: Debater o Desconhecimento Mútuo no Contexto da Era Global”, que desta feita, escalaram o Museu da Moeda.

Este evento é uma iniciativa académica que reúne, em Maputo, reflexões de investigadores de Moçambique, Brasil e Portugal e é organizado por Eduardo Lichuge, da Universidade Eduardo Mondlane; Lurdes Macedo, da Universidade Lusófona do Porto e Sara Laisse, da Universidade Politécnica, cujas linhas de pesquisa se centram no debate sobre a interculturalidade.

A próxima tertúlia será animada por Jorge Frinje, docente da Universidade Eduardo Mondlane, a 10 de Abril, na Fundação Fernando Leite Couto, que abordará o tema: “Multiculturalidade e estilos holísticos de aprendizagem: o encontro entre o Ocidente e o Oriente”.

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