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SELO: Democratizar a mentalidade moçambicana – Por Couto Fernando

Tal como o processo democrático, a mentalidade moçambicana necessita de observar uma fase de transição que pressupõe a ruptura do conhecimento construído, a transição do construído para o emergente, a aceitação e conhecimento das regras democráticas e consolidação deste pensamento como único motor regulador da vida social do cidadão, ou seja, urge a necessidade de democratizar a mentalidade moçambicana.

Não se pode, segundo CRICK, coabitar num contexto democrático sem que haja uma cidadania livre, coerente, critico e conhecedor das regras do jogo (direitos e deveres), bem como os mecanismos a qual podem ser usados para propor soluções, exigir reformas, manifestar inquietações e construir pilares para produção de políticas que reflictam o anseio da colectividade.

Em outras palavras, chama-nos atenção para a necessidade de se usar a cidadania activa na sua plenitude, como um instrumento crucial e garante de maior participação do individuo no campo político. Para o efeito, deve-se abandonar a mentalidade conformista do moçambicano que se considera alheio ao fenómeno político, pois a democracia corre o risco de desaparecer no panorama político nacional e, desta forma, maximizar a degeneração do regime democrático e ganhando a configuração ditatorial.

Esta apatia no exercício de cidadania vai propiciar a estagnação da mentalidade e tornar-se cada vez mais uma fórmula de rejeição dos princípios democráticos e jogar em terra o desiderato das liberdades individuais. Esta atitude amorfa somente virá reforçar a concepção segundo a qual a democracia não é mais do que um mecanismo formal de manipulação consciente e inteligente dos hábitos organizados e opiniões de massa.

A ruptura implica romper com o conservadorismo de que a política apenas deve ser apenas um campo do conhecimento dos fazedores da política e criar a mentalidade nova de que cabe o cidadão o papel de dar sentido ao processo democrático.

Já a transição pressupõe eliminação da visão impositiva do regime ditatorial e rumar para uma visão igualitária, onde cada um pode ser actor político sem discriminação, o terceiro elemento a consolidação requer compreensão, aceitação e aptidão para jogar dentro dos parâmetros democráticos como únicos para resolver problemas e que qualquer solução diferente desta acarreta custos avultados para toda estrutura social e o quarto elemento institucionalização dos diversos campos, através do domínio das regras e procedimentos da vida política e social, a capacidade de gerar políticas que produzam soluções face aos problemas existentes por parte do cidadão, através da busca do saber em torno das normas que conduzem a actividade política.

Democratizar a mentalidade significa romper os preconceitos sobre a actividade política, preocupar-se em assimilar e viver o jogo político com base no conhecimento das regras de jogo, reinventar o pensamento crítico face a acção governativa, ser um bom cidadão que cumpre seus deveres como forma de ter o poder de exigir o respeito de seus direitos e ser construtor dos pilares da colectividade, solidariedade e interactividade governantes-governados e governados-governados de forma harmoniosa.

No campo social moçambicano a democratização da mentalidade contribuiria para a recusa da acção ditatorial camuflada do regime vigente e sob controlo da força partidária que detém o poder, através da maior aproximação entre os órgãos representativos (parlamento, assembleias, conselhos consultivos, entre outros).

Caso a mentalidade não seja reajustada aos princípios democráticos continuaremos numa ilha onde o governo vai deter mais poder porque estará mais livre e popular e com maior controlo de opinião que vai reforçar a submissão dos governantes aos governantes. Desta forma vai vincar a lógica democrática segunda a qual nesse regime os governados têm o direito de consentir, mas nada além disso, ou seja, teremos de contentar-se com a democracia que temos.

Precisamos democratizar a nossa maneira de pensar, interpretar, criticar, sugerir, encarar os problemas, entender a acção política e o comportamento dos fazedores da actividade governativa somente desta forma deixaremos de ser tratados como crianças (mentalidade oca) sem capacidade para auto-governo e sustentando a lógica clássica seguinte: “Tudo para nós (governantes) e nada para o povo (governados)”.

Por Couto Fernando

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