A antiga primeira-dama de Moçambique e activista dos direitos humanos, Graça Machel, defende que se o país quiser erradicar a desnutrição crónica, garantir que toda a criança seja coberto pelos seus direitos e exercê-los plenamente, até 2030, deve garantir que a planificação das actividades para o efeito seja rígida e ocorra a partir da província, porque é onde ainda há maior número de petizes sem gozo absoluto das suas faculdades intelectuais.
“Cada província deve fazer, a partir do distrito, o seu plano rigoroso de eliminação de desnutrição crónica. Por exemplo, os índices da província de Inhambane não são os mesmos dos de Cabo Delgado, Nampula ou da Zambézia”, disse Graça Machel, salientando que o trabalho que sugere deve ser acompanhado pela mobilização de recursos necessários “para assegurar que em todo o território nacional as crianças, meninas e meninas, cresçam livres da desnutrição crónica”.
Segundo a presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), nos dias que correm, 43% de petizes de zero a cinco anos de idade, sofrem de desnutrição crónica e esta percentagem não muda há vários anos. Significa que “estamos de falar de quase metade de crianças que não vão gozar completamente de todas as suas faculdades intelectuais”, até 2030, data prevista para a avaliação dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Este grupo etário, ajuntou Graça Machel, soma-se a outros 46%, também de petizes, que nos anos anteriores sofriam do mesmo problema, o que transparece que ainda temos moçambicanos que há muitos anos não conseguem gozar inteiramente das suas faculdades intelectuais. “Usando este exemplo, temos que planificar como é que nos próximos 15 anos vamos eliminar a desnutrição crónica”. Este mal não afecta somente a população das zonas rurais, mas também 31% das crianças da cidade de Maputo.
No âmbito escolar, em Moçambique, muitas crianças entram para o ensino primário, mas em cada 100 meninas, 78% delas desistem dos estudos antes de concluir este nível. E em cada 100 rapazes, 75% deles também abandonam a meio os bancos da escola, disse a activista dos direitos humanos. Na sua óptica, esta questão impõe que a planificação de todas as actividades visando erradicar a desistência escolar e manter os miúdos na instrução formal seja igualmente feita a partir da província, para que o investimento na educação não seja dado como perdido.
Num outro desenvolvimento, vovó Graça – conforme ela gosta de ser tratada – defendeu que qualquer trabalho que for feito poderá sempre fracassar se as famílias não assumirem a responsabilidade de mudar os hábitos alimentares e estar consciente de que é seu papel mandar os filhos para a escola e mantê-los lá. “Elas é que devem dar o apoio diário aos petizes para que tenham melhores resultados na escola”.
Graça Machel falava na quarta-feira (29), em Maputo, durante o lançamento do relatório global do UNICEF sobre “A Situação Mundial da Infância 2016: Uma oportunidade igual para todas as crianças”.