No meu artigo intitulado “Democracia e Governação Inclusiva em Moçambique”, ter-me-ei socorrido da governação de Nelson Mandela, antigo Presidente da África do Sul e já falecido, para dar exemplo de uma governação inclusiva, a qual pode constituir um modelo para Moçambique ultrapassar a actual situação político-militar, que se manifesta em forma de guerra civil.
Continuo defendendo que no país reina o espírito de exclusão. Há compatriotas que se acham mais moçambicanos e donos do país. Moçambique é para todos e o que há nele constitui também riqueza para todos, sem descriminação.
Procurei informar-me melhor sobre a constituição do Governo de Nelson Mandela e conclui que a estratégia encontrada pelos sul-africanos para garantir a inclusão foi de todo o partido. Dos partidos da oposição, segundo os resultados eleitorais de 2004, somente o National Party (NP), de Frederick Derclerk, e Inkatha Freedom Party (IFP), de Mangosuthu Buthelezi, obtiveram uma boa representação mas, mesmo assim, Nelson Mandela fez a questão de incluir no seu governo membros de outros partidos, com ou sem assentos parlamentares. Isto é que se chama acabar com o barrulho. Esse governo que, vigorou de 27 de Abril de 1994 a 30 de Junho de 1996, chamou-se Government of National Unity (GNU), que em português significa Governo da Unidade Nacional.
Esse governo operou à luz de uma Constituição Interina (Provisória), acordada entre o African National Congress (ANC) e o National Party (NP), em 1991. Houve partilha de pastas em alguns ministérios na governação de Nelson Mandela. Se os cargos de ministro, governadores e administradores são por confiança política, no Governo de Mandela havia espaço para uma grande margem de desconfiança entre os partidos ANC, NP, IFP e outros não especificados, tendo em conta a sua natureza mas, nem com isso Madiba ficou abalado!
Ele confiou aos compatriotas a missão de resgatar a Unidade Nacional, de acabar com o regime segregacionista (Apartheid) promovido, na altura, pela extinta National Party de Pik Botha (Peter Botha). O GNU conhece o seu termo em 1999, tempo que coincidiu com o início do segundo mandato da governação do ANC, já com Thabo Mbeki na Presidência da República. Mandela só governou durante um mandato e preferiu deixar o poder, ainda doce, enquanto o povo sul-africano o queria no poder.
A visão e o carácter de Mandela tornaram-no num protótipo de governação capaz de ajudar na resolução de conflitos políticos que actualmente fustigam o nosso país.
O meu apelo vai para o senhor Presidente da República, Filipe Nyusi, e ao partido Frelimo. Nada eles perdem em promover a inclusão no verdadeiro sentido da palavra. Pelo contrário, sai-se a ganhar e a existir credibilidade e maturidade na gestão de conflitos de género. Há que priorizar o espírito de tolerância para uma verdadeira reconciliação nacional.
Sobre o Egipto, a Bíblia, no seu Antigo Testamento (Êxodo 7;14), fala-nos do coração endurecido de Faraó. Com o endurecimento do seu coração, Deus mandou muitas pragas que fustigaram o Egipto daquele tempo. Não adianta endurecer o coração. O Presidente da República e o partido Frelimo têm de saber abrir a mão para poder viver e convir com os outros seres semelhantes, pese embora as diferenças. Para uma boa governação, temos que colocar à parte todo o tipo de apetites que tivermos, para melhor servirmos o povo.
Uma guerra civil pode durar anos devido ao ódio que tivermos contra o nosso adversário, mas, no fim, o segredo para acabar com isso é o DIÁLOGO! O endurecimento do coração da parte do Presidente Filipe Nyusi e do seu partido está e vai continuar a destruir o país.
Falo apenas da Frelimo e não da Renamo, pois este último já manifestou a sua disposição para o DIÀLOGO, exigindo, no entanto, a participação de mediadores internos e externos, mas não vemos a mesma vontade da parte do partido no poder.
O Governo da Frelimo diz estar disposto para o DIÁLOGO mas meia volta, através das FDN e FIR, promove perseguições à Renamo e ao seu líder, o que deixa clara a desconfiança levantada pela contraparte. Os dois partidos não podem chegar à reconciliação sem intervenção de mediadores. Ambos não se confiam. Por favor, tenham pena do povo moçambicano.
Apelamos para um DIÁLOGO sério. Os nossos irmãos estão a morrer em vão. Por favor, senhor Presidente da República, QUEREMOS PAZ EM MOÇAMBIQUE. Não hipotequem o nosso futuro.
O Estado não é somente dos partidos políticos, mas, sim, de todos os moçambicanos. Tudo o que há nele é herança de todo aquele que é moçambicano. Por isso, não foi para isso que o povo vos confiou o poder, senhor Nyusi. Uma justa revisão constitucional e formação de um governo inclusivo e transparente é que podem solucionar, definitivamente, os problemas dos moçambicanos.
Por Júlio Khosa