A água do mar galgou as margens e inundou, nas últimas 48 horas, o bairro da Praia Nova, na cidade da Beira, a capital da província central de Sofala, afectando um total de 71 famílias. O fenómeno foi acompanhado por ventos fortes que causaram a destruição total ou parcial de cerca de 500 casas, forçando mais de 380 pessoas a procurarem abrigo em locais seguros.
Parte das vítimas que estavam provisoriamente abrigadas no bairro da Ponta-Gêa, nomeadamente na Escola Primária Eduardo Mondlane, foi acomodada no Pavilhão dos Desportos da Beira, tendo depois sido acomodada em 20 tendas montadas pelo Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), que também disponibilizou alimentos e artigos de higiene e limpeza para um período de três dias.
Segundo o delegado do INGC na Beira, Bento João, citado pelo jornal Noticias, o fenómeno atingiu também a zona da Praia de Njalane, no posto administrativo de Nhangau, localizado a 30 quilómetros da capital de Sofala, afectando um número não especificado de pessoas.
O Instituto Nacional de Meteorologia (INAM) indica que a situação resultou na ocorrência, nos últimos dois dias, das marés mais altas jamais vistas este ano, acompanhada de uma frente fria muito activa que foi influenciando o estado do tempo desde a última quinta-feira na região sul da província de Sofala. Como consequência da combinação desses factores, registaram-se chuvas fracas e intermitentes, com o vento a soprar com rajadas que atingiram 70 quilómetros por hora, originando uma forte agitação do mar tanto na zona costeira como no resto do Canal de Moçambique.
Dados adicionais indicam que na quinta-feira as ondas do mar atingiram os 6.86 metros às 4 horas e 27 minutos locais, para às 16.51 horas do mesmo dia baixarem para os 6.85 metros. Na última sexta-feira, segundo o INAM, as ondas subiram para os 7.01 metros às 5.03 horas baixando depois para os 6.93 metros às 17.25 horas.
O delegado regional centro do INAM, Júlio Langa, tranquilizou os citadinos, afirmando que apesar da possibilidade de chuvas fracas a moderadas durante o fim-de-semana no interior das províncias de Sofala e Manica, bem como ao longo da faixa costeira da província da Zambézia, está previsto o abrandamento do vento.
O Administrador Marítimo de Sofala, António Vilanculos, recordou que a orla marítima é considerada zona desabitada, servindo exclusivamente para turismo e investigação de espécies marinhas.
Por seu turno, o secretário do bairro da Praia Nova, Carussua Fondo, confirmou, porém, que, no passado o Conselho Municipal da Beira atribuiu títulos de Direito de Uso e Aproveitamento da Terra (DUAT) a alguns moradores daquelas zonas de risco, autorizando-os a erguer suas habitações em áreas seguras, mas alguns dos beneficiários retornaram àquela zona para se fixarem e praticar a pesca.