Nos próximos seis meses, se o Governo moçambicano não tomar a peito o problema dos compatriotas que vivem em centros de acolhimento no Malawi, em consequência de confrontações entre as Forças de Defesa e Segurança (FDS) e os guerrilheiros da Renamo, na província de Tete, a situação irá deteriorar-se cada vez mais e resvalar para “uma catástrofe”, numa altura em que as autoridades dos dois países não falam a mesma linguagem de quem está no terreno, disse Gift Rapozo, administrador do distrito de Mwanza, que alberga o centro de acolhimento de Kapise, um dos dois locais criados pelas autoridades malawianas para receber os cerca de quatro mil moçambicanos.
O Executivo e uma certa imprensa atrelada a si têm-se desdobrado em negar que os moçambicanos que se encontram em centros de acolhimentos no Malawi estejam a fugir da tensão político-militar e, acima de tudo, dos maus-tratos protagonizados também pelas forças governamentais, acusando-os de serem apoiantes da Renamo.
E enquanto o Presidente da República, Filipe Nyusi, alega que o assunto deve ser tratado com ponderação, porque a fronteira entre Moçambique e Malawi não é clara em determinadas regiões, pelo que muitos cidadãos assumem a nacionalidade moçambicana ou malawiana em função das suas conveniências de momento, Gift Rapozo considera que “se a situação se mantiver por mais seis meses, estaremos perante uma catástrofe” e o seu país não vai ter capacidade de lidar com a chegada contínua de mais refugiados (…).
Ademais, tentando meter os dedos pelos olhos, Filipe Nyusi disse, em Adis Abeba, capital da Etiópia, no fim da 26.ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da União Africana, que se devia ter a certeza de quem é o refugiado que entra no Malawi e o Alto-comissário de Moçambique naquele país está a acompanhar o assunto de modo a esclarecer o movimento de pessoas ao longo da fronteia, pois “não queremos ter o problema de chamar de refugiados a um movimento migratório que é regular” e gerado por factores tais como a seca e distribuição de fertilizantes.
Em Julho último, no começo da crise, havia no Malawi perto de 600 refugiados, mas uma “chegada substancial de mais gente” verificou-se desde Dezembro e estão inscritas, neste momento, 3.900 pessoas e muitas outras ainda por registar, afirmou Gift Rapozo, segundo a AIM.
O Governo do Malawi evitou chamar a atenção desta situação e usar os corredores diplomáticos para que fosse resolvida ao mais alto nível, mas com o seu agravamento “começámos a ser visitados por organizações internacionais e tornou-se difícil evitar que não seja conhecida”, declarou o administrador distrital, lamentando a existência de percepções diversas entre as autoridades dos dois países, que no seu entender “não estão a falar a mesma linguagem” de quem está no terreno.
O mesmo problema acontece com os parceiros internacionais, quando querem conhecer dados, previsões de números e prazo estimado para a existência dos centros de acolhimento, quando não há capacidade de o saber, porque “não se trata de um conflito declarado”.
O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) esteve no local, entre 29 e 31 de Janeiro último, data em que presenciou a entrada de pelo menos 18 moçambicanos, que se juntaram aos milhares “concentrados num campo aberto, em condições humanitárias deploráveis”, que consistem na fome, na ausência de água apropriada para consume, na falta de saneamento, expostos a intempéries e a desmaios constantes.
Falando em conferência de imprensa, Daviz Simango, presidente daquele partido, apelou às “autoridades moçambicanas para que accionem as instituições vocacionadas para estas situações, e enviem com urgência os apoios necessários para proporcionar o conforto possível e resposta a esta crise humanitária resultante da cultura de violência instalada, da intolerância política e de ausência de paz. Que sejam criadas condições para o regresso desses compatriotas a pátria amada”, e as partes em partes em conflito cessem as confrontações militares.
ESTE ARTIGO FOI ESCRITO NO ÂMBITO DO PROJECTO DE MEDIA PARA O DESENVOLVIMENTO DE ÁFRICA DA VITA/Afronline( de Itália) E O JORNAL @VERDADE.