O partido Renamo considera que a falta de hierarquia e organização no seu partido, de que o Presidente da República, Filipe Nyusi, se queixa em como estando a impedir a aproximação das partes para a retomada do diálogo político, é uma desculpa da sua “má vontade” para acabar com a crise política no país, pelo que até hoje não respondeu à carta que a “Perdiz” endereçou, no ano passado, à Presidência da República, sugerindo que o Presidente da África do Sul, Jacob Zuma, e a Igreja Católica Romana sejam mediadores do conflito.
António Muchanga, porta-voz do maior partido de oposição em Moçambique, disse ao @Verdade que o Chefe de Estado “tem dificuldades de lidar com alguns dossiers”, por isso, acha que esta “é uma organização onde não há uma hierarquia sequenciada (…) e não se sabe quem manda e quem não manda”.
“O partido Renamo está organizada desde os tempos em que ele [Filipe Nyusi] era trabalhador dos caminhos-de-ferro de Moçambique”. E por estar estruturada “negociou a paz” com os antigos estadistas moçambicanos, Joaquim Chissano e Armando Guebuza, disse o político, que é igualmente deputado da Assembleia da República (AR), e classificou as declarações do Alto Magistrado da Nação, em Adis Abeba, capital da Etiópia, no fim da 26.ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da União Africana, como “desculpa de mau pagador”.
Ainda de acordo com Muchanga, “o que sei é que existe um Chefe de Estado e um Primeiro-Ministro. Não sei qual é a hierarquia do resto dos membros do Governo”. Todavia, aquando do diálogo político no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano (CICJC), “nunca foi nossa preocupação” saber que “número representava”, no escalonamento governativo, o ministro da Agricultura, José Pacheco, que era chefe da delegação do Executivo, nem o ministro dos Transportes e Comunicações, Gabriel Muthisse.
Para a “Perdiz”, as declarações do Presidente da República denotam “má vontade” no que concerne à busca de soluções para o fim da crise política em Moçambique.
Questionado o que poderá o líder do seu partido, Afonso Dhlakama, estar a fazer no sentido de pressionar o Governo a voltar à mesa das conversações, Muchanga respondeu que nada, porque quando Dhlakama “vinha a Maputo foi atacado na Beira”.
Refira-se que Dhlakama foi visto pela última vez em público a 09 de Outubro passado, horas depois de a sua casa ter sido cercada pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS) para supostamente recuperarem as armas da Polícia que estavam na posse dos seus seguranças, alguns dos quais detidos durante a operação. Desde essa altura, não houve nenhum avanço no panorama político de modo que haja estabilidade. Com as partes em desacordo e cada vez mais distanciadas, o espectro de guerra alastra e o partido Renamo ameaça, em tom alto, governar as províncias onde reclama vitória nas últimas eleições gerais – Nampula, Niassa, Manica, Sofala, Tete e Zambézia – a partir de Março próximo.
Muchanga disse também que desde que se propalou um terceiro encontro entre Nyusi e Dhlakama “não houve aproximação nenhuma” entre as partes. Pese embora, a Igreja Católica Romana e o Presidente da África do Sul tenham respondido, “em Novembro”, ao convite para mediarem o conflito, o Executivo ainda não o fez. “Estamos à espera do Governo (…). Esta coisa de mediar é tipo padrinho, que é consensual. O Governo não diz nem sim nem não. Esta calado só”.
Relativamente o facto de Zuma não ter falado com o seu homologo moçambicano sobre o pedido do partido Renamo para mediar o diálogo político, aquando do encontro do Órgão de Defesa e Segurança da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), que visava discutir a crise política no Lesotho, Muchanga explanou que a agenda do estadista sul-africano naquele evento “era falar do Lesotho e não de Moçambique”.