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“O treinador Russo (…) não pode nunca faltar à verdade”, Carolina Mogne*

Na sequência da entrevista concedida ao @Verdade, em Novembro último, pelo treinador do clube Ferroviário de Maputo e da selecção nacional, Eduardo dos Santos, que nos meandros desportivos é apelidado por Russo, Carolina Mogne, por sinal mãe do atleta Igor Mogne, considerado “um indisciplinado” pelo técnico a que nos referimos, serve-se do mesmo meio para responder ao instrutor, pois julga que este proferiu algumas inverdades.

Em contacto com o nosso jornal, Russo fez uma série de revelações, que desagradaram Carolina Mogne, entre as quais as de que o clube Golfinhos de Maputo tem vencidos a maioria dos troféus no nosso país com atletas que rouba dos clubes onde se faz a formação de nadadores, “se ouvir dizer que nós temos alta competição em Moçambique é mentira. (…) As grandes conturbações que existem na família da natação devem-se principalmente a intromissão dos pais (de alguns atletas), que querem controlar os treinadores, controlar os clubes”.

Neste contexto, publicamos, abaixo e na íntegra, a exposição de Carolina.

Exmo Senhor director do Jornal A Verdade, à luz do direito de resposta, vimos solicitar os bons ofícios de VEXA no sentido de publicar a nossa resposta a algumas questões referidas na entrevista dada à estampa pelo vosso jornal, no dia 20 de Novembro, com o treinador Eduardo dos Santos, vulgo Russo, como é conhecido, no meandro da natação.

A entrevista está repleta de inverdades no que se refere ao nosso filho Igor Mogne. O treinador Russo está no seu direito de opinar e de dizer o que lhe apetece sobre o que quer que seja, mas não pode nunca faltar à verdade. Sobretudo fica-lhe mal que sobre um jovem atleta profira um conjunto belicoso de acusações, nada construtivas, como lhe competia, mas absolutamente destrutivas.

Vamos a citações e factos. Diz no capitulo da entrevista intitulado “Igor Mogne é um indisciplinado: “Houve uma prova de estafeta masculina nos Mundiais da Rússia que não participamos porque um dos atletas, o Igor Mogne, pura e simplesmente não quis nadar bruços. Um atleta daquele nível porque não pode nadar bruços? O Federico (outro seleccionador) teve que retirar Moçambique da prova porque ele não quer nadar bruços. Mas depois, quando chegou a Brazaville pediu para nadar bruços. É um indisciplinado, já em Luanda tinha faltado o respeito a um juiz-arbitro (que percebia português) que lhe chamou atenção e ele responde com insultos. Ele apesar de treinar fora marginaliza muito a selecção”.

Efectivamente, o Igor pediu para não nadar bruços. Bruços é o estilo que ele não nada, nunca o praticou, é o pior estilo dele. Tem e poderia ter melhor rendimento nos estilos que lhe são habituais e nos quais ele se prepara com afinco: costas, livres ou mariposa seriam as melhores opções naquele contexto e esse não foi o entendimento do treinador. No Mundial, o grupo de estafeta não lhe permitiria obter um resultado satisfatório e foi isso que ele tentou contrapor. Não constitui verdade que o Igor tenha nadado bruços em Brazaville.

Constitui uma inverdade de que ele tenha insultado um juiz-arbitro em Luanda. Aconteceu que o Igor pronunciou um palavrão – o que poderia ser compreensível num jovem de 19 anos, embora censurável – e o árbitro que falava português chamou atenção, o que ele acatou imediatamente. Estes são os factos. O treinador Russo não esteve em Luanda e não faz aqui um relato fidedigno do que aconteceu realmente.

Não constitui verdade que o Igor marginalize a selecção. Antes pelo contrário. Contrariamente aqueles atletas que escolhem participar conforme as competições, privilegiando as europeias das africanas, por exemplo, o Igor participa de todas as competições, independentemente se estas decorrem em África, na Ásia ou na Europa.

Convém sublinhar que, muitas vezes, o ónus da participação do Igor recai sobre os pais, que custeiam passagens (sem nunca pedir reembolso – foi o caso de Mundial de Kazan, onde os outros atletas tiveram inclusive direito a ajudas de custos, o Igor não as teve nem reclamou, o que abona a seu favor em relação ao desejo de integrar a selecção, desonerando-a muitas vezes de custos). Aquando dos Jogos Africanos, o bilhete do Igor, disponibilizado pela selecção implicava que ele chegasse no dia das competições, o que seria desvantajoso para ele. Tendo consciência disso, pediu aos pais que pagassem uma antecipação do bilhete para que ele chegasse antes, o que lhe permitiria mais tempo de treinar, concentrar-se e ter uma melhor participação. Isto diz muito da forma como o Igor encara a selecção.

“O treinador da selecção moçambicana também não vê grandes progressos no jovem nadador apesar de estar fora de Moçambique: “O Igor não está a evoluir, ele treina no Sporting (de Portugal) onde também está o angolano Pedro Pinotes que conseguiu uma medalha de prata nos Jogos Africanos. Há dois anos, o Igor estava melhor que o Pedro mas está a ser ultrapassado.”

Factos: Pinote é 7 anos mais velho que o Igor (basta visitar a página do atleta angolano no Facebook), treina em Portugal há muito mais tempo. Contrariamente ao que afirma Eduardo dos Santos, o Igor está paulatinamente a aproximar-se dos valores de Pedro Pinotes, ultrapassando-o em certas provas, como por exemplo 50 livres, 100 livres ou mariposa. Isto são factos e não opiniões, facilmente comprováveis. Os resultados estão online na página da Federação Portuguesa de Natação e podem ser consultados sem dificuldade, nem restrições.

Parecem de todo estranhas estas acusações em relação a um atleta que tudo faz para melhorar a sua performance, com marcas que evoluem em contínuo, com participações em finais importantes, como nos Jogos Africanos, que se impõe o desafio de atingir os mínimos que lhe permitam aceder aos Jogos Olímpicos. Parece justificável que um treinador com a responsabilidade do seleccionador esteja preocupado com estágio da natação e que faça críticas que lhe pareçam oportunas. Mas fazer ataques a jovens atletas, que em muitos casos se socorrem da ajuda dos pais, quer para o seu percurso individual, quer para a sua performance na selecção, é claramente injustificado e injusto. Fica ainda mais estranho o timing escolhido para estes ataques e o facto de, no caso do Igor, ele estar perto de atingir os mínimos para os Jogos do Rio de Janeiro.

Quanto ao nosso papel como pais, afirmamos com orgulho que fazemos tudo o que podemos para o incentivar, participamos de forma material e emocional no seu percurso e não nos parece que isso seja prejudicial. Antes pelo contrário. Até os campeões do mundo têm os pais e/ou familiares próximos a incentivar e isso não constituí um óbice à boa performance dos atletas. Seria estranho que o fosse apenas em relação a atletas moçambicanos, como é o caso de Igor.

* Título de autoria do @Verdade

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