A ilha do Buzo, localizada na cidade de Angoche, em Nampula, está na iminência de desaparecer, devido à acção desastrosa da erosão costeira. O problema não é recente,e já dura há anos. Se medidas de precaução não forem tomadas, com a máxima brevidade possível, as 448 pessoas, congregadas em 88 famílias, que nela residem podem vir a ser arrastadas pela fúria das águas do mar, à semelhança dos 150 agregados familiares desalojados em 2008.
Considerada uma das mais antigas e apreciadas ilhas da região, Buzo dista cerca de cinco milhas (uma milha equivale a mil e quinhentos metros de extensão) da cidade de Angoche.
Em 2008, a ilha foi seriamente assolada por uma tempestade que destruiu total e parcialmente mais de 150 habitações, incluindo uma escola primária, deixando mais de 200 alunos da primeira a quarta classes ao relento e sem outra possibilidade de prosseguirem com os seus estudos. Todas as casas de construção convencional foram arrastadas e as pessoas passaram a utilizar o mangal e as folhas de coqueiros para erguerem os seus abrigos sem quaisquer condições de segurança.
Além da acção ciclónica, a erosão costeira começou a tomar conta da ilha, facto que veio a obrigar o governo municipal, na altura sob gestão do Partido Renamo, a decidir pela retirada de algumas famílias para o seu reassentamento em áreas seguras.
De acordo com Assane Amade, secretário daquele bairro costeiro, o plano de reassentamento das famílias foi materializado, mas cobriu apenas uma minoria, por ter coincidido com o período de mudança de governo, depois das eleições autárquicas de 2008.
Amade recorda-se de ter recebido orientações do Concelho Municipal de Angoche, saído do sufrágio de 2013, segundo as quais as restantes famílias, cujas habitações se situam a menos de 20 metros da costa marítima, seriam transferidas para os bairros de Praia Nova e de Tamole, mas tal decisão não passou de uma simples promessa.
Os líderes tradicionais da Ilha do Buzo mostraram-se agastados com a alegada insensibilidade das autoridades governamentais que, apesar de se aperceberem da situação, nada fazem para salvar a vida daquelas famílias.
“Ficamos mais tristes quando as águas do mar começam a subir”, frisou Sumalige Amisse Chale, um dos líderes influentes daquela ilha, tendo acrescentado que “quando o vento sopra do norte para o sul não conseguimos tomar as nossas refeições à vontade, porque ela fica cheia de areia. Nós estamos aflitos e por isso aguardamos com enorme expectativa pelo projecto de reassentamento”.
Edilidade anuncia plano de retirada coerciva dos reincidentes
O Concelho Municipal da Cidade de Angoche, na pessoa do respectivo presidente, Américo Assane Adamugy, reconhece a gravidade da erosão costeira naquela parcela de terra, cercada pelas águas do mar, tendo, por isso, anunciado o início de uma acção compulsiva de retirada de todas as famílias em situação de vulnerabilidade para o bairro de Tamole-Expansão.
O nosso interlocutor disse que o plano abrange, igualmente, as famílias da Ilha de Nhuluti que vivem nas mesmas circunstâncias.
Para o nosso entrevistado, não faz sentido que as pessoas continuem a residir em zonas propensas a riscos ambientais e, acima de tudo, sem acesso a serviços básicos, como acontece em relação às ilhas do Buzo e de Nhuluti.
População resiste ao reassentamento em defesa dos coqueiros
Nos locais que outrora funcionavam como centros de concentração de embarcações de pesca ou para o transporte de passageiros e de secagem de produtos pesqueiros foram banhados pelas águas do mar.
Alguns edifícios, destruídos pelo ciclone, estão submersos, mas algumas famílias teimam em permanecer na zona, alegando falta de condições económicas. Enquanto os outros, em número considerável, dizem que irão aceitar mudar-se da ilha, caso o governo se comprometa a indemnizá-los pela perda dos seus coqueiros.
Mussa Buana Amade disse que só aceitará abandonar a sua casa para as zonas de reassentamento se o governo “assumir o transporte dos coqueiros” que ele próprio descreve como principal fonte de rendimento dos moradores das 10 ilhas de Angoche, que incluem Quelelene, Iyatá, Catamoio, Yaruba, Maziwane, Mitubane, entre outras.
Entretanto, enquanto não se alcança qualquer consenso entre a população e o governo, a vida está a tornar-se cada vez mais caótica na Ilha do Buzo.
Apenas um fontanário construído por uma congregação religiosa há mais de cinco anos, com água totalmente salubre, constitui a única fonte de salvação. Os ilhéus são obrigados a superar os ventos e atravessar o mar periodicamente em busca de produtos alimentares, com todos os riscos daí resultantes.
A água potável também é trazida de Angoche por pessoas muito diligentes que depois a vendem à população. Quando um membro de uma determinada família contrai uma enfermidade, nada se pode fazer senão recorrer ao médico tradicional mais próximo, ou então chamar o marinheiro para o evacuar para o hospital rural.