O debate que a seguir pretendo levantar já tem barbas brancas e é do conhecimento de todos, mas, estar sempre a falar do mesmo não significa que os destinatários desta mensagem são obrigados a encontrar soluções ou a dar ouvidos, mas, no mínimo, a mensagem terá sido emitida.
Não é novidade para ninguém que o nosso mercado musical é liberal e que apetece a qualquer músico, pois a quantidade de eventos realizados aos fins-de-semana é um exemplo disso. Não preciso de citar nomes; porém, conseguimos ver que os angolanos têm Moçambique como a sua “Casa 2”, conforme alude uma música um dia interpretada por Ziqo e Denny OG.
Somos um país em que os músicos estrangeiros se deslocam para cá para comemorarem os seus anos de carreira, lançamento de CDs, distribuição de autógrafos e até para o lançamento de determinadas marcas por eles inventadas. Tudo isso acontece diante da aparente apatia dos artistas moçambicanos que não lançam nada, nem inovam e tão-pouco comemoram anos de carreira como o fazem os angolanos, pelas razões que todos nós conhecemos.
Não é possível que um músico lance um CD, comemore anos de carreira enquanto ficou muito tempo a cantar só “singles” e sem CD no mercado por falta de editora ou mesmo de recursos.
Os produtores são uma espécie de cogumelos aqui no meu país. A cada dia que surge um novo produtor e mostra a sua pujança convida “os seus”, o que me faz questionar: até que ponto os produtores podem promover a inclusão na promoção de seus eventos?
Está à vista de todos a publicitação de um “mega” evento que vai decorrer nos dias 24 e 25 de Setembro corrente na cidade de Maputo, com a propalada “Team de Sonho” como cartaz. Contudo, não é desta “Team” que quero falar, mas, sim, do nosso “Onze Inicial” que vai entrar em cena no campo de Maxaquene nos dias acima citados.
Olhando para a “Team” que vai representar Moçambique fica claro que houve ali uma escolha de artistas ditos da “nova geração” obedecendo-se a critérios que só os promotores sabem explicar, pois não é audível nem cabe na mente de alguns moçambicanos a ideia de que os músicos como: Neyma, Euridse Jeque, Slim Nigga, DJ Ardiles, Mr. Kuka, Júlia Duarte e Anita Macuácua não façam parte da tal “Team”.
Quando vi os nomes dos convidados para o aguardado evento não duvidei de que eles são a nata da nossa música moçambicana, têm talento e podem muito bem representar-nos, mas ao mesmo tempo fiquei desiludido ao ver que faltam dentre eles alguns nomes que são imprescindíveis à nossa música.
Contudo, tentei colocar-me na posição do promotor do evento, Bang, e cheguei à triste conclusão de que não é possível enquadrar a todos, sem contar com a questão de patrocínio do evento (pela Vodacom e mCel) que é imprescindível para a promoção/exclusão de alguns artistas. E nesse caso a Vodacom é o promotor-mor.
Dito isto, está claro que a nossa “Team” estará desfalcada no seu “onze inicial” e está clara a exclusão dos outros artistas moçambicanos.
Para terminar, não quero com isto culpar o promotor do evento, mas se queremos construir uma sociedade de união e ética cultural devemos quebrar as barreiras de quem nos patrocina e não alinhar os artistas segundo as marcas/nomes de telefonias móveis, porque os angolanos virão a Moçambique como uma “Team” de verdade, e nós estaremos (como sempre) desfalcados e aos murmúrios.
Por Dércio Tsandzana