Se, por um lado, o agente FIFA, Jorge Mendes, é o embaixador do futebol português, por outro, Zuneid Sidat é o comissário da modalidade em Moçambique. O @Verdade apresenta, nesta edição, uma entrevista com o jovem empresário, que agencia a carreira de jogadores como Mexer, Zainadine, Ricardo Campos e Witi, e que tem o sonho de ver os Mambas na fase final do Campeonato Mundial.
@Verdade (@V) – Como e quando entrou no mundo de agenciamento de jogadores?
Zuneid Sidat (ZS) – No passado o meu tio, Shafee Sidat, era agente FIFA e sempre acompanhava a carreira dele. Numa das viagens que fiz a Portugal encontrei-me com um grupo de pessoas que me explicaram como o futebol cabo-verdiano conseguiu desenvolver-se.
Dos 23 jogadores da selecção de Cabo-Verde que estiveram no último CAN, 22 jogam no futebol do velho continente e eu senti que internamente precisávamos de 5 a 10 anos para desenvolvermos o nosso futebol, mas quando se desenvolve o futebol internamente não se pode deixar a selecção órfã de atletas, e para isso é necessário colocar jogadores a evoluírem no estrangeiro. Quanto mais desportistas a jogarem fora de portas melhor para o combinado nacional.
@V – No futebol europeu tem apostado mais no mercado português. Quais são as razões para esta escolha?
ZS – Em Portugal, os moçambicanos são considerados cidadãos nacionais e pode-se fazer um plantel com 20 jogadores moçambicanos. Os desportistas devem ter uma porta de entrada no futebol europeu e a nossa é Portugal porque com a vinda de técnicos estrangeiros ao Moçambola o futebol que é praticado no país assemelha-se ao praticado em Portugal. Com a língua e a semelhança do futebol, o atleta tem dois a três anos para dar um salto, ao contrário do que ia acontecer se um jogador emigrasse para o futebol italiano onde tinha que se adaptar primeiro à língua.
“MFS e Nacional da Madeira: um casamento perfeito”
@V – O Nacional da Madeira tem sido a ponte de entrada dos jogadores moçambicanos no futebol europeu. Porquê o Nacional e não outros clubes?
ZS – Durante dois anos lutei para que nos abrissem as portas e até chegámos ao ponto em que chegámos. No presente tenho clubes que me ligam a pedir jogadores e não posso esquecer que isso é graças à hospitalidade do Nacional da Madeira. Quanto mais tiver jogadores com qualidade para entrarem no futebol europeu a primeira escolha será o clube insular. O Nacional está feliz e nós também. O Manuel Machado já é um conhecedor do futebol moçambicano.
@V – Os Mambas iniciaram no passado mês de Junho mais uma campanha de qualificação para o CAN e na primeira jornada foram derrotados, em pleno Estádio Nacional de Zimpeto, pelo Ruanda. Face a este desaire, ainda acredita num possível apuramento?
ZS – É muito difícil porque para uma possível qualificação tínhamos de vencer o Ruanda e as Ilhas Maurícias em casa na primeira volta. Na segunda, era imperioso derrotar as Ilhas Maurícias fora de portas e, no mínimo, empatar com o Ruanda. A partir de uma altura em que perdemos em casa com os ruandeses é muito difícil chegarmos ao CAN, ou seja, começámos uma campanha com um treinador que perdeu e foi afastado. O próximo seleccionador vai receber um presente envenenado e não se pode pedir o apuramento. Com esta derrota Moçambique é obrigado a triunfar num dos jogos com o Gana.
“Há dinheiro no futebol moçambicano”
@V – Como é que olha para o futebol moçambicano no presente?
ZS – O futebol moçambicano tem um potencial que ainda não está a ser explorado. Olho para os orçamentos da Federação Moçambicana de Futebol, da Liga Moçambicana de Futebol e dos clubes, e vejo que há dinheiro no futebol, mas falta aos grémios vontade de apostar na formação de jogadores. Nós temos um défice nas camadas jovens e é preciso que os clubes apostem nessa área. Por seu turno, a federação devia obrigar os clubes a investir nos jovens. Temos que deixar de olhar para o presente e trabalhar com os olhos postos no futuro.
No passado ganhávamos por uma diferença de cinco a seis golos à Suazilândia, mas no presente vencemos pela margem mínima porque, enquanto os outros caminham para a frente, nós continuamos estagnados.
@V – Disse que o nosso futebol continua estagnado. A vinda de treinadores estrangeiros nada mudou no nosso futebol?
ZS – A vinda de técnicos estrangeiros trouxe-nos outra abordagem táctica. Quando disse que estamos estagnados era a nível da formação. É inaceitável um técnico estrangeiro começar o treino com o ensaio de passe e recepção de bola, porque os atletas saem tortos da formação.
@V – O novo elenco da Federação Moçambicana de futebol que saiu das eleições do dia 13 de Agosto terá como primeira missão contratar um treinador para comandar a equipa técnica dos Mambas. Na sua concepção devia-se apostar num treinador estrangeiro ou continuar a acreditar em técnicos nacionais?
ZS – Isso não tem nada a ver com o estrangeiro ou o nacional, mas sim com a competência. O próximo seleccionador nacional dever ser uma pessoa idónea e, acima de tudo, conhecedor do futebol moçambicano. Não sou apologista de seleccionadores holandeses e alemães, mas sim de treinadores que falam a mesma língua que a nossa, ou seja, brasileiros e portugueses.