Alberto Simango Júnior venceu, com goleada, a eleição para dirigir o futebol moçambicano até 2019. Garantiu, na tomada de posse na segunda-feira (24), que vai cumprir as suas promessas que passam pela formação de atletas e de gestores, levar o futebol federado a mais distritos e lutar pela verdade desportiva. Embora o novo presidente da Federação Moçambicana de Futebol (FMF) diga ser um homem do futebol tem também muito papo, mais ainda do que os dois políticos experientes que derrotou no escrutínio, pois prometeu não só apurar os “Mambas” para os Campeonatos das Nações Africanos, regularmente, como também ao Campeonato Mundial de 2018.
“Desportistas e amantes de futebol disse durante a campanha eleitoral e reitero aqui que sou um homem do futebol e que cumpre com a sua promessa. O manifesto eleitoral será completamente cumprido, porque só assim honrarei a confiança que os moçambicanos depositaram em nós por via do voto das Associações Provinciais, mas antes de tomarmos qualquer decisão, precisamos de conhecer a casa do futebol e nos inteirarmos de todos os dossiers”, afirmou Simango no discurso da posse. Com a experiência que traz da gestão profissional do Campeonato Nacional o novo presidente da FMF pretende formar mais e melhores novos jogadores e para consegui-lo propõe-se levar “para todas as províncias do país os cursos direccionados aos treinadores dos escalões de formação alargando assim a base para que todos sejam abrangidos por esta acção e, ao mesmo tempo, estaremos a reduzir os custos de deslocação para a cidade de Maputo para adquirir conhecimentos”, e aposta também na formação dos gestores dos clubes e das associações províncias e distritais para que sejam capazes de “tornar o futebol uma indústria financeiramente rentável”.
Vários clubes federados, alguns mesmo considerados grandes como o Desportivo de Maputo ou o Textáfrica do Chimoio, enfrentam grandes dificuldades financeiras para se manterem em competição. Esperamos para ver as medidas que Simango vai colocar em prática, além da formação dos gestores dos clubes e das associações províncias e distritais, para materializar a sua promessa de “tornar o futebol uma indústria financeiramente rentável”.
Se é verdade que durante os dois mandatos na Liga de Clubes Simango tem o mérito de ter equilibrado a representatividade nacional no Moçambola a realidade é que mais de um terço dos clubes que disputam as principais provas é de Maputo e a inclusão de clubes de cada uma das províncias através das poules é limitada, por isso o “incremento do espírito de unidade nacional” terá de ser concretizado de outra forma.
Verdade desportiva e “Mambas” no “Mundial”
O novo presidente da FMF enfatizou na sua campanha, e na posse, o seu “compromisso para com a verdade desportiva” afirmando que “(…) Lutaremos com todas as energias para que os actores do futebol em Moçambique se sintam confortáveis com a arbitragem combatendo todas as práticas que possam existir e que firam a verdade desportiva”. Ora não tem havido jornada do Moçambola, gerido durante 8 anos por Alberto Simango Júnior, sem que existam resultados com influência dos juízes da partida. O novo timoneiro do futebol tem de de apresentar medidas claras para credibilizar os resultados e assegurar “que o vencedor de qualquer jogo de futebol em Moçambique seja o clube que tenha jogado mais e melhor que o seu adversário”.
“Tudo o que estamos dispostos a fazer no próximo quadriénio é para que o futebol moçambicano reafirme a sua força em África e no mundo, mas esta ambiciosa meta só será atingida depois de uma profunda reestruturação”. Este discurso de Simango não é verdadeiro, pois o futebol moçambicano nunca teve força no nosso continente e muito menos no globo.
Assegurar a presença da selecção nacional de futebol em Campeonatos das Nações Africanas (CAN) é o mínimo que o novo timoneiro da FMF deve fazer e o seu elenco. Contudo, a promessa de apuramento para o “Mundial” da Rússia em 2018 é um sonho, que Simango não está impedido de ter, mas convenhamos que não é realista.
Embora os “Mambas” não tenham obtido bons resultados na campanha de qualificação para o CAN do próximo ano no Gabão, perderam na 1ª jornada em Maputo com o Ruanda, Alberto Simango Júnior preferiu não mexer na equipa técnica da selecção principal, liderada por Mano-Mano, pelo menos até ao jogo do dia 6 de Setembro com as Ilhas Maurícias, para a 2ª jornada do grupo H.
“Vamos preparar este jogo com o devido cuidado para que a equipa de todos se apresente condignamente dando continuidade ao trabalho iniciado pelos nossos antecessores. Nesse sentido, sentimos que já verificámos as tarefas por executar durante o nosso mandato”, afirmou o presidente da FMF durante a sua posse sem esclarecer as acções a que se refere.
A selecção de futebol de Moçambique, além do apuramento para o CAN de 2017, vai enfrentar em Outubro a Zâmbia por um lugar no Campeonato Africano das Nações para jogadores não internacionais (CHAN) que vai ter lugar em 2016 no Ruanda. Em Novembro os “Mambas” têm agendado um confronto com o Gabão, o início da corrida à fase final do “Mundial” 2018.
Jogadores, treinadores e dirigentes esperam que Simango inicie uma nova era
“O nosso futebol precisa de ser reestruturado em todas as áreas, mas no presente o sector da arbitragem é que deixa muito a desejar. Espero que o elenco que vai tomar posse trabalhe arduamente para devolver a credibilidade que tanto faltou ao nosso pobre futebol nas últimas épocas”, começou por declarar Artur Semedo, conceituado treinador moçambicano e um crítico acérrimo do estado em que está o futebol nacional, que acrescentou ainda que “se não fossem as perseguições que nos foram feitas por certas individualidades desde o início da época a minha equipa (o HCB do Songo) estaria a lutar pelo título do Moçambola”.
Dário Chissano, jogador do Chibuto FC, disse ao @Verdade ter expectativas de que o novo elenco da FMF reestruture o sector da arbitragem que nas últimas épocas tem roubado o protagonismo dos atletas. “Há muito que clamávamos pelo socorro no que toca à arbitragem, espero que o novo timoneiro da Federação Moçambicana de Futebol faça as mudanças nesse ramo que nas últimas épocas deixou muito a desejar.
“Primeiro temos que ser uma certeza no Campeonato Africano das Nações em Futebol e depois lutaremos por um lugar no Campeonato do Mundo. Espero que nos próximos anos o presidente eleito e o seu elenco cumpram o que prometeram aos moçambicanos”, declarou ao @Verdade Vítor Miguel, presidente da Associação de Futebol da Cidade de Maputo.
“No que toca à violência nos recintos desportivos o nosso futebol deixa muito a desejar. Os adeptos, jogadores e dirigentes devem saber que os estádios não foram construídos para serem ringues de boxe mas sim para se jogar futebol. Espero que o novo presidente da FMF crie mecanismos para acabar com essa vergonha”, reagiu Elias Vilanculos, jogador do Ferroviário de Nacala, sobre a eleição de Alberto Simango Júnior.
“Como desportista e amante do futebol espero que o novo elenco trabalhe para o desenvolvimento da mesma forma que trabalhou a anterior direcção, sobretudo na formação de atletas”, referiu o antigo internacional moçambicano Nelinho.
O presidente do Estrela Vermelha de Maputo esclareceu que os clubes vão exigir que as promessas feitas durante a campanha eleitoral sejam cumpridas na totalidade. “Aguardamos que a nova direcção trabalhe com todas as colectividades com o propósito de levar o futebol moçambicano a um bom porto” afirmou.
Chiquinho Conde disse ao @Verdade que aguarda que se abra uma nova página na modalidade. “Terminou um ciclo no futebol moçambicano em que as pessoas que estavam à frente fizeram o seu melhor em prol do desenvolvimento da modalidade. Eu e muitos moçambicanos esperamos que se abra uma nova página no nosso futebol e que haja imparcialidade em todos os aspectos, sobretudo no sector da arbitragem”, disse o treinador do Maxaquene.
Tudo indica que o sétimo presidente da Federação Moçambicana de Futebol – depois de Ferdinando Wilson, Manuel Jorge, David Comé, Mário Guerreiro, Mário Coluna e Faizal Sidat -, não era o candidato da continuidade, portanto espera-se que rompa com todos os problemas e vícios, mais do que conhecidos, de que enferma o desenvolvimento do futebol em Moçambique.