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SELO: Manhãs de “chapa” – Por Euclides Da Flora

As manhãs, as tardes e as noites dos citadinos de Maputo têm sido um autêntico martírio devido a batalhas que eles travam para tomar o transporte semicolectivo de passageiros, vulgo “chapa”.

Filas longas nas paragens, poucos autocarros para responder à demanda, muita luta para conseguir um lugar nos poucos transportes existentes é o dia-a-dia de milhares cidadãos. Entre os empurrões, as cotoveladas, as agressões à moral, os citadinos tentam tomar o transporte num cenário em que a lei de selecção natural reflecte, pois na batalha por um lugar no “chapa” vence o mais forte, habilidoso e esperto.

A moral cai no abismo na hora de se tomar o transporte, ninguém respeita os idosos, nem os deficientes físicos e tão-pouco as mulheres grávidas. Estes todos, que deviam merecer respeito e cuidados redobrados, ficaram dependentes da ”caridade”, um vocábulo lindo mas que nem sempre existe na linguagem dos passageiros, dos motoristas e dos cobradores de “chapa”.

Dormir 8 horas na cidade de Maputo só sonhando. O descanso durante este período de tempo passou a ser uma miragem porque os citadinos já estão nas paragens a suplicar pelo transporte para se dirigirem aos seus destinos antes do galo cantar.

O dilema do transporte é gritante de tal sorte que os citadinos de Maputo aprenderam, como alternativa, a usar um transporte improvisado e inseguro, as carrinhas de caixa aberta, vulgos “my love”. Dentro destes meios circulantes, entre abraços e amassos os passageiros apoiam-se até chegarem aos seus destinos. Os citadinos são transportados como gado sob o olhar do Governo. As autoridades competentes só lamentam, mas não envidam esforços para resolver o problema.

Já nos postos de trabalho, os citadinos exercem as suas actividades frustrados devido às condições desumanas a que são submetidos durante as viagens de ida ao serviço e de regresso. É inaceitável que em pleno século XXI na capital do país, ou seja, na cidade administrativa, as pessoas sejam transportadas em “my love”. O que se passa, afinal? Quais são as prioridades do Governo em relação a este problema?

No ano passado, a Casa do Povo (Assembleia da República), dominada pela bancada parlamentar do partido no poder, aprovou, em parceria com o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), um conjunto de regalias milionárias para o Presidente da República, para a presidente da Assembleia da República e para os deputados. Este acto vergonhoso e imoral simboliza a decadência do cumprimento das aspirações do povo. Os políticos não estão disponíveis para aprovar políticas públicas que ajudem o povo que lhes elegeu a sair desta situação.

Os dirigentes deste país desfrutam de boas condições de vida. Afinal, o papel dos governantes não é servir a população? Mas na prática isso não acontece! O povo que se vire! Os citadinos clamam por boas infra-estruturas sociais, tais como escolas, hospitais, estradas, habitação e até do emprego. Mas nem os problemas enfrentados nestas áreas deixam de atiçar a apetência dos governantes pelas mordomias.

Aos dirigentes confiados pelo povo para dirigir este país, aconselho que parem de olhar para os seus próprios umbigos e comecem aprestar atenção redobrada nos problemas da população que vive a murmurar devido a tamanha indignação.

Por Euclides Da Flora

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