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“Matequenha” assola cidade de Nampula e Nacala-Porto

Mais de 500 doentes, dos quais 25 em estado grave, estão em tratamento médico contra tunguiase, vulgarmente conhecida por “matequenha”, uma doença causada por uma pulga denominada “tunga-penetras”, que ataca bastante a planta dos pés e que se alimenta do sangue do homem, em várias unidades sanitárias da cidade de Nampula.

O problema está a ganhar contornos alarmantes. A pulga alastra-se de forma assustadora na cidade de Nampula e em alguns distritos daquela província nortenha, com destaque para Mossuril e Nacala-Porto, onde quase anualmente a situação repete-se. Neste último distrito, a doença já causou três mortes.

Geralmente, os pés, concretamente ao redor das unhas e nos calcanhares, são as zonas mais infectadas a forma de manifestação é a comichão e irritação no local do, ao que se segue a dor e o pus.

Os bairros de Namutequelia, Muatala, Muhala, Muahivire são, entre vários, os mais flagelados pela doença na cidade de Nampula, onde alguns doentes encontram-se internados no Hospital Central de Nampula (HCN) devido à gravidade do seu estado de saúde.

Marcos Manuel e José Saide, de 12 e 13 anos, residentes no bairro de Muatala, são apenas alguns exemplos entre vários doentes que padecendo de matequenha. Eles alegam que contraíram a enfermidade de seus vizinhos, que também sofrem do mesmo problema.

Os dois adolescentes estão com os dedos dos pés cheios de ferida, o que faz com que se locomovam com dificuldade. “Quando a doença começou eu sentia comichão nos dedos dos pés. Dias depois surgiram feridas e fortes dores. Fui aconselhado a usar petróleo mas cada dia que passava as dores intensificam-se. Estou com medo de ficar sem dedos”, disse Marcos.

Buanamate Sérgio, de 32 anos de idade, desempregado e pai de três filhos, morador do bairro de Muahala, concretamente na região de Naloko, também padece de “matequenha” e não sabe como ficou contaminado. Ele também tem recorrido a petróleo para combater a doença mas tal procedimento não surte nenhum efeito.

“Já faz uma semana que sofro desta doença e não consigo me locomover nem para o hospital. Usei petróleo e baygon mas não vejo melhorias”, referiu Buanamate.

Para além destes doentes, informações não confirmadas pelas autoridades indicam que no Centro de Formação de Nacucha, no distrito de Mossuril, província de Nampula, mais de uma centena de alunos está a beneficiar de tratamento por ter contraído a “matequenha”.

Por sua vez, a médica-chefe de saúde em Nampula, Maria da Dores, referiu que são muito poucos os doentes que padecem desta enfermidade e que procuram o tratamento médico. Eles optam por um terapia caseira, o que facilita a propagação da “matequenha”, uma vez que é contagiosa.

Segundo Maria da Dores, a situação está a ganhar contornos alarmantes pelo facto de os doentes usarem métodos não apropriados para eliminarem a pulga. Há por exemplo, gente que recorre ao petróleo e outros meios alternativos, porém, paliativos, para tentar matar a tunguiase.

A nossa interlocutora disse que a doença surpreendeu as autoridades de saúde de Nampula, porque raramente ela eclode a esta altura do ano, mas, sim, no tempo de florescimento das mangueiras para dar frutas e escassez de chuvas. “Exige-se mais vigilância no seio da população”.

Para além disso, o orçamento dos hospitais para o presente ano não incluiu uma verba para a aquisição de medicamentos de prevenção e combate a “matequenha”. “Estamos a trabalhar em coordenação com o Conselho Municipal para encontrarmos formas de inverter o cenário”, disse a médica chefe.

Enquanto isso, o sector da saúde mobilizou vários organizações da sociedade civil, como é o caso da Cruz Vermelha de Moçambique (CVM), para disseminar nos bairros as mensagens sobre o perigo desta enfermidade, sobretudo os mais vulneráveis.

Refira-se que a “matequenha” já assolou igualmente a Ilha de Moçambique e os postos administrativos do distrito de Nacala-a-Velha.

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