As operações na mina de areias pesadas de Moma, na província de Nampula, estavam paralisadas desde a noite desta segunda-feira (22) até ao fecho da nossa edição de terça-feira (23), devido a uma greve desencadeada pelos empregados que contestam os cortes nos subsídios e exigem a redução da carga horária de trabalho, de 48 para 45 horas. Um cidadão afecto àquela empresa tentou distanciar-se da inquietação dos colegas e foi brutalmente espancado pelos mesmos, tendo sido imediatamente transferido para o Hospital Rural de Moma, onde se encontra sob cuidados médicos intensivos por causa da gravidade dos ferimentos.
A greve começou por volta das 19h00. Segundo os funcionários, a direcção daquela companhia, que sofre greves constantes, diminuiu, deliberadamente, de 61% para 20% o subsídio nos seus salários, alegadamente porque a firma estava a acumular prejuízos em virtude do desembolso de tais montantes a favor dos seus funcionários. Os grevistas fincam o pé e afirmam que não vão recuar até que a empresa se pronuncie sobre o assunto e reponha a ordem.
Um dos representantes do Comité Sindical da Kenmare disse ao @Verdade que a paralisação das actividades resulta do facto de se ter descoberto, na segunda-feira (22), através das folhas de vencimentos referente ao mês de Junho corrente, que o subsídio pelo trabalho nocturno tinha sido reduzido sem explicações nenhumas. A situação causou um grande desconforto nos empregados, que se explicam: “Decidimos paralisar os trabalhos para exigir os nossos direitos”.
Segundo o nosso interlocutor, a questão das deduções já tinha sido debatida com o patronato e afastou-se essa hipótese face à recusa das pessoas que seriam lesadas. “Trata-se de um assunto encerrado, uma vez que houve muitas discussões entre a empresa e o comité sindical (…)”.
No passado, o subsídio em causa estava fixado em 61% sobre o salário base de cada trabalhador que observava o regime de turnos, mas o valor foi “reduzido para 20% sem ter havido nenhuma comunicação. Isso é uma injustiça”, disse o nosso entrevistado, que esclareceu que, em consequência do corte da referida subvenção, os empregados exigem que a direcção da Kenmare elimine o turno da noite.
“Queremos que se estabeleça um único horário de trabalho, que é das 07h00 às 15h00, e que se eliminem os turnos das 15h00 às 23h00”, bem como o das “23h00 às 07h00”, anotou a nossa fonte.
Na terça-feira (23), o Comité Sindical dos Trabalhadores da Kenmare reuniu-se com os gestores daquela companhia para se discutir o problema, mas não houve nenhum consenso. As matérias arroladas no encontro carecem da deliberação dos superiores hierárquicos que se encontram na Irlanda, segundo fez saber o nosso interlocutor.
Na sequência desta manifestação, a Polícia, que foi chamada para o local com vista acalmar os ânimos, envolveu-se em escaramuças com os grevistas quando pretendia proteger um trabalhador agredido pelos colegas.
Edon Chale, superintendente dos Recursos Humanos da Kenmare e indicado pela empresa para chefe nas negociações em representação da multinacional, negou falar à nossa Reportagem sobre o assunto. Ele alegou que não tinha autorização para prestar declarações à Imprensa e remeteu-nos ao seu colega da área de comunicação e imagem, o qual não foi possível contactar.
Recorde-se de que esta é a segunda greve que os trabalhadores da Kenmare em Moma observam este ano, sendo que a primeira teve lugar em Maio último, devido ao despedimento de 161 funcionários moçambicanos.