A venda de refeições nas diferentes artérias da cidade de Nampula é uma prática que tende a persistir e a crescer a olhos vistos, pecando, por um lado, por ser maioritariamente desenvolvida em lugares impróprios, sobretudo nas proximidades dos depósitos de resíduos sólidos, e por estar a contribuir para a contínua degradação da imagem urbanística, por outro lado.
A venda de comida confeccionada em moldes rudimentares nas ruas da cidade (a chamada capital do norte) começou junto das terminais e os principais alvos eram os passageiros que para os tais locais se dirigiam à procura de transporte com destino a diferentes pontos da província e do país. Sob o olhar impávido de quem de direito, a actividade foi ganhando outro figurino a ponto de, a dada altura, se confeccionarem vários tipos de pratos, desde o frango grelhado ou guisado até ao peixe de várias espécies, acompanhados de xima ou arroz, mandioca, salada de repolho e de alface, além de vários tipos de petiscos ao gosto do cliente.
Nos dias que correm, aquele tipo de negócio passou a ser considerado como a “tábua de salvação” para muitos trabalhadores, com destaque para os de baixa renda, que passaram a encontrar naqueles pontos a solução para a refeição sempre necessária a meio da jornada de trabalho.
Atraídas pelo sucesso que aquela actividade foi conhecendo, mulheres de todas as idades, em número considerável, incluindo alguns rapazes, foram aderindo, procurando, sempre que possível, diversificar o menu com o propósito de atrair mais clientes. Algumas mulheres, que se encontram em maior número nesta actividade, trazem as comidas já preparadas das suas casas e condicionadas em recipientes plásticos.
Como consequência desta concorrência desleal, as medidas de higiene foram relegadas para último plano e algumas ruas e avenidas transformaram-se em autênticos centros de concentração de restos de comida e de águas estagnadas.
Os munícipes, particularmente aqueles que, com frequência, passam as refeições nessas esquinas, contestam a situação, mas revelam que não têm outra alternativa senão continuar a comer naqueles locais porque, segundo as suas afirmações, o que conta é o preço aplicado por cada prato, que normalmente varia entre 15 e 50 meticais.
Conforme constatou a nossa equipa de Reportagem, para além de ser praticado junto dos contentores de lixo e debaixo das acácias banhadas de urina, o comércio de refeições propicia a multiplicação de ratos, baratas, moscas e outros insectos nocivos à saúde pública.
Vendedoras e consumidores conformados com a realidade
O @Verdade ouviu alguns consumidores que, apesar de reconhecerem o impacto negativo daquele tipo de prática, se mostram conformados com a realidade.
António Mapenga e Francisco Mário, de 27 e 29 anos de idade, respectivamente, e vendedores ambulantes de discos e cremes, disseram à nossa Reportagem que o risco à saúde é cada vez mais iminente porque as pessoas que praticam aquele negócio deixam o lixo que produzem a céu aberto e próximo dos locais onde regularmente desenvolvem as suas actividades.
“Reconhecemos os riscos, mas não temos alternativa, visto que a maioria de nós, vendedores ambulantes, vive em zonas afastadas da urbe e passa o tempo a vender, para além dos preços praticados pelas senhoras, que são relativamente baixos”, explicaram.
Entretanto, as vendedeiras reconhecem estar a desenvolver este tipo de comércio em locais onde reina a imundície, mas argumentam afirmando que é através desse negócio que elas conseguem alimentar as suas famílias e cobrir outras despesas.
Rosa Abudo, de 39 anos de idade e mãe de três filhos, é vendedeira informal da estacão ferrovia, vulgo CFM, e revelou que prepara refeições para vender, mas no local onde trabalha tem muito lixo acumulado diariamente por outras pessoas envolvidas no mesmo negócio; porém não tem como sair do local por ser um dos sítios de maior concentração de pessoas.
A nossa interlocutora deu a conhecer ainda que é com base naquela actividade que consegue sustentar sua família e custear os estudos dos seus filhos.
“É verdade que nós preparamos e vendemos a comida convivendo com o lixo. Por isso, alguns clientes desistem de passar as refeições quando examinam a situação no local e vêm que estão a colocar em risco a sua saúde”. Eu não posso parar de exercer a actividade porque meus filhos dependem da mesma”, rematou Rosa.
Ana Alberto, de 25 anos de idade, outra vendedeira de comida confeccionada que aceitou prestar declarações à nossa Reportagem, também deplorou as condições que o local onde pratica a actividade apresenta, mas diz não encontrar uma outra actividade tendente a garantir a sobrevivência da sua família.
Edilidade sem alternativas
O Conselho Municipal de Nampula, na pessoa do respectivo presidente, Mahamudo Amurane, reconhece a proliferação de vendedores informais nas ruas da urbe, mas diz não haver outra alternativa, uma vez tratar-se de grupos vulneráveis e que dependem de pequenos biscates para a sua sobrevivência.
Por diversas vezes, o edil de Nampula foi confrontado com críticas relativas à ocupação de passeios para a prática o chamado “comércio de esquina”, tendo garantido que a situação tem os dias contados.
A venda de comida confeccionada em plena via pública ocorre numa altura em que a cidade continua fustigada por doenças diarreicas.