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Ladrões de cornos de rinocerontes são mesmo polícias e traficantes estrangeiros soltos escapam

Ladrões de cornos de rinocerontes são mesmo polícias e traficantes estrangeiros soltos escapam

ArquivoConfirma-se que quatro dos seis detidos em conexão com o roubo de parte dos cornos de rinocerontes, apreendidos num condomínio luxuoso no município da Matola, são membros da Polícia da República de Moçambique. Em liberdade, sob fiança, estão dois traficantes norte-coreanos detidos no passado dia 3 de Maio.

Calisto, inspector da PRM que também era chefe da brigada da Polícia de Investigação Criminal (PIC); Faustino Artur, inspector principal da PRM; Victor Luís Arone, subinspector da PRM; Tadeu Gaspar, sargento da PRM; e também Elias Matusse, afecto na Direcção Provincial de Terra Ambiente e Desenvolvimento Rural na Província de Maputo, são as “pessoas a quem foi confiada a missão de proteger” os 65 cornos de rinocerontes apreendidos no passado dia 12 de Maio que, no dia 22 do mesmo mês, abriram as portas do local “seguro” e roubaram 12 cornos.

Os cinco indiciados estão detidos, segundo o porta-voz do Comando-Geral da PRM, Pedro Cossa, desde 26 de Maio último, na 6ª esquadra no município da Matola, província de Maputo, com dois civis, também relacionados com o roubo, identificados pelos nomes de Zefanias Aurélio e John Chaúque.

Embora Pedro Cossa afirme que “nada justifica”, o roubo, a verdade é que o envolvimento de membros das autoridades policiais na caça furtiva e no tráfico dos troféus não é novidade em Moçambique.

Cumplicidade antiga

Em 2012 guardas florestais do Parque Nacional das Quirimbas relataram ao @Verdade que os caçadores furtivos que capturavam e entregavam às autoridades policiais eram soltos no dia seguinte.

“As autoridades governamentais e a Polícia não agem em grande parte por conforto, e arrisco-me a dizer, também por cumplicidade”, relatou-nos Amade Cause, um dos guardas florestais.

Em Novembro de 2014, dois cidadãos moçambicanos, identificados pelos nomes Paulo Nyenje e António Bernardo, acusados de caça ilegal de elefantes fugiram das celas do Comando Distrital da Polícia no distrito de Mecula, na província do Niassa, onde estavam detidos depois de serem apanhados na posse de cinco armas (três do tipo AK-47 e duas espingardas de caça) e munições.

Na mesma altura foram apreendidos no Aeroporto Internacional Oliver Tambo, na África do Sul, 34 chifres de rinoceronte na posse de dois cidadãos que partiram do Aeroporto Internacional de Mavalane na capital moçambicana. As autoridades policiais e alfandegárias até hoje não explicaram como foi possível que os seus homens não tivessem visto estes chifres com todos os meios modernos de fiscalização disponíveis no aeroporto.

Onde param os chineses detidos

No briefing desta terça-feira (02), o porta-voz da PRM não fez nenhuma menção ao paradeiro do cidadão chinês que foi detido pela Polícia na posse não só dos 65 cornos de rinocerontes mas também com 340 pontas de marfim.

Um segundo cidadão de nacionalidade chinesa foi detido no dia 13 de Maio, um dia depois desta apreensão (considerada a maior sempre em Moçambique), quando tentava subornar agentes da PRM com 1,2 milhão de meticais, após apresentar-se na esquadra como enviado da Embaixada da China, para facilitar a fuga do seu compatriota. Pedro Cossa não disse nada sobre esta detenção.

Contudo, o porta-voz da Polícia moçambicana assegurou que os 12 cornos roubados foram recuperados, mas não revela onde se encontram guardados, referindo que estão em lugar seguro. Não é muito transparente esta atitude da PRM em esconder à Imprensa o local onde estão guardados os cornos e os marfins apreendidos, principalmente tendo em conta que atitude similar resultou no roubo ora desvendado.

Traficantes estrangeiros soltos escapam

Entretanto, as autoridades judiciais moçambicanas libertaram, mediante o pagamento de fiança, dois cidadãos norte-coreanos que no princípio de Maio passado foram detidos em Maputo por tráfico de cornos de rinocerontes, encontrados no porta-malas do carro em que se faziam transportar.

Um dos visados, que responde pelo nome de Pak Chol Chun, é um diplomata norte-coreano que trabalha na embaixada de Pyongyang na África do Sul, e o segundo suspeito foi identificado como mestre de taekwondo, Kim Jong Su.

Orlando Mudumane, o porta-voz da PRM na cidade de Maputo, confirmou à Voz da América que os dois estrangeiros acusados de tráfico foram presos, mas mais tarde restituídos à liberdade sob fiança no valor 30 mil dólares norte-americanos.

Segundo a agência de notícias Yonhap, após a libertação os dois cidadãos norte-coreanos deixaram Moçambique com destino à África do Sul por via terrestre.

A agência noticiosa, citando um porta-voz da embaixada da Coreia do Sul na África do Sul, refere que Pak Chol Chun e Kim Jong Su são visitantes frequentes de Moçambique onde adquirem troféus de animais selvagens caçados ilegalmente.

Segundo o Informe da Procuradora Geral da República, ao Parlamento, a caça furtiva agravou-se nas províncias de Maputo, Gaza, Manica, Sofala e Niassa onde os criminosos usam armas de fogo e viaturas de grande cilindrada na caça e abate de espécies protegidas, tais como rinocerontes e elefantes para serrarem os cornos e marfins visando a sua comercialização.

Beatriz Buchili não indicou quantas pessoas foram julgadas e condenadas, por que crimes e a que penas. Não há referência a detenções dos líderes da caça furtiva nem dos “chefões” do tráfico.

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