Não será num estádio relvado nem haverá bola, mas é sem dúvidas uma final aguardada pelos amantes do futebol: é a eleição do presidente da Federação Internacional das Associações de Futebol (FIFA). Joseph Blatter, que concorre a um quinto mandato, enfrenta Ali bin al Hussein, um Príncipe da Jordânia desconhecido mas que encarna a esperança de um futuro de renovação para o futebol.
Blatter, de 79 anos de idade, preside a FIFA há 17 anos, já lá estava há 23 anos, primeiro como director-técnico, depois como secretário-geral. “Um ditador”, segundo Diego Maradona, que “conseguiu garantir apoio ao longo dos anos graças a favorecimentos pouco éticos” e, escreve a lenda argentina num artigo de opinião publicado no The Telegraph, que transformou o futebol num “recreio para corruptos”.
Nas primeiras eleições para a presidência da FIFA a que concorreu, em 1998, frente ao sueco Lennart Johansson, na altura presidente da UEFA, Blatter ganhou na primeira ronda de votação 111-80 e o sueco concedeu a vitória ao suíço, apesar da suspeita de compra de votos. As eleições de 2002 foram ainda mais fáceis para Blatter, com um esmagador 139-56 frente ao camaronês Issa Hayatou (que entretanto se tornou um aliado de Blatter e que também foi, em 2011, envolvido em alegações de compra de votos na atribuição do Mundial 2022 ao Qatar). Em 2007 e 2011, Blatter foi o único a ir a votos, sendo que, em 2011, beneficiou da desistência do qatari Mohammed bin Hamman, também envolvido em acusações de corrupção.
“Existe uma admiração doentia em relação a Sepp Blatter, semelhante à que existe em relação a um velho chefe da máfia que, de alguma forma, conseguiu evitar ir para a cadeia” escreveu Maradona ainda antes de serem conhecidas as acusações de corrupção que conduziram à detenção de sete dirigentes da FIFA, actuais e antigos, mas o raide das autoridades poderá não ficar por aqui naquele que é o maior escândalo nos 111 anos de história da organização que gere o futebol mundial.
O mote para as detenções, segundo o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, é um alegado esquema de corrupção entre dirigentes do organismo e empresas de marketing desportivo. Uma rede que dura há cerca de 20 anos, que se estendeu ao “Mundial” da África do Sul e cuja investigação levou à formalização de acusações de burla e corrupção contra 14 pessoas, contabilizando os executivos dessas firmas.
Loretta Lynch, procuradora-geral dos EUA, alude a uma prática de “corrupção que é galopante, sistémica e enraizada. Envolve pelo menos duas gerações de responsáveis futebolísticos, que abusaram das suas posições de confiança para adquirirem milhões de dólares em subornos”.
Este é, porém, apenas um dos processos em curso. Uma segunda investigação foi iniciada para averiguar suspeitas de ingerência e lavagem de dinheiro nas organizações dos próximos “Mundiais” de futebol, em 2018, na Rússia, e em 2022, no Qatar.
Tanto o Qatar como a Rússia negaram quaisquer insinuações de irregularidades, e o Presidente russo, Vladimir Putin, acusou os EUA de interferirem na tentativa de evitar um novo mandato para Blatter. “Esta é mais uma flagrante tentativa de estender a sua competência a outros Estados”, disse Putin, acrescentando que a Rússia continua a apoiar a reeleição de Blatter.
Para além deste apoio de peso o suíço tradicionalmente reúne o apoio da Confederação Africana (56 membros) e de grande parte da Confederação Asiática (47), entre outros votos dispersos.
Enquanto a Confederação Europeia, através do seu presidente Michel Platini, pediu a renúncia de Blatter e o adiamento da eleição, as Confederações Africana e Asiática manifestaram-se contra o adiamento.
Moçambique, através do presidente da Federação de Futebol, Faizal Sidat, também afirmou estar contra o adiamento. Em entrevista por escrito, Sidat, que está na Suíça para participar do Congresso, defendeu a eleição desta sexta-feira “porque os dois candidatos não estão na berlinda”. Ele não vê nenhum inconveniente em Blatter manter-se na corrida, apesar deste escândalo de corrupção.
Joseph Blatter, nesta quinta-feira, na abertura do Congresso da FIFA em Zurique, afirmou que a turbulência dos últimos dias causou “vergonha e humilhação” ao futebol mundial.
“Os eventos de ontem eclipsaram o futebol e este Congresso”, declarou Blatter, que concorre a um quinto mandato como presidente da FIFA na eleição de sexta-feira, na qual o príncipe jordaniano Ali bin Al Hussein é seu único adversário.
Ignorando os pedidos de renúncia, o suíço afirmou: “sei que muitas pessoas me consideram responsável em última instância… (mas) não posso monitorar cada coisa a toda hora”.
Tantas vezes apontado como o principal responsável pela degradação da imagem do organismo a que preside, tem conseguindo evitar um envolvimento directo em todas as investigações, à custa de muita retórica, promessas de reformas e vontade publicamente declarada de ajudar em tudo o que for preciso.
Diego Maradona lamenta que Josep Blatter – que transformou a FIFA numa organização maior que as Nações Unidas, quando entrou tinha 144 membros, hoje são 209 -, caminhe para mais um mandato. “Ainda que não consiga encontrar quase ninguém que apoie Blatter, muitos acreditam que ele irá obter um quinto mandato à frente da FIFA”, que, só por si, é “algo inaceitável nos países democráticos.

