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Boas massalas levam-nos a uma (boa) “Makhara”!

Boas massalas levam-nos a uma (boa) “Makhara”!

Já não é nenhuma novidade que a massala anima, mesmo depois de um considerável tempo na reserva. Pertencente a um núcleo de frutos silvestres que gravitam época após época (cada uma à sua maneira), com o seu sabor inconfundível, esse fruto, às vezes, senão sempre, leva-nos a delírios, ou a dançar uma boa “Makhara”. Na passada sexta-feira (17), a orquestra musical Timbila Muzimba, a par do público, que afluiu em massa ao Centro Cultural Franco-Moçambicano, experimentaram todas essas emoções – o êxtase.

É quase imprescindível falar da timbila – no seu todo – sem antes ao menos citar alguns nomes que contribuíram para a elevação e preservação deste património. Venâncio Mbande, machope de Zavala, é um desses ícones a quem toda a humanidade devia reverenciar, e, de seguida, Eduardo Durão, o intermediário da prática.

Na última sexta-feira (17) a orquestra moçambicana Timbila Muzimba reviveu os seus melhores momentos – enquanto agrupamento que valoriza a cultura dos machopes – depois de largos anos fora dos palcos. O espectáculo serviu igualmente de oportunidade para a “colisão” de três gerações que há anos se dedicam à promoção e divulgação da timbila e dos seus respectivos passos de dança – “Makhara”.

Em todos os casos, como forma de juntar a “tripla geracional” dos mais destacados timbileiros do país, convidou-se os melhores (Venâncio e Eduardo) e lá estiveram. Mas, antes das suas nostálgicas actuações, a dança – essa segunda arte que transcende gerações – fez vibrar o público, que se fez presente no local, soltando suspiros, quase, inconscientes. É que o bailado a que se assistiu em “Rhambanani” (convocai-vos, em português) – nome do concerto do grupo – tem palavras. Fala. Comunica. Anima….

É “Makhara”, um bailado com os significados múltiplos que evocam a beleza das imagens; a relação entre o movimento, o quadril, os braços, os pês e a cintura; a coincidência ou o desencontro entre a mensagem, a música e a acção. São movimentos que, mesmo de joelhos debaixo de panos ou de pé, transmitem harmonia e alegria. Por essa razão, só se dança feliz.

Na verdade, para uma boa “Makhara”, os bailarinos, quase, parecem quebrar o corpo e os movimentos são extensivos e rápidos. Os corpos são descobertos de forma a mostrarem os “contornos” na mesma subtileza da timbila, do batuque….. . Isso é, de facto, uma loucura!

A junção de Timbila e Muzimba (instrumento usado e corpo), tal como se observa no nome do grupo, dá o que todos nós devemos saber. É o mesmo que acontece na terceira lei de Newton: “a uma acção sempre se opõe uma reacção”.

A orquestra Timbila Muzimba foi criada a 6 de agosto de 1997, em Moçambique, pelos artistas Cheny Wa Gune, Matchume Zango, Celso Eduardo, Tinoca Zimba, Osório Mahuaie, Arlindo Chissano, Djira Mussa, Lucas Macuácua e Texito Langa.

A música do agrupamento estabelece uma fusão entre os sons e os ritmos tradicionais das timbilas com os dos instrumentos modernos.

O nome do grupo, Timbila Muzimba, assentou, por um lado, no nome do instrumento da família dos xilofones, a timbila, tradicionalmente da província de Inhambane e que se tornou num dos símbolos da cultura moçambicana; por outro, no termo muzimba (que significa corpo) e que se relaciona com o corpo dos bailarinos que se movimenta vivamente ao som da música.

Vénia aos mestres

Embora tenha sido por um período muito curto, a actuação de Mbande revelou-nos muitas emoções camufladas entre “o ser citadino e o ser genuinamente suburbano”. Há muitos que admiram e veneram este homem.

Há pessoas que gostam e viveram da timbila na nossa urbe. Há quem, mesmo dentro de fatos, tenha precisado de se encontrar com as suas raízes. E Venâncio ajudou a plateia a encontrar-se gerando um momento de introspecção.

Mbande é, sem dúvida, um óptimo timbileiro, se calhar o melhor em todo o mundo. A sua relação com este instrumento é deveras forte, de tal sorte que revela: “Eu toco timbila mesmo a dormir. Nunca me imaginei viver sem fazer, nem tocar”.

O artista deixou transparecer a possibilidade de só deixar de tocar no seu último suspiro. A conversa travada com Venâncio foi longa e contagiante. Por isso, convido-o a acompanhá-la nas próximas edições.

Mas o que é timbila?

É um instrumento tradicional moçambicano da família dos xilofones, utilizado originariamente pelo povo Chope, em Zavala, na província de Inhambane (sul de Moçambique). As primeiras referências à timbila aparecem em escritos portugueses do século XVI.

No entanto, considera-se que a existência de tais instrumentos, na costa sudeste de África, tenha provavelmente surgido em resultado dos contactos estabelecidos, durante o século X, com a actual Indonésia, onde também se encontra este tipo de instrumentos.

De referir que, em Moçambique, há dois nomes para este modelo de idiofone: a timbila, originada no povo Chope e conhecida na província de Inhambane (distritos de Zavala, Inharrime, Panda, Vilanculos, Homoine) e a varimba (ou valimba), originada no povo Sena e conhecida nas províncias de Manica, Sofala e Tete (nos distritos de Changare, Moatize, Mutarara).

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