Manifestações contra o aumento de salários de políticos decorreram em principais centros urbanos de Cabo Verde nesta segunda-feira. Milhares de pessoas saíram às ruas para exigir do chefe de Estado cabo-verdiano, Carlos Jorge Fonseca que exerça o seu poder de veto sobre os Estatutos dos Titulares de Cargos Políticos, que prevêem, entre outras regalias, um aumento salarial na ordem dos 68 porcento.
Na cidade da Praia, um numeroso grupo de pessoas, nunca visto antes, reuniu-se nas imediações do edifício da Assembleia Nacional, empunhando cartazes, apitos e tambores para, ruidosamente, manifestar o seu desagrado face à aprovação, pelos deputados, na semana passada, dum diploma que concede mais regalias à classe política.
Os manifestantes consideram que a aprovação deste documento aconteceu numa altura em que o país conhece sérias dificuldades resultantes da crise que afeta a sua economia, além das consequências de um mau ano agrícola e dos efeitos da recente erupção vulcânica na ilha do Fogo.
Os manifestantes, que responderam ao apelo da Mobilização para Ação Cívica (MAC), exortaram o Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, a usar do seu poder de veto contra esta proposta de lei. Um dos coordenadores do MAC, Ronny Moreira, disse que a pretensão do movimento é consciencializar as pessoas de que “estamos perante uma situação em que a população deve entender o que está em jogo”.
“Estamos perante uma classe política arrogante e pretenciosa. O Estado tem dificuldades em conceder aumentos à volta de 3,5 porcento à Função Pública, enquanto a classe política se atribui a si mesma um aumento na ordem dos 60 por cento”, disse Moreira para justificar a posição do MAC.
A seu ver, não se aceitar que num país onde mais de seis mil jovens formados e sem trabalho e outros tantos em estágio a receber uma mixuruca, os políticos recebam salários milionários contrastando com as capacidades financeiras de Cabo Verde.
Da Assembleia Nacional, a onde de protestos passar também passou também pelo Palácio do Governo subindo ao centro da cidade capital, Praia, junto da Presidência da República. A tempestade estendeu-se ainda às cidades do Mindelo, à ilha de São Vicente, a Espargos, na ilha do Sal, e a Assomada, no interior da ilha de Santiago.
Também, personalidades da vida política cabo-verdiana já se insurgiram contra os aumentos salariais 64 porcento para a classe política em Cabo Verde, aprovados quarta-feira última no Parlamento.
O ex-Presidente cabo-verdiano, António Mascarenhas Monteiro (1991-2001), em declaração à Televisão de Cabo Verde (TCV), sustentou que os aumentos, indexados ao do atual chefe de Estado, Jorge Carlos Fonseca, “vêm numa má altura” e que, por conseguinte, o diploma em causa deve ser retirado. Com este ato, os contestatários querem deixar claro que estão de olho no papel que o chefe de Estado vai desempenhar nós próximos dias relativamente a este assunto.
Porém, os aumentos salariais dos políticos em Cabo Verde, que entrarão em vigor no início da próxima legislatura, foram aprovados por unanimidade a 25 de março corrente, estando a suscitar uma forte polémica no país..