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“Caso não mantenhas relações sexuais comigo, fiques sabendo que excluis”

“Caso não mantenhas relações sexuais comigo

“Que fique claro que não perdemos o amor pelo ensino (…). Apenas não temos a motivação para continuarmos a ser didactas. Nada dignifica-nos porque até mesmo a bata de cor branca tem sido difícil adquirirmos. Mas, reiteramos que continuaremos a educar as crianças (…)”, eis o desabafo de um dos docentes acusados pelas alunas de proferirem ameaças tais como: “caso não mantenhas relações sexuais comigo, fiques sabendo que excluis a minha disciplina”.

Estas e outras declarações foram feitas na quarta-feira (25) num encontro que juntou os estudantes de diferentes escolas primárias e secundárias da cidade e província de Maputo, os pais e encarregados de educação, os professores e a sociedade civil para reflectirem sobre a educação e desenvolvimento humano em Moçambique.

Jorge Ferrão, titular da pasta de Educação e Desenvolvimento Humano, voltou a repetir, diante dos docentes, que estes são os culpados pelo facto de os alunos da 1ª classe, sobretudo, não saberem ler, escrever e efectuar cálculos simples, porque os profissionais para quem atira as responsabilidades não sabem ensinar. “Os estudos sustentam que os alunos do ensino primário do primeiro grau (EP1) não sabem pensar e nem fazer. Eles apresentam níveis elevados de absentismo”.

O outro problema – sobejamente conhecido mas que não tem sido combatido – é que os estabelecimentos de ensino ficam a dezenas de quilómetros em relação às residências dos educandos e os pais e encarregados de educação desencaminham os filhos da instrução para lhes ajudarem na machamba.

Segundo o ministro, apurou-se, em 400 escolas do país, que 60% dos professores não se fazem presentes às aulas. Em cada 10 dias de actividade escolar, os pedagogos faltam seis dias. Concorrem para esta situação a falta de interesse para ensinar e para adquirir conhecimentos.

No encontro, onde Jorge Ferrão disse que cerca de 500 mil alunos em todo o território nacional estudam ao relento, por isso, muitos alunos não estudam quando chove ou faz bastante vento, os docentes responderam com um pedido de melhoria das suas condições de trabalho. Para eles, “o mísero salário contribui para o fraco desempenho no ensino”

Belmiro Muchanga, que lecciona o ensino primário, afirmou é quase impossível ter melhores resultados “devido ao magro salário que auferimos e a péssimas condições de trabalho”. Para este professor, não é possível residir na capital ao país e estar a dar aulas na província de Maputo sem estímulos ou motivação para o efeito. O valor que se aufere é aplicado no transporte e, às vezes, para arrendar uma residência nas imediações do estabelecimento de ensino no qual um professor é afecto, com vista a evitar atrasos.

De acordo com Belmiro Muchanga, são muito poucos os professores que dispõem de casa própria e condigna. As refeições são igualmente uma lástima. Aliás, não há comida. Um pedagogo alimenta-se com pão e badjia (pastéis fritos e feitos com base em de feijão). Os professores acotovelam-se com os alunos, numa esquina próxima da escola, para comprar este tipo de alimento e outros pouco nutritivos.

“Que fique claro que não perdemos o amor pelo ensino e para aprender com os alunos. Apenas não temos a motivação para continuarmos a ser didactas. Aliás, nada dignifica-nos porque até mesmo a bata de cor branca tem sido difícil adquirirmos. Mas, reiteramos que continuaremos a educar as crianças em prol do desenvolvimento do país”, realçou Muchanga, sugerindo que o ministério deve disponibilizar casas para os professores que leccionam que longe dos seus locais de residências com vista a evitar dissabores.

Os docentes defendem ainda a diminuição de disciplinas no ensino primário. “O professor recebe um salário que não chega para sobreviver durante 30 dias”, segundo a professora Marta Manjate, que indica também que as turmas numerosas não ajudam a melhorar o desempenho dos alunos e do próprio instrutor. Aliás, há pedagogos sem formação, o que igualmente estorva os propósitos da educação.

“Sofremos assédio para passar de classe”

Algumas alunas que participaram no encontro em questão, queixaram-se de um conjunto de actos e intenções sexuais protagonizados pelos docentes, principalmente no ensino secundário, com promessas de passagem de classe.

Uma das estudantes da Escola Secundária Estrela Vermelha, em Maputo, assegurou que conhece muitas alunas que passaram a estudar noutros estabelecimentos de ensino por causa do assédio sexual. Outras miúdas desistiram de estudar porque eram perseguidos pelos professores, na sua maioria directores de turmas.

Essa é uma questão que merece maior atenção, tanto dos pais e encarregados de educação, como do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano. Deve-se investigar e responsabilizar os pedagogos que deixam de ensinar e ameaçam alunas, segundo a educanda.

A aluna a que nos referimos disse que existem professores que dizem, sem rodeios, que “caso não mantenhas relações sexuais comigo, fiques sabendo que excluis a minha disciplina e repetes o ano”. E há docentes que exigem dinheiro para facilitar a passagem de classe de um aluno.

Uma outra estudante lamentou a falta de intervenção por parte das autoridades no sentido de remover os estabelecimentos comerciais, em particular as barracas, que se encontram ao redor das escolas. Os alunos embebedam-se e, por conseguinte, fazem-se às aulas só para perturbar e, na pior das hipóteses, chegam a agredir os colegas, principalmente nas sextas-feiras.

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