Na sua primeira exposição individual de pintura, intitulada “Mintswati Ya Nkama”, ou simplesmente “Marcas do Tempo”, na língua de Camões, inaugurada na última quarta-feira (04), em Maputo, o artista plástico, João Silva Nhacumbe, ou se preferir Cumbe, de nome artístico – além de abordar um tema recentemente ilustrado pelo seu homólogo Josué Chabela –, decidiu resgatar os traços do tempo e, através do quadro e pincel, mostrá-los aos maputenses mais novos – adultos, jovens e crianças – de uma forma mais criativa.
As obras estarão patentes até o dia 14 do mês em curso. Incrivelmente, no fim de Fevereiro, no mesmo local – Me- diateca do BCI -, um homem de 56 anos, de nome Josué Mutelo Chabela, movido pe- las tristes lembranças dos já passados momentos, esculpiu a madeira e deu-lhe a cara do sofrimento do povo moçambicano.
E hoje, cinco dias depois, um jovem de 31 anos provoca-nos as mesmas nostalgias. Isso mesmo. A mostra de artes plásticas, composta única e exclusivamente de quadros pintados, ajuda-nos a voltar no tempo. Mas, afinal de contas, o que terão de especial estas marcas? Eoqueháemcomumentreos dois artistas? O argumento é simples: “É uma simples coinci- dência. Se calhar, à luz das nos- sas actividades, tenha explicação. A cultura é a veia que nos une e nos faz lutar pelo mesmo propósito”, explica Cumbe.
Luís Embora, tendo-se em conta o percurso de Cumbe, que se enaltece com esta mostra, já tenha apreciadores fieis às suas criações, há um desejo sublime que se materializa, na vida dos amantes das artes, quando as mesmas obras retratam as vivências de um povo colonizado.
A ser verdade, como se pôde notar na inauguração da exposição, na “Marcas do Tempo”, o artista cumpre a sua missão de artista na sociedade: educar, lembrar e exortar à mudança de comportamentos. Por isso, o trabalho “é o re- gate das nossas vivências. É o nosso dia-a-dia. Sãos traços inesquecíveis de acontecimentos que atordoa(ra)m o povo”.
No entanto, se além do belo, a mensagem é uma das com- ponentes mais importantes de uma criação artística, se calhar haja alguma necessidade de explicar a pretensão de cada quadro. E logo começamos pelo “Moça Wa Mbique”. É uma obra mista. Metafórica. Traduz dor, desprezo, solidão, angústia…. Segundo conta o artista, é uma comparação entre Moçambique e uma adolescente.
“Olha, se largarmos uma jovem no mundo, incrivelmente, por força da sorte, ela pode crescer, mas com dificuldades. São essas as com- plicações que se reflectirão futuramente. E, infelizmente, o nosso país é isso; uma miúda refém de toda a maldade do mundo”.
“Memórias” e “Maternidade Paterna”
Diria, em abono da verdade, que a particularidade desta exposição é o facto de que quase todas as obras versam sobre o ontem e o hoje. À guisa de exemplo, a obra com o título “Memórias” concretiza, visualmente, o que muitos lamentam: “comparo o passado com o presente. Sabe-se, de antemão, que Moçambique foi uma colónia portuguesa e durante anos fomos sujeitos à miséria. Mas hoje somos total- mente livres, mas, facto curioso, é que continuamos a sofrer por meio dos nossos irmãos”.
Por outro lado, no título “Ma- ternidade Paterna”, Cumbe argumenta: “esse tema é basicamente o reflexo da nossa juventude. Sempre nos aventuramos nas relações sem antes medirmos as consequências. E depois acontece o que ninguém aceita: ser pai e mãe – aceita-se o inverso – ao mesmo tempo.
Na verdade, a mostra foi preparada durante cerca de uma década. Todavia, vale a pena esclarecer, apesar de a maioria das obras ser recente, que estão também aglutinadas criações geradas a partir de 2000.