Dois jornalistas europeus foram detidos na segunda-feira no Parque Nacional de Limpopo, sul de Moçambique, após serem confundidos com caçadores furtivos, disse à Lusa a chefe adjunta da Embaixada da Alemanha no país. “O caso envolveu um jornalista alemão que vive em Massingir [província de Gaza, no sul do país]. Ele e o seu colega sueco estiveram no parque para fazer investigações sobre a caça furtiva e acabaram sendo detidos”, disse Tanja Werheit.
Trata-se do alemão Bartholomaeus Grill, correspondente da revista alemã Der Spiegel, e o fotojornalista sueco Tarbjoern Selander, detidos pela população da localidade de Mavodze após serem confundidos com caçadores furtivos quando investigavam uma rede de caça ilegal na região.
“Nós fomos presos em Mavodze, uma pequena aldeia perto do Parque Nacional do Limpopo. Estávamos a procura do líder da caça ilegal naquela região”, disse Bartholomaeus Grill, citado pela rede televisiva dinamarquesa Two News.
A população de Mavodze, suspeitando que se tratava de uma rede de caça ilegal, levou os jornalistas ao posto da Polícia da República de Moçambique (PRM) na localidade, exigindo que eles fossem presos.
De acordo com o jornalista, o suposto líder da caça ilegal que investigavam possui uma rede de dez caçadores furtivos no Parque Nacional de Limpopo e os lucros que saem do negócio são usados na comunidade.
A chefe adjunta da embaixada alemã em Moçambique indicou que os jornalistas foram libertados na terça-feira, após intervenção das embaixadas da Suécia e da Alemanha. “Como sempre, em qualquer país do mundo, quando temos um cidadão com problemas com as autoridades, tratamos do assunto. Nós estamos em contacto com ele e com seu advogado”, assegurou Tanja Werheit, sem avançar mais detalhes sobre o caso.
Moçambique tornou-se num corredor para o contrabando de chifres de rinocerontes com destino à Ásia, num negócio que, segundo organizações ambientais estrangeiras baseadas em Moçambique, é feito com a complacência das autoridades locais.
Só nos últimos anos, segundo o relatório da World Wide Fund (WWF) de 2006 a 2012, cerca de 4.000 rinocerontes foram caçados ilegalmente em 11 países africanos. Cerca de 95 por cento destes casos, informa o relatório, tiveram lugar na África do Sul e no Zimbábwe, países que fazem fronteira com Moçambique, e são considerados como centro da caça furtiva na África Austral.
Em 2014, só no Parque Nacional de Gorongosa, no centro de Moçambique, as autoridades moçambicanas indicaram que cerca de seis mil animais foram mortos, 3300 armadilhas foram desmanteladas e 250 caçadores furtivos foram presos.