A alma da fotógrafa norte-americana Kay Brito, ou simplesmente Kay, nome por que é conhecida na área fotográfica, tem marcas indeléveis de Moçambique, país que a acolhe desde o primeiro ano de vida. Ela tem uma exposição denominada “Cores Móveis”, patente na Mediateca do BCI, em Maputo, até 17 de Janeiro em curso. O @ Verdade, “bisbilhotou” a sua mente para interpretar os quadros a verde, vermelho, e preto, cores que nos lembram a guerra, transmitem a dor, mas também a esperança.
Interpretar as telas pacificadoras de uma artista jovem e em revelação no mundo da pintura e da fotografia – duas técnicas empregues simultaneamente nas suas obras – não é, talvez, uma simples questão de apreciação, mas de profundo estudo. Kay, que vive há sensivelmente 21 anos em Moçambique, diz que o que lhe chama a atenção neste país são as coisas velhas, os utensílios antigos e gastos.
“Eu acho que estes objectos têm alguma história por se revelar”. “Por exemplo, as crianças possuem uma ingenuidade que, dependendo das circunstâncias, revela-nos o seu íntimo. É simples saber se um petiz está feliz ou triste. O sofrimento e ou a bênção dos fedelhos resplandecem nos semblantes.
E não há hipocrisia”, argumenta a artista. Fotografando ou pintando, Kay faz o seu discurso com recurso à harmonia que as cores e as figuras em silêncio apresentam no grito dos homens, das mulheres e das crianças estampados nas telas expostas na Mediateca do BCI. Olhar e analisar as cores é mergulhar no mesmo ódio e na mesma alegria que a artista sentiu na experiência com as realidades que retrata.
“Cores Móveis”, segundo Kay Brito, revela muito mais do que um simples movimento de cores carregadas de profundas consternações do dia-a-dia do povo moçambicano: conta a história dos lugares e a simplicidade da natureza.
Num olhar além da própria arte que também a aflige, devido à desvalorização das obras artísticas e dos respectivos criadores, que se nota nas pequenas feiras de artesanato em que os compradores ridicularizam os vendedores com valores de compra que não correspondem ao esforço empreendido, Kay avalia o mundo que a rodeia e conclui que “o artista é visto como um pedinte. As pessoas nunca dão o que ele realmente merece, mas o que acham que ele precisa – trocados”.
Para Kay, as pessoas criativas e activas neste ramo, mas anónimas, infelizmente, fazem bijutaria e vendem nas ruas como forma de sobrevivência. Porém, “na verdade ser moçambicano é ser artisticamente criativo. É uma dádiva”.
A artista pretende, no primeiro semestre deste ano, organizar programas de intercâmbio com os indivíduos que exprimem algum sentimento pela arte, profissionais e amadores.
“Estou para viver definitivamente em Moçambique. Por essa razão, na minha próxima exposição quero integrar artistas moçambicanos para que, além de partilharmos experiências, possamos desenhar estratégias para a nossa afirmação na área. (…) Anseio que os artistas mostrem aos seus admiradores, em particular, e ao público, no geral, o processo de criação das suas obras (…)”.
Segundo as suas palavras, trata-se de um experiência que visa envolver as pessoas ou os consumidores das artes nas dificuldades desta classe, para cultivar um espírito de sensibilidade. O projecto chama-se “Arte na Cidade” e será implementado nos pequenos parques da capital moçambicana.
Formada pela escola de arte Willem de Kooning, em Roterdão na Holanda, e pela escola de design Parsons The New School of Design, em Paris, e nas oficinas criativas que frequentou ao longo dos seus estudos, Kay assume ter aprendido bastante desde que se encontra em Moçambique, local onde busca importantes ferramentas que a lançam para o mundo da fotografia e da pintura. A artista nasceu em 1993, em Fort Collins, nos Estados Unidos da América.