O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, disse nesta quinta-feira temer que os militantes islamistas responsáveis pela morte de 12 pessoas no ataque ao semanário Charlie Ebdo realizem novos ataques à medida que a caça pelos dois suspeitos se espalha por todo país. Uma agente da polícia foi morta num tiroteio no sul de Paris, mas fontes policiais não puderam confirmar de imediato se o incidente estava ligado ao atentado de quarta ao jornal semanal Charlie Hebdo, o pior ataque em território francês da última década.
Líderes nacionais e Estados aliados classificaram o ataque ao Charlie Hebdo, famoso pelas sátiras sobre o Islão e outras religiões, assim como de políticos, como um atentado contra a democracia.
Os sinos da catedral de Notre-Dame tocaram durante um minuto de silêncio, respeitado por toda França e em outros países.
Muitos jornais europeus replicaram ilustrações do Charlie Hebdo ou ridicularizaram os assassinos com imagens dos seus próprios cartunistas.
O edil de Montrouge, Jean-Loup Metton, disse que a polícia e um colega atendiam a um chamado de acidente de trânsito no momento do tiroteio, na quinta. Testemunhas disseram que o criminoso fugiu num carro modelo Renault Clio, e fontes policiais disseram que ele vestia um colete a prova de balas e portava uma pistola e um rifle.
Mas um poíicia na cena do tiroteio disse à Reuters que o suspeito não se parecia com os homens armados do ataque ao Charlie Hebdo.
Valls foi questionado na rádio RTL após uma reunião de emergência no gabinete do presidente francês, François Hollande, se temia novos ataques. “Essa pergunta é inteiramente legítima, essa é obviamente nossa maior preocupação, e é por isso que milhares de policiais e investigadores tem sido mobilizados para capturar esses indivíduos”, disse o primeiro ministro.
A polícia divulgou fotos dos dois cidadãos franceses que ainda estão soltos, descrevendo-os como “armados e perigosos”. Os suspeitos são os irmãos Cherif e Said Kouachi, de 32 e 34 anos, ambos já conhecidos dos serviços de segurança.
Na quarta-feira à noite, um homem de 18 anos se entregou à polícia em Charleville-Mézières, perto da fronteira com a Bélgica, enquanto a polícia conduzia buscas em Paris e nas cidades de Reims e Estrasburgo, no norte do país.
Uma fonte judicial disse que o rapaz que se entregou é cunhado de um dos principais suspeitos, e a mídia francesa citou amigos dizendo que ele se encontrava na escola no momento do ataque.
As redes sociais na França proporcionaram vários relatos de helicópteros da polícia sobrevoando o norte do país. A polícia intensificou a segurança em centros de transporte, locais religiosos, instalações de mídia e lojas de departamento. Houve relatos, não confirmados, de que os agressores teriam sido vistos, e a polícia aumentou a sua presença nos pontos de entrada a Paris.
Uma fonte policial falou sobre uma espécie de clima de “paranoia” em vários dos relatos e rumores, mas que a polícia estava a levar a sério cada um dos comunicados.
DIA DE LUTO
A França deu início a um dia de luto pelos jornalistas e policiais mortos pelos homens armados e encapuzados, que utilizavam rifles Kalashnikov. As bandeiras francesas tricolores foram hasteadas a meio-mastro. Dezenas de milhares participaram de vigílias por toda França na quarta-feira após o ataque em defesa da liberdade de expressão, muitos usando faixas em que se lia “Je Suis Charlie” (Eu sou Charlie), em apoio ao jornal.
O ataque levantou preocupações sobre a segurança em países de todo o mundo. Líderes muçulmanos condenaram o tiroteio, e alguns relataram o temor sobre um surto de sentimento anti-islâmico na França, país de grande população muçulmana.
O Conselho Muçulmano da França pediu a todos os muçulmanos franceses que se juntassem ao minuto de silêncio e declarou que vai emitir um chamado a “todos os imãs em todas as mesquitas da França para que condenem a violência e o terrorismo, de onde quer que venham, da maneira mais dura possível”.
Fontes policiais disseram que o vidro da janela de um comércio de kebab vizinho a uma mesquita na cidade de Villefrance-sur-Saone, na região central do país, ficou estilhaçado por uma explosão durante a noite. A mídia local relatou que não houve feridos.
Um total de sete pessoas foram presas desde o ataque, disseram a fonte. Outras fontes policiais disseram que a maioria convivia com os suspeitos. Uma fonte disse que um dos irmãos foi identificado por meio de sua identidade, deixada no carro utilizado na fuga.