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O “moya” está mal!

O “moya” está mal!

O velho ditado segundo o qual “quem casa quer casa” é mencionado na música intitulada “Moya” da autoria de Constâncio Valane, um artista nativo da cidade de Quelimane. A composição descreve o sofrimento de um jovem que não investiu na construção da sua moradia. Como sequência disso, ele vive em casa dos sogros e faz os trabalhos domésticos. Em suma, está mal.

O “Moya”, palavra em chuabo que na língua portuguesa significa “genro”, é uma narrativa que retrata o modo de vida de dezenas de jovens na actualidade. Na música em alusão, Constâncio não esconde o seu desagrado relativamente ao comportamento pouco exemplar de indivíduos que, durante o período em que conseguiam, de forma constante, amealhar dinheiro não planeavam erguer a sua habitação. O rapaz descrito naquela composição musical apaixona-se por uma mulher e, como forma, de galanteá-la, ele ia investindo o seu dinheiro em coisas supérfulas.

Porém, apesar de ter tido um passado, diga-se de passagem, de grande nível, o personagem retratado na composição musical daquele cantor, cujos temas fizeram sucesso nas pistas de dança a nível nacional e na diáspora, tem a viatura em estado de degradação no quintal do seu sogro. O artista, de uma forma crítica e cómica, faz uma comparação entre o genro e os pais da rapariga em alusão, afirmando que “os sogros não possuem um carro mas têm uma casa para passar as noites, protegerem-se das intempéries e, também, acolher um genro que não presta”.

Essencialmente, a composição aconselha os jovens a pensarem no modelo de vida que pretendem levar, não obstante a problemática da falta de habitação para aquela faixa etária. Outra situação preocupante é o facto de os jovens que moram naquela casa não trabalharem. Quando chega alguma visita, o genro é obrigado “a correr atrás das galinhas” para degolá-las e preparar uma refeição.

Quem é Constâncio?

Constâncio Valane é um artista que luta para imortalizar os sabores da música chuabo, e não só. O músico está a escassos dias de proceder ao lançamento do seu sétimo álbum. Descendente de uma família tipicamente tradicional, Valane mostrou-se, a todo o momento, um jovem apaixonado pela cultura e dedicado a ela. Antes de encarar a arte de cantar como uma profissão, ele era corista de uma Igreja Católica na cidade da Beira, província de Sofala.

Ainda na sua infância, almejava atingir os patamares do artista gabonês Oliver Ngoma, por sinal a sua maior fonte de inspiração até os dias de hoje, embora não faça parte do mundo dos vivos. Na altura, com apenas 10 anos de idade, ingressou na Escola de Música da Casa Provincial de Cultura da capital de Sofala, onde alimentou a paixão pela música. Mergulhado num mar de incertezas, o aspirante a músico (naquela época) ultrapassava os obstáculos da formação com facilidade, uma vez que ele sonhava tornar-se referência na sua terra de origem (Zambézia).

Naquela escola, Valane apreendeu diversas técnicas musicais durante cinco anos. Depois de ter terminado a sua formação na Casa Provincial de Cultura da Beira, o músico decidiu mostrar ao público o que aprendeu. Já em 1992, ele apresentou-se pela primeira vez na cidade da Beira, lançando o seu primeiro trabalho artístico. “Após o cair do pano da minha formação, eu decidi colocar em prática os conhecimentos sobre a música. Foi difícil, tratando-se do meu primeiro trabalho artístico, mas consegui superar o medo”, disse.

Os desafios da carreira artística obrigavam-no a empenhar-se na música. O artista tinha de conciliar os estudos com a arte de cantar. A cada dia que passava as dificuldades aumentavam. Com a sua primeira produção artística, Valane já se considerava um músico de mão cheia, mas o sonho de se tornar Oliver Ngoma de Moçambique permanecia. Porém, o desejo de um dia cantar para o público com o desempenho do músico gabonês transportou-o para a cidade de Quelimane.

“O carnaval foi a minha escada rolante”

Na capital da Zambézia, o jovem deparou com o carnaval, um evento cultural que se transformou numa oportunidade para crescer artisticamente, pelo facto de reunir diversos artistas daquela cidade para uma troca de experiências. Na verdade, a iniciativa foi positiva, uma vez que galvanizou a sua carreira. “Quando assisti pela primeira vez carnaval na cidade de Quelimane, vi a oportunidade de interagir com diversos talentos da região e músicos mais experientes com a finalidade de criar parceria”, referiu Valane.

Com a assessoria de vários profissionais da arena cultural, Valane caminhava rumo ao lançamento do seu primeiro álbum que veio a acontecer em 2002. Questões sociais, nomeadamente a infidelidade entre os casais, casamentos precoces, a violência doméstica, entre outros, foram os temas abordados naquele trabalho discográfico do artista que viu a música como uma via fiável para retratar a vida do povo da região centro de Moçambique. Com o lançamento do primeiro disco, não tardou que o músico ganhasse a simpatia do público chuabo.

Já recebia convites para animar as casas de pasto, alguns eventos, nomeadamente casamentos, aniversários, entre outros. “O trabalho tornou-se intenso após o lançamento do meu álbum. A popularidade aumentava a cada dia que passava. Já recebia convites para animar eventos diversos, incluindo casas de pasto”, afirma Valane. Volvido algum tempo, o músico surpreendeu o público com o lançamento de mais trabalhos artísticos.

Um músico acometido pela pirataria

O elevado índice de contrafacção discográfica arruinou o trabalho de Valane. “No mercado já se encontravam discos falsos. Os mentores desta actividade compravam apenas um exemplar e reproduziam o disco para o revender nas principais avenidas da cidade. O facto fustigou a minha carreira por algum tempo, uma vez que acumulava prejuízos por conta da má-fé de alguns cidadãos que não querem a evolução da cultura em Moçambique”, lamentou.

Mesmo com o seu trabalho “sabotado”, o artista não parou a sua actividade que exerce desde a infância. Pelo contrário, a acção “macabra” dos contrafactores faziam com que Valane olhasse para a música de forma profissional.

“Sempre procurei imortalizar os ritmos da região centro e, igualmente, a valorização da nossa cultura, razão pela qual ignorei a situação”, referiu. Com a popularidade cada vez mais acentuada, Valane afirmou peremptoriamente que a cultura chuabo está a crescer graças ao esforço envidado por ele e outros artistas.

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