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É possível “empoderar” a mulher através das artes?

É possível “empoderar” a mulher através das artes?

Na actualidade, as estratégias para a concretização da igualdade do género e o empoderamento da mulher têm sido temas de debates por parte dos académicos, músicos, entre outros. O artista gráfico, plástico e escultor, Bernardo Atanásio, pretende dar o seu contributo através de uma estátua – já na fase final de conclusão – como forma de encorajar as mulheres a formarem-se em prol do desenvolvimento de Moçambique.

É com base no betão armado que Bernardo Atanásio, estudante do primeiro ano do curso de Educação Visual, na Universidade Pedagógica (UP) – Delegação de Nampula, está a construir a estátua. A obra em alusão possui aproximadamente dois metros de altura e 90 centímetros de largura.

A construção daquele monumento teve o seu início em Setembro de 2014 e a aquisição do material usado foi possível graças a uma contribuição monetária feita pelos seus colegas de turma que, em gesto de solidariedade, cada um ofereceu ao jovem 50 meticais. Com o gigantesco monumento, o qual representa uma mulher vestida de batina, trazendo um canudo na mão, o jovem artista procura encorajar as mulheres a prosseguirem os seus estudos e a se formarem-se.

O nosso interlocutor é da opinião de que uma mulher formada é (será) capaz de defender os seus direitos de uma maneira mais executiva e não só. Ela poderá contribuir efectivamente para o desenvolvimento da chamada Pérola do Índico. Outro factor considerado por si como negativo, e que acredita ser possível inverter através daquela obra de arte, é a desistência da escola por parte da rapariga, devido a questões sociais.

Bernardo é da opinião de que é possível, através das artes, em particular da sua obra, incentivar a mulher/rapariga a formar-se. “Desistir da escola, aceitar que seja vítima da violência doméstica, e pensar que a universidade é coisa para os homens não deve constar nos pensamentos de uma pessoa do sexo feminino. Eu senti que devia dar o meu contributo nesse processo que se chama empoderamento das mulheres”, explicou.

As outras obras

O jovem artista possui uma vasta gama de trabalhos artísticos. Quando ele pega no lápis de grafite ou caneta e papel, mostra as suas aspirações de forma impressionante. Importa referir que o amor, a paz e a crítica social são as suas principais matérias-primas.

“O poder da sedução”

A mulher moçambicana, particularmente a macua, tem um poder de sedução muito forte. Na verdade, foi por este motivo que o jovem artista desenhou a obra denominada “O poder da sedução”, o qual procura descrever as aventuras e as emoções sentidas no dia-a-dia. Na referida obra, uma mulher despida faz a pose para dezenas de homens que, por sua vez, a cobiçam e não desgrudam daquela beldade, que detém atributos físicos que atraem a atenção de qualquer um.

Os personagens, os do sexo masculino, desejam tocar no corpo daquela mulher, enquanto os mais privilegiados a acarinham com todo o amor. Segundo Bernardo Atanásio, apesar de uma mulher ser sedutora, não significa que todos os homens que estão deslumbrados terão a oportunidade de chegar perto e ganhar a sua atenção. “Na verdade, as mulheres têm um poder de encantar os homens”, acrescentou.

“Olá Paz”

Magnificamente, as emoções vividas em 1975 aquando da proclamação da Independência de Moçambique, uma conquista obtida mercê de muito sacrifício numa batalha que tinha, por um lado, o regime colonial português e, por outro, os guerreiros da Luta de Libertação Nacional, encontram-se expostas na mítica obra intitulada “Olá Paz”, da autoria de Bernardo.

Para o artista, contar a história do país que o viu nascer, embora não tenha vivido o período em alusão, é um prazer sem igual. Na verdade, esse acontecimento relatado no papel através de uma esferográfica e lápis de grafite não só tem como fonte a história contada nos livros do nosso Sistema Nacional de Ensino, mas também reflecte a visão do autor.

Quem é Bernardo?

Apesar da morte do consagrado artista Malangatana Valente Ngwenya, a 05 de Janeiro de 2011, jovens de diversas regiões de Moçambique encontram inspiração nas suas obras. Bernardo Atanásio, de 22 anos de idade, natural da vila de Namialo, distrito de Meconta, província de Nampula, é exemplo disso. Atanásio, Malangatana como é carinhosamente conhecido no mundo das artes, afirma que nasceu com o dom de desenhar.

Diferentemente de outras crianças da sua idade, ele divertia-se fazendo desenhos no papel ou na areia. Portanto, já se pode imaginar quão foi incomum a infância de um menino que preferia deixar de lado os seus amigos para percorrer uma distância de aproximadamente cinco quilómetros em busca de barro, com o objectivo de construir figuras. Contudo, foi assim que a terra da “mutiana orera” via crescer um artista gráfico e escultor, duas áreas que domina.

Na verdade, Malangatana começa a fazer parte da vida de Bernardo em 2007, quando, durante a sua adolescência, encontrou nas suas obras uma fonte de inspiração. Para aquele fazedor das artes, a frase “Malangatana ainda vive entre nós” significa que, de uma ou de outra forma, os ideais do artista fazem de si uma pessoa que jamais pensou que seria.

“Sempre procurei mostrar o que sei fazer”

O seu amor pelas artes é imensurável e o jovem procurou mostrar o seu amor através das suas obras expostas na vitrina da Escola Secundária de Mossuril, e no distrito da Ilha de Moçambique, local para onde foi viver comos seus familiares, no ano de 2011.

Nas suas obras, o jovem artista procurou transmitir mensagens educativas. A paz e o amor são duas ferramentas que fazem a cada dia que passa sonhar com uma sociedade onde os Direitos Humanos são respeitados na íntegra, e com um país em que os cidadãos têm oportunidades para progredir na vida sem distinção da cor partidária ou raça.

“Eu procurei expressar os meus sentimentos através dos meus desenhos. Eu quero, por via das artes, mostrar ao povo moçambicano que é possível recuperar a moral e o civismo que a sociedade actual perdeu”, disse. Bernardo Atanásio foi sempre fã incondicional de Malangatana. A morte do conceituado artista não fez esmorecer a admiração que nutre por ele.

“Foi uma pena ele ter morrido sem nunca ter conhecido pessoalmente. Fiquei muito triste em saber que ele se foi. Porém, o seu desaparecimento físico constitui um desafio para nós que queremos sair do anonimato. O meu maior sonho é chegar ao patamar que Malangatana atingiu e tenho a certeza de que eu, tal como outros jovens artistas, somos os representantes daquele que foi o ponto focal das artes gráficas”, disse Bernardo.

Artistas mais velhos desencorajam os mais novos em Nampula Na chamada capital do norte, os artistas não se queixam apenas da falta de apoio. Estes fazedores da cultura, os pintores e escultores em particular, dizem-se desencorajados pelos mais velhos.

Bernardo Atanásio disse ter sido vítima desse comportamento nefasto que predomina nalguns artistas mais velhos. O jovem artista gráfico, pintor e escultor, por nunca ter tido algum contacto com o seu ídolo, decidiu dedicar-se à actividade de uma maneira profissional, optando por acolher os conselhos de outros fazedores das artes.

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