Os passeios de diversas ruas e avenidas da chamada capital do norte, Nampula, estão a ganhar um aspecto novo e incomum em consequência da proliferação do comércio informal, cujos praticantes se encontram espalhados pelas artérias da urbe, dificultando, sobretudo, a circulação de transeuntes que exigem uma tomada de medidas para se mudar a situação. Porém, a edilidade entende que o negócio é um dos meios de sobrevivência de milhares de famílias.
De acordo com os munícipes ouvidos pelo @Verdade, a situação verifica-se desde a governação municipal anterior, mas com a entrada dos novos gestores houve um aumento galopante do número dos praticantes do comércio informal. Outros cidadãos que não encontram espaço nos passeios tornam-se vendedores ambulantes. Na verdade, trata-se de uma situação que facilita o contacto com os potenciais clientes. João Albino, de 23 anos de idade, é vendedor ambulante nas cercanias do mercado central.
Os seus rendimentos ajudam-no a garantir o sustento de uma família composta por três pessoas da qual ele (João) é chefe. A história do nosso interlocutor é partilhada por muitos cidadãos jovens desempregados Kucholi, como é carinhosamente tratado pelos seus companheiros, é o mais antigo na área do comércio informal em Nampula.
Com a venda de óculos solares e alguns brinquedos, ele consegue amealhar cinco mil meticais por mês. No distrito de Eráti, terra que lhe viu nascer, o jovem tem três irmãos que frequentam a escola, cujas despesas são suportadas por ele. Nas ruas de Nampula, todas as manhãs, é comum ver mulheres, homens, jovens, adolescentes e crianças que deixam as respectivas zonas residenciais para se dirigirem ao centro da cidade, onde desenvolvem diversas actividades para garantirem o sustento diário.
Segundo alguns munícipes, se, por um lado, o negócio informal constitui uma das fontes de renda para a maioria dos citadinos da chamada capital do norte, por outro, é necessário que a edilidade encontre espaços apropriados para acolher essas pessoas que, diariamente, lutam contra a pobreza. A proliferação do comércio de rua que está, igualmente, a ganhar um cenário de mercado a céu aberto deve-se à negligência dos próprios comerciantes. Filipe José de Castro, de 46 anos de idade, disse que a situação tende a piorar nos últimos meses.
Ele afirmou que o fenómeno começou a ganhar visibilidade com a tomada de posse do actual edil, Mahamudo Amurane, eleito pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM) a 01 de Dezembro de 2013. De acordo com os nossos interlocutores, o presidente do Conselho Municipal da Cidade de Nampula prometeu, durante a sua campanha eleitoral, que não iria perseguir, intimidar ou levar a cabo nenhuma acção para dificultar a actividade dos comerciantes informais. Como consequência disso, os transeuntes deixaram de circular nos passeios.
Os munícipes evitam pisar e destruir os produtos ou montras de mercadorias de comerciantes, que se tornam agressivos quando um determinado cidadão atrapalha o seu trabalho. Que o diga a cidadã Farida Venla, de 19 anos de idade. A nossa fonte afirma ter sido vítima de uma agressão física protagonizada por vendedores informais ao longo da Avenida Paulo Samuel Kankomba, alegadamente porque a jovem teria tropeçado, deixando cair uma bacia que continha bolinhos fritos.
A sensibilidade dos automobilistas
Aos condutores das viaturas exige-se, actualmente, melhores habilidades no volante para evitar atropelar os peões. As pessoas, efectivamente, abandonaram os passeios, estando a partilhar as estradas com os automobilistas como forma de dar lugar aos comerciantes informais. Segundo a Polícia da República de Moçambique (PRM) em Nampula, uma das principais causas que originam acidentes de viação tem sido a má travessia dos peões.
A capital provincial tornou-se o centro de atropelamentos nos últimos tempos. Jacinto Eduardo, transportador semicolectivo de passageiros, vulgo “chapa-cem”, não entende a razão do aumento de número de vendedores informais. “Até ao ano passado, as coisas eram diferentes. Existiam os comerciantes de rua, mas tratava-se de cidadãos renitentes porque, na altura, a edilidade havia lançado uma rusga contra a ocupação da via pública”, disse.
“Não temos onde ir trabalhar”
Os praticantes do negócio de rua ouvidos pelo @Verdade concordaram com a necessidade de abandonarem os passeios e passarem a vender os seus produtos nos mercados criados pela edilidade em diversos pontos da autarquia; porém, eles defendem a ideia de que na rua há facilidades de contacto com a clientela.
“É disso que eles sobrevivem”
O porta-voz do Conselho Municipal da Cidade de Nampula, Faizal Ibramugi, deixou claro que a edilidade não tem nenhum programa para expulsar os vendedores de rua, enquanto não for encontrado um espaço onde os comerciantes possam desenvolver as suas actividades de forma mais condigna.
Os gestores municipais entendem que os vendedores ambulantes são cidadãos íntegros e justos que se dedicam ao negócio informal para sustentar as suas famílias, estando a lutar para combater o desemprego e a pobreza, situações que apoquentam a maior parte dos munícipes.
“Nós não podemos expulsar aquelas pessoas da rua sem saber para onde eles vão continuar a trabalhar para o seu bem-estar”, anotou, referindo que para se tomar tal decisão é importante que a edilidade crie, de facto, condições para gradualmente ir acomodá-los nos mercados.
Ibramugi acrescentou que, ao invés de se tomar medidas desumanas para disciplinar cidadãos que disputam os passeios com os munícipes para assegurar a sua própria sobrevivência, o Conselho Municipal tem estado a criar condições para acomodar os vendedores.
A edilidade, neste momento, promove cursos de formações para capacitar os comerciantes ambulantes em matérias de noções básicas de gestão de negócios. Paralelamente, as autoridades municipais pretendem materializar uma série de projectos, ainda em carteira, para a construção de mercados em diversos pontos da urbe.