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Um lusitano com alma bitonga

Um lusitano com alma bitonga

Para além de ser filho da casa, nascido na famosa terra de boa gente, em Inhambane, actualmente radicado em Portugal, ele toca saxofone com um gosto incomensurável. Veio a Moçambique, sua terra natal, para participar no VIII Festival Nacional da Cultura, que decorreu na sua cidade, e agora, pela segunda vez neste ano, esteve entre nós para partilhar o palco com o seu homólogo Pedro Ben. O seu nome é Alípio Cruz, ou simplesmente Otis.

Otis nasceu em Inhambane, no sul de Moçambique. Aos 12 anos de idade, o artista começou a frequentar a Escola Nacional de Música, sediada na capital do país. Volvido algum tempo, mudou-se para a cidade de Maputo, então Lourenço Marques, onde fez os estudos gerais na Escola Comercial, tendo mais tarde desistido devido à paixão pela música.

Presentemente, Otis é um dos vários artistas moçambicanos que rumaram para Portugal, a fim de seguirem a carreira musical. Filho de um maestro, cresceu a ouvir variados estilos musicais e, actualmente, é considerado, por quase todos, o melhor saxofonista a residir e a actuar em Portugal. Discípulo de Dollar Brand (Abdullah Ibrahim), com quem já tocou, o instrumentista lançou há oitos anos, isto em 2006, o seu quinto trabalho discográfico a solo, intitulado “Olhando para trás”.

Na referida obra, o autor de “Influências”, recorda as peripécias que fizeram dele um músico excepcional. O saxofonista é, na verdade, daqueles artistas com currículo impressionante e, aparentemente, desconhecido pela sociedade civil. O seu estilo musical percorre do Jazz ao tradicional africano. Numa conversa tida com o @Verdade Otis revelou- nos o gigantesco problema que enfrentou para a sua afirmação na música, num país que se julgava acolhedor.

Na verdade, segundo conta, os lusitanos não facilitavam a integração nos seus palcos de núcleos de artistas provenientes de outros cantos do mundo. Tal como se pensa em relação às pessoas da sua terra natal (neste caso falamos do atrevimento e da persistência) Otis remou contra a maré, de tal sorte que conseguiu concretizar os seus sonhos.

Aliás, consumou-se o seguinte adágio popular: “Água mole em pedra dura, tanto bate que até fura”. Contudo, a falta de espaço para as actuações e a indiferença dos patrocinadores das artes e cultura fez com que o saxofonista aceitasse propostas meramente insignificantes, pura e simplesmente para se manter no país e garantir o sustento da sua família.

Por essa razão, devido à exclusão, por inúmeras vezes, o músico tocou em alguns cabarés de Portugal. Apesar das dificuldades, que de uma ou de outra forma, fazem parte do percurso do ser humano, no geral, e dos artistas, em particular, volvidos alguns anos, o saxofonista conseguiu ganhar o seu espaço e conquistar o respeito na terra dos portugueses, e não só.

“Quero gravar músicas com artistas moçambicanos”

Relativamente aos intercâmbios musicais, à semelhança do que aconteceu aquando da sua primeira visita neste ano a Inhambane, o dono de “Influências” garantiu que, caso haja oportunidades, quer gravar algumas faixas musicais com artistas moçambicanos. Tendo conhecimento de que, em Agosto passado, o instrumentista compôs alguns temas com os seus conterrâneos, curiosamente, procurámos saber com quem Otis gravou as músicas.

E a resposta foi: “ninguém me proibiu de revelar os nomes, mas não acho correcto dizer, uma vez que os discos ainda não foram lançados. Na verdade prefiro que eles, os próprios mentores da ideia, os revelem publicamente”, concluiu o artista.

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