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Dário Monteiro: Um treinador de quem depende o futuro

Dário Monteiro: Um treinador de quem depende o futuro

Depois de muitos anos a espalhar a sua classe nos relvados, o ex-capitão da selecção nacional, Dário Monteiro, decidiu abraçar a carreira de treinador de futebol. Actualmente, aquele antigo atleta, com passagens por diversos clubes como Académica de Coimbra, Vitória de Guimarães, Mamelodi Sundowns, Liga Muçulmana e Desportivo Maputo, tem a árdua tarefa de preparar os “Mambas” do futuro, e a missão de qualifi car, pela primeira vez, os sub-17 para o Campeonato Africano das Nações que terá lugar no Níger, no próximo ano.

@Verdade – Há muitos anos que uma selecção nacional de juvenis não passava da etapa preliminar de apuramento para o Campeonato Africano deste escalão. Em 2014, Dário Monteiro conseguiu quebrar esta barreira, atingindo a primeira eliminatória. Sente-se realizado?

Dário Monteiro (DM) – Não vou esconder que estava confiante na transição para a fase seguinte. Tive essa sensação desde o princípio do meu trabalho como seleccionador nacional. Em Moçambique temos mais talentos comparativamente à Namíbia, factor que me fez acreditar no triunfo.

@V – Mas a estreia de Dário Monteiro, como treinador, não foi saborosa. Empatou na primeira “mão” por 1 – 1, embora tenha mudado o rumo dos acontecimentos na segunda ao vencer por 1 – 0, tratando- -se de uma eliminatória para uma competição continental. Como é que olha para estes resultados?

DM – O primeiro desafio não correu conforme projectara sobretudo por, na primeira parte, a equipa não ter conseguido implantar a nossa filosofia de jogo. Sofremos um golo neste período. Na segunda metade, os meus jogadores ganharam ânimo e chegaram ao empate, embora tenham beneficiado de várias oportunidades para marcar. Sem querer justificar nada, é importante que todos saibam que este foi o primeiro desafio internacional de muitos jogadores. Na segunda “mão” fomos claramente superiores diante da Namíbia. O resultado de 1 – 0, que conseguimos até ao minuto 90, chega a ser enganador na medida em que do princípio ao fim beneficiámos de diversas ocasiões de golo. Ou seja, este desfecho pecou por ser escasso, apesar de ter apurado Moçambique para a primeira eliminatória de acesso ao Campeonato Africano de Futebol de sub-17.

@V – Como é que recebeu a notícia da escolha de Dário Monteiro para orientar a selecção de sub-17, uma tarefa que, como todos sabem, é responsável pela formação de futuras selecções nacionais de futebol?

DM – Senti-me lisonjeado com o convite e feliz com a confiança depositada em mim pela Federação Moçambicana de Futebol. Nunca fui treinador de futebol e estou de acordo quando se diz que não me foi atribuído o cargo por experiência nesta função, mas por tudo aquilo que fiz e dei ao povo moçambicano ao longo da minha carreira como jogador, seja nos clubes, seja na selecção nacional. Quero pôr em prática todos os meus conhecimentos neste novo desafio. Deixem-me dizer que este é o princípio de um percurso com que sempre sonhei. Daqui para a frente vou-me concentrar neste trabalho, na esperança de poder transmitir tudo o que fui assimilando durante a minha carreira de jogador aos miúdos. Felizmente, trabalhei com vários treinadores e cada um tinha a sua filosofia de trabalho, factor que, conjugado com o que aprendi durante a minha formação, me deixa mais optimista no que toca à formação de novos craques internacionais.

“Consigo motivar os meus jogadores a alcançarem bons resultados”

@V – Durante a partida da primeira “mão”, contra a Namíbia, notámos que a selecção nacional privilegiava a posse e a circulação de bola. Podemos assumir que este é o modelo de jogo dos “Mambinhas” de sub-17?

DM – Numa selecção nacional jogam sempre os melhores atletas que temos no país, sendo que os meus foram escolhidos cuidadosamente. E aquilo que vocês puderam ver, nos dois jogos contra a Namíbia, espelha o nível dos jogadores que temos em Moçambique e o trabalho que tenho vindo a fazer com eles, há mais de dois meses. A nossa filosofia de trabalho é unir o útil ao agradável, ou seja, praticar um futebol vistoso que ganha jogos. É exactamente isto que tenho incutido nos rapazes e eles estão de parabéns por, durante a pré-eliminatória, terem colocado em prática tudo o que nós, como equipa técnica, pedimos. Durante a minha formação como treinador de futebol, na Espanha, aprendi que, para além da táctica e da técnica, era importante abordar o factor psicológico nos jogadores, algo que, consubstanciado com a eliminação da Namíbia, me faz crer que eu consigo motivar os meus atletas no sentido de alcançarem bons resultados.

@V – O calcanhar de Aquiles do futebol moçambicano residiu sempre na formação. Como seleccionador nacional de sub-17, qual é a estratégia que tem em vista para minimizar este problema?

DM – Nunca se pode falar de uma selecção nacional sem se referir aos clubes que fornecem os jogadores. O mesmo acontece a nível da formação, em que as várias colectividades que temos no país são as que devem batalhar muito para inverter o actual cenário de modo a garantirem que, no futuro, possamos ter estrelas no futebol. Como treinador de uma selecção jovem, devo-me preocupar em associar o meu trabalho àquilo que eles aprendem nos seus respectivos clubes, na medida em que eles passam mais tempo a treinar lá, do que comigo. Não é papel de uma federação formar jogadores, mas sim de coordenar para que haja formação e massificação nesta modalidade.

@V – Qual é a situação contratual de Dário Monteiro e o que a ªFMF” colocou como objectivo aquando da assinatura do contrato de trabalho?

DM – O vínculo contratual que me liga à Federação Moçambicana de Futebol é válido por um ano, ou seja, vai até Abril de 2015. E a minha missão, durante este período, é dar o meu contributo na formação de jogadores para as selecções vindouras, obviamente recrutando novos talentos para arquitectar, a curto prazo, uma equipa de sub-17 de Moçambique. Neste momento estou concentrado na zona sul do país mas tenho, como projecto, expandir a ideia para o centro e norte do país.

@V – Partindo do princípio de que o trabalho de formação é bastante complexo, sente-se confortável com este contrato válido por apenas 12 meses?

DM – Esta questão foi colocada a uma pessoa errada. Eu fui convidado para ser seleccionador e propuseram-me um contrato de um ano. Durante este período, eu devo dar o meu melhor, apesar de reconhecer que é curto. Mas não me queixo disso, pelo contrário, a minha preocupação é potenciar os jogadores que farão parte das futuras selecções nacionais de futebol.

@V – O próximo adversário de Moçambique é selecção de Angola, na primeira eliminatória de acesso ao Campeonato Africano de Futebol de sub-17. O que se pode esperar da equipa liderada por Dário Monteiro?

DM – O nosso objectivo é transitar para a fase final. Estamos cientes das dificuldades que teremos pela frente diante da selecção angolana, sendo por isso necessário ter garra, determinação e humildade durante os 180 minutos. São estas três coisas que eu tenho pedido aos meus jogadores e que, na minha óptica, são a base de sucesso de qualquer desportista na sua carreira. Mas é importante afirmar que eu não sou de promessas, mas sim de apresentar trabalho. Portanto, o futuro irá determinar se a nossa caminhada foi, ou não, boa.

@V – Dário Monteiro surpreendeu muita gente ao convocar seis jogadores do Nacional de Maputo, um clube amador da capital do país. Qual foi a motivação?

DM – Quando comecei a trabalhar como seleccionador, Moçambique tinha de se preparar para as eliminatórias de acesso ao Campeonato Africano de Futebol de sub-17. Naquela altura, o Nacional de Maputo ocupava a primeira posição da tabela classificativa do Campeonato de Juvenis da Cidade de Maputo, factor que me motivou a falar com o respectivo técnico a fim de me ceder os seus melhores jogadores. Falei, igualmente, com os treinadores de outros clubes. Mas, os rapazes do Nacional mostraram mais capacidades comparativamente aos restantes. Foi por isso que continuaram na minha equipa, sabido por todos que numa selecção jogam apenas os melhores.

@V – Caso Moçambique não se consiga qualificar para a fase final do “Africano”, a isto se poderia considerar um fracasso, atendendo a esta capacidade de liderança de Dário Monteiro?

DM – Seria um fracasso se não tivéssemos passado da pré-eliminatória, sabido que a Namíbia era uma selecção acessível. Se não conseguir alcançar o objectivo de estar na fase final do Campeonato Africano de Futebol de sub-17, não me sentirei frustrado. Lá estarão os melhores e, se não formos nós, haverá sempre outros.

@V – Qual é o sonho de Dário Monteiro nesta nobre profissão de treinador de futebol?

DM – Conforme disse anteriormente, treinar a selecção de sub- 17 é a minha primeira experiência de trabalho como treinador. O meu objectivo é comandar uma equipa, visto que tenho capacidade para tal. Formei-me durante dois anos na Espanha, porém ainda não tracei o meu futuro.

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