Edson André Sitoe, conhecido nos meandros desportivos por Mexer, defesa central do Nacional da Madeira e da selecção nacional de futebol, foi considerado, a par de Luisão, do Benfica, o melhor central da última edição da primeira Liga Portuguesa de Futebol, a “Zon/Sagres”. Em Moçambique, ao serviço dos “Mambas” que lutam por uma vaga na fase de grupos de acesso ao Campeonato Africano das Nações, aquele atleta aceitou, nesta semana, ser entrevistado pelo @Verdade para falar da sua carreira.
Ainda é espantoso para uns afirmar que Mexer Sitoe foi descoberto pelo Desportivo de Maputo, clube no qual cumpriu todas as etapas de formação, num Torneio Juvenil de Futebol da Cidade de Maputo, vulgarmente conhecido por “SOBEC”. Como qualquer outra criança, aquele central, quando dava os primeiros toques na bola, alimentava o sonho de pisar nos maiores palcos desportivos mundiais, seja com a camisola da selecção nacional, seja com a de uma colectividade internacionalmente reconhecida.
Nascido na cidade de Maputo a 09 de Outubro de 1988, Mexer Sitoe abandonou o país em Dezembro de 2009, com 21 anos de idade, rumo ao Sporting de Portugal, o seu clube de coração. Pode antever-se, com esta simples introdução, que o central moçambicano concretizou o seu maior sonho. Porém, o negócio da ida ao colosso português não correu conforme o esperado.
@Verdade – Em 2009 saiu do Desportivo de Maputo para o Sporting de Portugal. O que terá falhado na sua estadia naquele clube?
Mexer Sitoe – Cheguei numa altura em que nos leões havia um leque de jogadores talentosos que jogavam na zona central da defesa. Eu estava em desvantagem porque vinha de um clube, de um campeonato, até mesmo de um país de menor expressão a nível internacional. Praticamente eu ia tentar a sorte no meu clube de coração.
O negócio falhou mas eu não me dei por vencido. Continuei a trabalhar com garra e determinação na esperança de me firmar no campeonato português. Apesar das dificuldades que tive no início, no que à metodologia de treino diz respeito, que era muito diferente daquilo a que eu estava habituado no Desportivo, eu dei o meu melhor até ser cedido, por empréstimo, ao Olhanense. É preciso dizer que na minha primeira época não efectuei nenhum jogo em Portugal.
@V – Foi no Olhanense que conseguiu afirmar-se?
MS – O Olhanense deu-me a oportunidade que eu não tive no Sporting, que era de jogar e mostrar aquilo que sei fazer dentro das quatro linhas. O pouco que fiz na cidade de Olhão rendeu a minha contratação pelo Nacional da Madeira.
@V – E sente-se bem no Nacional?
MS – Não tenho vergonha de afirmar que é a minha segunda casa depois do Desportivo de Maputo. No Nacional eu fui muito bem recebido pela direcção, equipa técnica, colegas e adeptos. Sinto-me impressionado a cada dia que passa pelo especial carinho que as pessoas da Madeira têm por mim.
@V – Esteve perto de assinar pelo Rennes da França em Janeiro. O que terá falhado nas negociações?
MS – Não fiquei no Rennes por causa de um problema interno do clube. Não chegámos a nenhum acordo e, naquela altura, o clube corria sérios riscos de descer de divisão. O meu empresário e o meu treinador aconselharam-me a voltar para, com o Nacional, lutar por um lugar nas competições europeias.
@V – Hoje o Nacional da Madeira é visto como um clube dos moçambicanos. Seria correcto afirmar que foi Mexer que abriu as portas para outros compatriotas, nomeadamente Zainadine Júnior, Reginaldo Faite e Telinho?
MS – Se realmente abri as portas para os jogadores moçambicanos, isso aconteceu graças ao meu desempenho e às minhas exibições. É sempre bom jogar num clube internacional ao lado de compatriotas e amigos de infância. Fiquei bastante feliz com a chegada de Zainadine Júnior e, mais tarde, de Reginaldo.
@V – Sabemos, também, que Zainadine chegou ao Nacional da Madeira por recomendação de Mexer.
MS – Realmente. Eu é que indiquei o Zainadine ao mister Manuel Machado por conhecer as suas capacidades. Eu disse-lhe que em Moçambique havia um jogador muito talentoso e que facilmente se podia adaptar ao estilo de jogo do Nacional da Madeira. Felizmente, o meu colega provou que realmente tem muito valor e que eu não estava enganado, apesar de ter sofrido uma lesão nos primeiros meses.
@V – E sobre a ida de Reginaldo para o mesmo clube?
MS – Com a chegada deste talentoso avançado, a família moçambicana na Madeira ficou fortalecida. Entre mim e Zaina reinava o espírito de interajuda. Com a vinda de Reginaldo ficámos ainda mais unidos de modo a ajudá-lo a adaptar-se rapidamente ao futebol português. Chegou, enquadrou-se e conseguiu fazer grandes exibições. Até marcou alguns golos. Ele é muito acarinhado pelos adeptos do Nacional. Só espero que na próxima época consiga fazer mais do que fez nestes seis meses que esteve com a equipa.
@V – Nesta semana soubemos que Telinho vai fazer testes médicos e físicos no Nacional a fim de ser contratado. Foi também por indicação de Mexer?
MS – Eu acho que Telinho é um grande jogador. Passou por aqui no passado e isso poderá ser vantajoso para ele, sabido que, por outro lado, ele vem do futebol sul-africano. Se depender de nós os três, ele veio para ficar no Nacional da Madeira. Que esta seja a sua nova casa.
“O mister Manuel Machado sabe que os jogadores moçambicanos são talentosos”
@V – Os “três mosquiteiros”, como carinhosamente são chamados pela Imprensa lusa, têm lugar garantido no Nacional da Madeira. O que leva o treinador Manuel Machado a apostar nos jogadores moçambicanos?
MS – Os jogadores moçambicanos são muito talentosos e batalhadores. Aqui, por exemplo, nós damos o nosso melhor pela equipa. Fazemos de tudo para convencer o técnico. Creio que seja isso que faz com que o clube ou o mister Manuel Machado confie absolutamente em nós.
@V – E quais são as vantagens de jogar no Nacional do Madeira?
MS – Primeiro, deixa-me dizer que estar no estrangeiro é o grande objectivo de qualquer atleta. Segundo, jogar neste futebol dá mais confiança a mim, como jogador, bem como à selecção nacional, pois transmito a minha experiência aos meus colegas. Na minha opinião, essas são as grandes vantagens de estar no futebol português.
“Shafee e Zuneid Sidat foram preponderantes na evolução da minha carreira”
@V – Quem é o responsável pela carreira de Mexer?
MS – Zuneid e Shafee Sidat são as pessoas que me lançaram no futebol internacional. Eles foram preponderantes na minha evolução como jogador. Se hoje sou o que sou, devo muito a eles. Depois de Shafee ter batalhado muito para que eu ficasse em Portugal, Zuneid Sidat é que tem acompanhado de perto a minha carreira e tem-me dado muitos conselhos sobre aquilo que é bom ou mau. Este último, meu empresário, vive actualmente em Portugal e, apesar de estar no continente, desloca-se sempre para me ver jogar no Funchal.
“Estou a investir no ramo imobiliário”
@V – Há quem diga que os jogadores moçambicanos que actuam no estrangeiro ganham muito dinheiro. Quando terminar a carreira daqui a dez anos, o que será de Mexer Sitoe?
MS – Neste momento estou a investir no ramo imobiliário, mas penso em “atacar” outras áreas que verei com o tempo. Investimentos a longo prazo são coisas que nós não podemos deixar de fazer. Isso irá beneficiar-me no futuro. Na gerência do dinheiro que ganho está a minha família.
@V – Sonha um dia regressar ao futebol moçambicano?
MS – Conforme havia dito, o Desportivo de Maputo é a minha primeira casa. Se for possível, gostaria de terminar a minha carreira neste clube. Mas o futuro só a Deus pertence.
CAN-2015
MS – Conforme disse o mister João Chissano, o nosso principal objectivo é estar na fase de grupos de apuramento para o CAN. Creio que temos capacidade para lá estar para, a partir daí, dar saltos altos. O povo moçambicano que fique descansado, pois faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para chegar a Marrocos.