Descendentes angolanos e cabo-verdianos pediram socorro às autoridades santomenses perante o perigo da derrocada iminente do hospital da roça que ostenta o nome do primeiro Presidente angolano, Agostinho Neto, localizada na zona norte do arquipélago, apurou-se, neste fim de semana, em São Tomé.
O pedido de socorro foi feito pelos representantes da comunidade Agostinho Neto no programa Linha Directa da televisão santomense numa edição entitulada “Agostinho Neto, um património histórico em Ruínas”.
O jurista Alberto Catambi, descendente angolano e presidente da associação dos moradores da Agostinho Neto, disse que “existe uma intenção propositada das autoridades santomenses em eliminar a comunidade Agostinho Neto” a julgar pela sua inércia em salvar a empresa.
A mesma opinião foi partilhada pelo jovem Euclides Boyu, que lembrou que várias organizações da sociedade civil manifestaram o desejo de desenvolver acções em benefício da comunidade mas que nenhum projecto foi executado.
Segundo eles, várias obras ocorrem no país no mundo rural, mas a comunidade Agostinho Neto sempre esteve à margem desses investimentos, visando a melhoria das condições de vida das pessoas.
Por seu turno, Augusto Pereira, descendente cabo verdiano, afirmou que a população da comunidade só é recordada em épocas de eleições e “se calhar fazem isso por saberem que somos filhos de Cabo-verdianos e Angolanos”.
A 7 de Fevereiro passado, uma parte do hospital local cedeu e desabou para o desalento dos populares. Este episódio, segundo Euclides Boyu, é fruto do “vandalismo progressivo” de que a infraestrutura da antiga empresa agrícola tem sido alvo, nos últimos anos, por parte de alguns jovens contra os quais as autoridades competentes “não conseguem tomar medidas”.
“Jovens arrancam vigas e barrotes que sustentam o edifício e vendem porque isto tem gerado dinheiro. Esses infractores vivem na empresa, já tentamos conversar mas não puseram termo a isto”, disse.
Localizada no distrito de Lobata numa área de cinco hectares, a Roça Agostinho Neto foi fundada em 1865 por Gabriel Bustamante, e mais tarde adquirida e explorada por José Luis Constantino Dias Marques Valle Flor.
O risco de desabamento que todos temem deve-se ao facto de a conduta que transporta água canalizada para os chafarizes públicos na empresa terem rebentado e toda a água estar a infiltrar-se na terra que sustenta o hospital e as casas circundantes.
“O nosso medo é que o hospital se desmorone de noite pois que, em quase todo o canto do quintal, verifica-se a água a infiltrar-se no chão”, afirmou Euclides Buyo. As vias principais de acesso àquela antiga empresa estão em avançado estado de degradação, e a população não consome água potável, expondo-se a várias doenças de origem hídrica.
“Temos uma deputada no parlamento que não nos defende, e quando nos deslocamos ao hospital diz-nos, por mais caricato que pareça, que temos problemas de saúde devido a água que consumimos”, desabafou.
A imagem do hospital Agostinho Neto encontra-se estampada nas notas de cinco mil dobras (moeda local) e a infraestrutura é considerada um dos mais ricos patrimónios históricos do arquipélago.
Devido às relações históricas seculares que ligam santomenses e angolanos, o nome do primeiro presidente de Angola foi atribuído a empresa, onde se localiza também um busto do pai da nação angolana.
A roça Agostinho Neto consta duma artéria central fortemente marcada pelo imponente hospital implantado na extremidade mais elevada, numa extensa avenida ladeada por um conjunto de senzalas com terreiros privados das habitações dos trabalhadores.
O hospital construído nos anos 20, ergue-se através de duas grandes alas, masculina e feminina, separadas pelo corpo central, onde se localizam as enfermarias, a maternidade, a lavandaria, a cozinha e outros compartimentos que estão a ser “engolidos” pela fúria do capim.