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Água à míngua

Novas restrições de água nos municípios de Maputo e Matola

O acesso a água potável nos grandes centros urbanos e na periferia continua difícil. Os munícipes acham que o abastecimento tende a piorar, apesar da construção de infra-estruturas de captação, tratamento e distribuição. Nas zonas rurais vive-se um drama constante e, regra geral, pessoas de todas as idades palmilham bairros à procura de um bidão do precioso líquido, o qual é adquirido, depois de tanto sofrimento, a dois meticais, um preço que para certas famílias é proibitivo.

O acesso a água ainda é deveras insignificante em Moçambique. As estatísticas indicam que cerca de metade da população, estimada em 23 milhões de pessoas, não beneficia do precioso líquido. Em situações como estas, vários cidadãos “curvam-se” diante daquelas famílias que possuem poços tradicionais e suplicam um bidão de água. No meio rural, onde vive a maior parte dos moçambicanos, o número de gente sem este bem essencial mantém-se elevado.

A água é fonte da vida. Prova disso é que como alternativa, as comunidades expõem-se e enfrentam crocodilos para aliviar o sofrimento a que estão sujeitas. Nos centros urbanos a situação tem estado a melhorar mercê da instalação de novas unidades de captação e tratamento de água, bem como a substituição das condutas obsoletas, contudo, o calvário persiste. Entre sábado e domingo passados, as zonas suburbanas dos municípios de Maputo e Boane estavam desprovidas de água em resultado da substituição de duas válvulas de grande dimensão no bairro de Chamanculo, o qual garante o fornecimento àquelas autarquias.

José Maria Adriano, porta-voz e director de Recursos e Comunicação da empresa Águas da Região de Maputo, explicou ao @Verdade que o trabalho foi realizado no fim-de-semana para evitar prejuízos às indústrias. A firma indica ainda que emitiu um aviso, ao qual, porém, pouca gente teve acesso. Milhares de cidadãos foram encontrados desprevenidos e com os reservatórios vazios. Todavia, o nosso interlocutor referiu que as obras em causa são da responsabilidade do Fundo de Investimento e Património do Abastecimento de Água (FIPAG) e não da companhia que representa, a qual estava apenas a ajudar.

No bairro de Malhampsene a escassez do precioso líquido afecta os quarteirões cinco e seis desde meados do ano passado. Em contacto com a nossa Reportagem, a população manifestou-se desapontada com o FIPAG e disse que é inconcebível, no século XXI, acordar-se por voltas das 03h:00 para buscar água algures, onde, apesar da disponibilidade durante algumas horas do dia, o fornecimento é deficitário e é feito com restrições. Os restantes quarteirões dispõem deste bem essencial, porém, somente na parte da manhã e sem pressão nenhuma.

Na Mafalala, há meses que os moradores daquela área periférica da cidade de Maputo não têm água potável. Contudo, a firma que fornece os serviços nunca deixou de emitir facturas. Num dia de calor abrasador, encontrámos Joaquina Macia, por acaso, numa das ruelas daquela zona, com um bidão vazio à cabeça e aflita. Ela é secretária do bairro e residente no quarteirão 23. A senhora não escondeu a sua insatisfação em relação aos serviços prestados pelas Águas da Região de Maputo e pelo FIPAG:

“Neste bairro sofremos bastante. Apesar de termos torneiras nas nossas casas, há meses que não pinga nenhuma gota de água. Mesmo assim, mensalmente a empresa envia-nos facturas de consumo que varia de 350 a 500 meticais. Gostava de perceber que fim se dá a esse dinheiro porque, para além de eles (as duas firmas) terem parado de fazer a leitura aos contadores, não fornecem água. No meu caso há quase um ano.”

À semelhança de Malhampsene, na Mafalala, os habitantes levantam da cama por volta das 3h:00 e só conseguem um bidão de água por volta das 10h:00 porque nos lugares onde buscam o precioso líquido há filas enormes. Eles gostariam que alguém ouvisse o seu clamor e fizesse algo para evitar o sofrimento por que passam.

“Estamos a pagar por um serviço que não existe. Na minha casa a água não jorra desde Novembro do ano passado e ninguém me explica o que se passa. Entretanto, mensalmente recebo as facturas de consumo, apesar de todos os dias eu comprar água a dois meticais por bidão. Quando não há água onde compramos habitualmente consumimos a dos poços, pese embora não esteja em condições para o efeito”, contou Alzira Castro, moradora na rua 3.043 na mesma zona.

No mesmo bairro, Celestino Langa é uma das pessoas cujas torneiras jorram água durante algumas horas, diariamente. Por via disso, a sua casa enche de gente proveniente de vários quarteirões de Mafalala com o propósito de encher pelo menos um recipiente. O cidadão admitiu que a empresa Águas da Região de Maputo e o FIPAG proíbem os seus clientes de vender de água a terceiros, mas ele não pode deixar de ajudar quem precisa por causa dessa inibição, cobrando dois meticais por cada bidão de 25 litros.

Os moradores do bairro Patrice Lumumba, no município da Matola, queixam-se do mesmo problema. Arlete Massinga, residente no quarteirão 30, disse-nos que desde 02 de Janeiro último que não tem água fornecida pelas Águas da Região de Maputo nem pelo FIPAG, mas recebe a factura de consumo.

A empresa Águas da Região de Maputo explicou-nos que a 12 de Junho de 2013 deu entrada uma carta da Comissão dos Moradores do bairro da Mafalala dando conta de que há falta de água. Fez-se um trabalho que culminou com a identificação de 95 clientes sem água nos quarteirões 36, 37, 38, 40, 41, 42, 43 e 45. José Adriano, porta-voz daquela instituição, nega que ainda haja alguém a pagar facturas sem no entanto consumir água. A empresa está a estudar formas de devolver os valores colectados de forma injusta, cuja dívida é estimada em 144.609,45 meticais. O trabalho ainda está em curso e podem ser identificadas outras pessoas lesadas.

Segundo o nosso interlocutor, no bairro da Mafalala há clientes sem água devido à vandalização da tubagem num troço de 100 metros, na Rua Eusébio da Silva, perpetrada por indivíduos desconhecidos, porém, neste momento decorre um levantamento das famílias abrangidas com vista a serem abastecidas a partir da nova conduta. José Adriano disse ainda que o melhoramento do provimento do precioso líquido na Mafalala depende da conclusão de uma conduta cujo término das obras estava previsto para Outubro passado. Entretanto, a construção ainda não findou e “de acordo com a última informação que tivemos, provavelmente irá terminar em Março próximo.”

Relativamente ao bairro Patrice Lumumba, o porta-voz das Águas da Região de Maputo disse que há queda de pressão em algumas casas que se encontram na zona alta. “Estamos a trabalhar na identificação das causas…” De cordo com João Barata, director da área operacional no FIPAG, no bairro de Malhampsene existem 18 mil clientes que dependem das mesmas infra-estruturas de Tsalala, que também abastece os bairros de Mulotana, Txumene, Sicuama e Mussumbuluko. O consumo é grande e existem projectos em curso para minimizar o sofrimento da população.

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