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Valas de drenagem ou aterros?

Valas de drenagem ou aterros?

O sistema de drenagem da cidade do Maputo está a desaparecer progressivamente, por desgaste natural, por vândala acção humana e, pior, por irresponsável negligência da edilidade. Não se pode pensar nem dizer menos, à vista de uma total ausência de manutenção, que qualquer prática rotineira exige nestes casos. Hoje, por cada chuvisco, chuva ou enxurrada, desabam camadas da estrutura, numa progressão que acabará por apontar novos projectos e respectivos financiamentos.

Começando exactamente pela zona que se chama Drenagem, junto dos estaleiros da Ceta, num percurso em direcção ao Infulene, o primeiro sinal de destruição tem como característica fundamental a saída de algumas lajes que constituem as paredes da drenagem. Sai uma e saem duas e as subsequentes vão seguindo o exemplo, quer por inércia, quer por um empurrão das chuvas que vão arrastando as sub-areias.
É possível, num espaço de uma semana, verificar o alargamento crescente de uma zona danificada, com o surgimento de crateras onde outrora foram paredes. Estranhamente, as estruturas de betão que desfazem ficam depositadas no leito da drenagem. Como consequência destas barreiras, detritos de todo o género acumulam-se no sistema, que se transforma numa lixeira com alguma água a tentar passar.
Com efeito, em muitos desses trechos, a água, razão fundamental do sistema de drenagem, tornou-se um elemento escasso, como se ali estivesse de boleia. A acção humana neste processo de destruição consiste em transformar a vala de drenagem em aterro sanitário. Seja abertamente ou não, o certo é que as populações daquelas zonas atiram tudo quanto é resíduo sólido às valas de drenagem.
Numa observação superficial, poder-se-ia pensar que são apenas sacos plásticos e pouco mais que latarias de folha-de-flandres que surgem casualmente a flutuar. No entanto, este tipo de detritos é o visível, pois no fundo do que deveria ser o leito, estão depositados todos os outros lixos, de cozinhas e quintais. De facto, se alguma água ainda vai por esta drenagem é por ser muita e ainda se servir do princípio dos vasos comunicantes. Quer isto dizer que, em condições normais, o volume de água drenada poderia ser dez vezes superior ao actual.
Provavelmente, alguém poderá dizer que a falta de manutenção de rotina se deve à escassez de recursos financeiros no Município. Só que não procederia tal argumento, porque remover regularmente o lixo que se deposita na drenagem não requer mais do que as mesmas pessoas que varrem a cidade, de que a drenagem faz parte. Fundamental é que varram.
Na sequência desta não limpeza, começaram a desenvolver-se formas de vida vegetal que agravam a ineficácia do sistema. Este facto por si legitima as pessoas a deitarem mais lixo, a pretexto de se tratar de matas. No caso particular e extremo da drenagem da Malanga, Praça da OUA, onde dezenas de pessoas eram vistas  a banharem-se diariamente nas águas sujas, hoje já não podem ter esse prazer suíno, porque a drenagem ficou lixeira. Para mais, a destruição da ponteca piorou a situação.
Citar tão poucos exemplos resulta do facto de que toda a drenagem está neste deplorável estado e não há quem não veja isto todos os dias. Esperar por um desses financiamentos chineses, que caem às catadupas, não resolverá o problema, pois se conseguimos destruir o  que fizeram os holandeses, nada custaria desfazer coisa de chineses, sempre frágeis e despachadas. Melhor é fazer obras de manutenção enquanto é tempo.  É que obras como a reposição de uma lajinha que ficou fora do lugar ou remover pedras que impedem o normal curso das águas da drenagem não precisam de qualquer especialista e bem quadram nos mais ligeiros orçamentos funcionais do departamento que disso deve cuidar na edilidade.

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