“Mandela: Longa Caminhada até a Liberdade” recebeu elogios dos sul-africanos que correram para ver a sua estreia, mas os críticos não se impressionaram, e um deles chegou a descrever o mais recente filme biográfico sobre o líder antiapartheid como excessivamente reverencial à propaganda do ANC.
Com o primeiro-presidente sul-africano agora com 95 anos e em mau estado de saúde, os espectadores sentiram-se emocionados, quinta-feira (29), na primeira exibição do épico de 150 minutos, que tem o actor britânico Idris Elba no papel de Mandela e Naomie Harris como sua mulher, Winnie Madikizela-Mandela.
“Foi uma experiência extremamente calorosa e emotiva para mim”, disse Seedat Tahera, de 42 anos, elogiando o clima autêntico do filme, rodado parcialmente em Soweto, a enorme favela na periferia de Johannesburgo que esteve no centro da luta contra o domínio dos brancos no país.
“Eu cresci nas ruas da favela de Alexandra e, para mim, cada passo dado pelo senhor Mandela era como se eu estivesse a dar aquele passo de novo. Isso me trouxe uma grande tranquilidade e paz. Eu me sinto muito amada e feliz por ser sul-africana.”
Mandela, que se tornou presidente em 1994, mas só cumpriu um mandato, deu ao produtor independente sul-africano Anant Singh os direitos de filmagem da sua autobiografia há mais de 15 anos. Boa parte da dificuldade para levar o livro às telas concentrou-se na condensação de uma história que perpassa seis décadas, incluindo 27 anos de prisão, num roteiro de duas horas.
Singh e o director britânico Justin Chadwick decidiram focar na luta de Mandela contra o apartheid e os danos que causou à sua família. Eles também tentaram mostrar o lado bom e o mau, incluindo a opção pela violência, que resultou na sua condenação à pena de prisão perpétua.
Mas os críticos disseram que o filme fracassou nessa meta e, em vez disso, tornou-se uma nova peça na máquina de criar mitos que o partido Congresso Nacional Africano (ANC) e outros criaram sobre Mandela.
“Ao não tratar de nenhum modo significativo das políticas de Mandela e recusar-se a dedicar algum tempo para examinar o que o levou a ter papel tão preponderante no movimento de libertação, o filme presta a si próprio um desserviço intransponível”, escreveu o crítico Tymon Smith.
“O filme simplesmente reforça a propaganda hagiográfica do ANC”, escreveu ele no jornal sul-africano Times. O jornal de Soweto elogiou a poderosa interpretação dos actores, mas disse que a obra passa por cima de vários factos.
“Encaixar uma história tão longa e repleta de eventos num filme de duas horas sempre seria uma tarefa gigantesca”, disse o jornal. A família de Mandela e o ANC, o movimento de libertação criado há 100 anos e que governa a África do Sul desde o fim do apartheid, aplaudiram o filme.