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“A tubagem não aguentou”

“A tubagem não aguentou”

Num dia ensolarado de uma quinta-feira, um grupo de mais de 100 pessoas – com baldes e bidões na cabeça – procura um pouco de água para tocar a vida nas instalações do FIPAG, em Quelimane. Ao redor, crianças, bicicletas e um funcionário que exige facturas de pagamento da taxa mensal de consumo compõem o cenário do drama que a urbe viveu durante três dias de restrição de abastecimento de água.

As instalações do FIPAG transformaram-se no ponto de convergência dos munícipes de Quelimane. O rompimento da tubagem que corre pelo solo da avenida Heróis da Libertação, na madrugada da quinta-feira, quando jovens eufóricos celebravam nas ruas da urbe e nos bairros mais distantes do centro da cidade a vitória de Manuel de Araújo, uma parte da rua ficou inundada de águas que brotava do ventre da via. “Não deve ser nada”, disse-nos um repórter do Jornal Txopela e prosseguimos, sem parar, a nossa digressão pelas escolas de Quelimane à procura de editais. Eram duas horas e pouco.

Às 7horas do mesmo dia, com a cidade já congestionada, compreendemos que aquela avaria era – pelo menos na linguagem dos funcionários do FIPAG e na carência que desabou sobre os munícipes – grave. A explicação de uma fonte da empresa responsável pelo expansão do sistema de abastecimento de água é simples: “A tubagem rebentou devido à descarga feita em Licuar”, lugar onde se encontram os furos.

A imagem de duas crianças com baldes de água numa bicicleta é uma espécie de fotografia desfocada da crise que se abateu sobre Quelimane, só nítida na romaria que desembocou no FIPAG. Essa imagem, apesar de grave, é a antítese do vida em Icidua, o constrangedor destino que nenhum quelimanense quer experimentar. Nem ali nem em qualquer outro lugar.

“Isto é demais”, desabafa um idoso na fila. “É sabotagem da Frelimo. Perderam e agora querem castigar os quelimanenses”, acrescenta um jovem com ar de quem não dormiu. A teoria de conspiração corre célere na fila dos que procuram um pouco de água. A explicação dos funcionários do FIPAG é descartada. Sem, contudo, contar que é pouco convincente.

Até porque a tubagem deve ter em conta qualquer sobrecarga. Portanto, o rompimento da mesma só pode derivar de mau cálculo ou até, mais grave, de manifesta incompetência. A única explicação para o sucedido fora da esteira da sabotagem, alega um munícipe, é incompetência. “De modo que se optou pela via de explorar o equipamento até à completa exaustão, pelo que se deu o rompimento”.

“Vão lá pedir água ao MDM e Araújo”, gozavam os simpatizantes da Frelimo aos cidadãos que saíam dos bairros para as instalações do FIPAG. A água foi um grande problema, nestes três dias, mas também negócio lucrativo numa cidade de 71 anos que carece de um abastecimento de qualidade. Em Inhangome, um dos bairros mais carenciados da urbe, Cândido Celestino esfrega as mãos de contentamento pela desgraça que se abateu pelos demais. Tristeza de uns e alegria de outros, o adágio é velho e foi celebrizado pela vivência dos homens ao longo dos séculos. Hoje, diz, “as pessoas terão de vir comprar água na minha casa”. E não foi só na quinta- -feira. Foram três dias de “prosperidade”. “Fiz seiscentos meticais em três dias”, disse, satisfeito.

Um mercado sem água

@Verdade visitou o mercado Brandão para compreender a dimensão do problema. Eis a lista compilada de estragos por ordem de aparição: bancas sujas, abandonadas, produtos deteriorados, corredores nauseabundos e redução da procura. Brandão, um dos espaços comerciais informais mais concorridos da urbe, equivalia a uma terra de ninguém.

Volta à normalidade

Efectivamente, foram 48 horas sem fornecimento de água em termos absolutos. O terceiro de dia de crise ficou marcado pelo restabelecimento paulatino do fornecimento em certas zonas, sobretudo na cidade de cimento. No entanto, @Verdade soube que funcionários do FIPAG condicionavam o fornecimento de água à apresentação da última factura de pagamento aos cidadãos que se socorriam do seu depósito.

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