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Combater a pobreza a pintar unhas e manipular balatas

Verniz, lima, corta-unhas, máquina de secar, ligaduras, são alguns produtos e instrumentos a que Alberto Mutambe, de 28 anos de idade, residente no bairro de São Dâmanso, no município da Matola, recorre para sobreviver. Ele pinta as unhas. Sempre com uma mochila às costas, o jovem percorre as principais zonas do município da Matola à procura de mulheres que queiram embelezar as suas unhas. Há dez anos que se dedica a este trabalho, que aprendeu do seu tio.

Em 2003, com 18 anos de idade, quando Alberto Mutambe desembarcou no terminal de transportes da Junta, ido da província de Inhambane, acreditava que iria encontrar, na capital do país, um emprego formal e que a sua vida podia mudar radicalmente para o melhor. Entretanto, Maputo não era o “eldorado” que imaginava.

A luta do nosso entrevistado pela sobrevivência foi deveras amarga. E depois de vasculhar editais de provimento de vagas emprego sem sucesso, Alberto Mutamba decidiu passar a pintar unhas como ganha-pão.

O jovem a que nos referimos iniciou a actividade com 200 meticais. No começo foi muito difícil desenvolver o seu trabalho por causa da inexperiência. Não gerava lucros suficientes para sobreviver e as suas caminhadas pelos diferentes bairros da Matola e arredores chegavam a ser em vão, porém, não desistiu.

Volvidos anos, Alberto Mutambe não esquece o sofrimento pelo qual passou para garantir que não faltasse comida na sua casa, mas sente que a sua vida melhorou consideravelmente. Aos fins-de-semana, os ganhos decorrentes do seu ofício são maiores porque muitas mulheres embelezam-se para se dirigirem a vários eventos festivos. “A maior parte das clientes liga para mim a solicitar os meus serviços.”

Graças a esse trabalho, o jovem construiu a própria casa e os seus três filhos frequentam a escola. O grande incoveniente de que o jovem se queixa a Polícia que sempre vasculha a sua mochila supostamente para verificar se transporta ou não produtos ou objectos ilícitos. “Por isso, eu gostava de ter um cartão que me identificasse como vendedor ambulante”.

Ao @Verdade, o nosso interlocutor explicou ainda que a pintura simples de uma mão custa 7,5 meticais. Aplica-se o mesmo preço para os dedos de um dos pés. Os preços variam em função do tipo de embelezamento que cada cliente pretende nas suas unhas.

Alberto Mutambe disse-nos que não pensa em trabalhar para alguém nem numa empresa, o seu sonho é ser empreendedor e gostaria de ter uma banca própria, pois a vida de um ambulante cansa. Para instalar um lugar fixo precisa de 30 mil meticais, o que neste momento ainda não tem.

As mãos que manipulam balatas

Por sua vez, Jorge Macie, de 64 anos de idade, residente no bairro de Patrice Lumumba, no município da Matola, vive de um ofício que, talvez, para muitos é desconhecido, porém, fundamental para quem tem viatura e dela se desloca de um lugar para o outro. Hás 20 anos que as suas mãos cravam balatas e manipulam discos de embraiagem e calços.

Balata é uma peça de automóvel cuja função é travar as rodas traseiras e fica dentro de uma espécie de tambor chamada polia. Nesta encaixa-se a roda e em cada tambor ficam duas balatas. Em camiões, também, encontramos balatas atrás da caixa de velocidade, para auxiliar no estacionamento. Os calços servem para travar as rodas dianteiras.

Jorge Macie contou ao @Verdade que aprendeu a cravar e colar balatas, reparar discos de embraiagem e calços de um familiar que trabalhava numa oficina na baixa da cidade de Maputo, o qual o convidou para aprender esse ofício no seu local de serviço, no bairro de Mavalane. Depois da aprendizagem, Jorge Macie instalou uma oficina própria nas proximidades do Hospital Geral da Machava, no município da Matola, num espaço cedido por um amigo.

Jorge Macie vendeu alguns bens para conseguir o primeiro material com o qual começou o seu trabalho, nomeadamente “cola especial”cujo preço era proibitivo nem havia no mercado moçambicano, na altura, por isso, adquiria na África do Sul.

Esse negócio, segundo o próprio Macie, já foi lucrativo, mas actualmente não rende quase nada devido à proliferação de lojas de venda de acessórios de viaturas, alguns dos quais pirateados.

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