As Organizações da Sociedade Civil (OSC) deploram o actual estágio da Educação no país. No seu entender várias são as situações anómalas que se constatam neste sector, desde a má formação dos professores, passando pela falta de exigência mínima ao aluno na sala de aulas, o elevado rácio aluno-professor que apesar de ter apresentado uma relativa baixa continua muito acima do desejável, até desaguar no mau estado das infra-estruturas escolares que muitas delas não estão em condições de acolher pessoas com deficiência.
Esta posição foi apresentada durante a 14ª do Observatório de Desenvolvimento havido na última segunda-feira (16), em Maputo. Na altura, o representante das OSC, Humberto Zaqueu, baseando-se numa pesquisa produzida por estas, fez um retrato falado das situação actual do sector da Educação, concluindo no final que “a qualidade do ensino é muito baixa”.
Passagens semi-automáticas um erro fatal
Na sua intervenção, as OSC deram nota negativa ao sector da educação, apresentando para tal vários argumentos. Com base num estudo que as OSC terão feito, abrangendo diferentes zonas do país, o representante destas disse que se chegou à conclusão de que os alunos não nutrem nenhuma preocupação em relação às matérias que são leccionadas, uma vez que existem as passagens semi-automáticas.
“O aluno já não se preocupa com o saber, pois a transição de classe está garantida”, referiu para depois sentenciar afirmando que as passagens semi-automáticas criam preguiça e desleixo. E nesta ordem de ideia as OSC recomendaram ao Governo e ao Ministério de Educação (MINED) em particular a “abolição” desta modalidade.
O excesso de disciplinas nas primeiras classes é outra questão que foi apontada como estando por detrás das dificuldades dos alunos em assimilar as matérias. “Os conteúdos são ambíguos: foram banidas disciplinas tradicionais (ex.: Geografia e História) e introduzidas disciplinas “mistas” (ex.: Ciências sociais) ao nível do ensino primário, com conteúdos menos consensuais”.
No que ao professor diz respeito, as OSC consideram que a maior partes destes “não têm vocação” para ensinar. “Abraçam esta área apenas como forma de gerar rendimento e não para servir de forma objectiva os intentos da educação”
Na sua pesquisa as OSC afirmam terem encontrado “evidencias sustentadas” de professores que falam e escrevem mal, e outros que não dominam as matérias que leccionam. Contudo os constrangimentos destes profissionais não terminam só nisso, pois na hora de receber os seus salários assiste-se a outra ginástica desgastante, constatou. Os professores afectos nalguns distritos são abrigados a fazer viagens que duram dois dias a outros distritos onde exista uma instituição bancária. Tal situação é causada pela cobertura limitada da rede bancária no país.
“O professor continua a enfrentar dificuldades na sua carreira profissional, sem fazer menção ao constrangimento secular das remunerações”, asseverou. Os directores das escolas são apontados como carecendo de conhecimentos de gestão escolar, particularmente nas componentes de motivação e resolução de conflitos.
Bilingue é um atraso
O ensino bilingue, introduzido no Sistema Nacional de Educação para facilitar a assimilação das matérias por parte das crianças que estudam nas escolas localizadas ao nível dos distritos distante das capitais e cujo domínio da língua portuguesa é fraco, também foi alvo da crítica.
Para as OSC o ensino bilingue constitui um atraso em relação à adaptação à língua portuguesa, desde modo o seu uso devia limitar-se às crianças de primeira e segunda classes.
Apesar de se ter estabelecido legalmente que as instituições de ensino devem reunir condições para acolher os alunos deficientes, ainda não se vislumbra, em muitas escolas, o cumprimento integral desta medida, o que resulta numa discriminação deste grupo social.
Na sua intervenção, as OSC ainda propuseram a alteração do actual lema da Educação que é “Vamos aprender: construindo competências para um Moçambique em constante desenvolvimento” para “Já aprendemos dos erros, vamos relançar a educação: melhorando a qualidade da educação em busca de competências que Moçambique precisa”
Reacção do Governo
Sobre este último ponto, o vice-ministro da educação, Itai Meque, em “defesa da honra” explicou que o lema escolhido pelo Governo inclui-se no princípio de que a educação é tarefa de todos. “É uma questão de auto-estima”, disse, acrescentando que optar pela proposta ora apresentada seria ignorar tudo que já se fez neste sector, que por acaso “não é pouco.”
Quanto às passagens semi-automáticas, um modelo de ensino que vem sofrendo críticas severas desde o princípio da sua implementação, repisou no velho discurso de que se trata de “passagem por ciclo.” “Não é verdade que as passagens são automáticas, porque o aluno que, no fim do ciclo, não reunido as competências suficientes é reprovado”
O governante disse ainda que o Executivo continua a trabalhar para melhorar o rácio aluno-professor, “mas há que perceber que isso não acontece de um dia para o outro, para além de que os moçambicanos continuam a fazer filhos”
Este tentou ainda refutar muitas questões que foram levantadas, sendo uma delas a da qualidade dos professores. “A selecção dos professores é rigorosa, observa-se a questão de quem foi o melhor e a vocação destes”. Para finalizar o vice-ministro asseverou que o “bilingue é um sucesso” e convidou as OSC a visitarem as escolas de província de Gaza, no sul do país para se certificarem.