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Há Tsunami? Inventemos a Solução (mesmo que) Utópica!

Há Tsunami? Inventemos a Solução (mesmo que) Utópica!

No seu primeiro livro, Do Tsunami Económico à Solução Utópica, Rui Santos escreve que ao concederem-se direitos iguais (o tratamento hospitalar, por exemplo) a todos os trabalhadores, sem considerar os seus hábitos de saúde, o sistema constitucional “não só é injusto, como também – grifo nosso – formula um convite ao relaxe, ao desinteresse e à preguiça”. Encontre o seu argumento.

Tem cerca de 80 páginas, foi publicada na semana passada, em Maputo, sob a chancela da editora angolana, o país do autor, Mayamba e chama-se Do Tsunami Económico à Solução Utópica. O livro de Rui Santos é histórico, não só pelo facto de ser o primeiro do autor, muito menos por ter sido apresentado pelo célebre escritor angolano Artur Pestana (Pepetela), mas, acima de tudo, pela estranheza das posições do seu autor as quais chama utópicas.

Estranheza, aliás, também foi sentida por Pepetela quando solicitado a fazer a presentação do livro que está a ser distribuído em Angola e Portugal e, agora, em Moçambique. Mas, aqui, o escritor pode ser percebido quando argumenta que não tem muita familiaridade com os temas de natureza económica.

“É certo que na minha licenciatura, na Argélia, ainda seguindo o padrão de ensino francês, tive umas seis cadeiras de economia, entre as quais uma intitulada Crises de Crescimento, em que o professor da boa escola capitalista francesa tentava convencer-nos de que as crises do dito sistema não só eram necessárias, mas eram uma oportunidade para o crescimento”, recorda-se Pepetela ao mesmo tempo que fazia as pazes com a ideia de falar sobre o livro.

Mas, atenção, se não fosse a amizade que existe entre ambos, nada nos convence de que Pepetela não se teria recusado a apresentar esta obra de leitura fácil.

Na cerimónia, Pepetela narrou factos da sua vivência com o autor, a partir da qual argumenta que Rui é “uma pessoa persistente além de visionária. Essa pequena história, entre outras que poderia narrar, mostra um dos seus traços de carácter no sentido em que dá importância a coisas simbólicas, sem se fazer de contabilista pois, se tem uma formação em contabilidade e ainda a utiliza, a sua imaginação está muito para lá de números e contas. Ele observa, lê e reflecte e acaba por dar um passo em diante. Sempre!”

Como rotular o Do Tsunami Económico à Solução Utópica? É uma obra que “incomoda e pode incomodar muita agente, movendo-lhe a pegar em velhos conceitos, alguns dos quais se tornaram cânones da academia que se pretendem ciências mas que, muitas vezes, são ideologias disfarçadas. Neste livro, Rui Santos apresenta ideias que atiram para o canto aquilo que muitos de nós, nas ciências sociais, definitivamente, teríamos como certo”.

Mas, então, do que é que fala o livro e como é que Pepetela relaciona tais assuntos com a realidade dos nossos países? A verdade é que “a crise económica do capitalismo – pois é sobre isso mesmo que se trata – além de ser a mais aguda da história, também tem a particularidade de ser absolutamente global. Ai de quem pensa que está salvo dos seus salpicos ou da sua vaga tenebrosa. Uns comentadores atiram as culpas para certos governos, sobretudo na Europa, onde, de repente, descobriram que os líderes obrigam os outros a trabalhar e eles próprios não põem os seus neurónios em labor produtivo”.

Pepetela afirma que “há lideranças fracas. Também se acusam de algumas cigarras descuidadas a dirigirem países que se endividaram alegremente, acreditando que os outros iriam pagar com empréstimos de países europeus, esquecendo-se de que tudo começou nos Estados Unidos da América”.

Um sistema que acomoda facilitismos

Lemos o livro, mas, apesar de ser de leitura fácil, a linguagem do economista não encanta muito. De qualquer modo, quando Rui Santos toma em consideração que um trabalhador que fume, não pratique exercícios de manutenção física, alimente-se mal e cometa excessos com regularidade – o que significa que não cuida da sua saúde – é obrigado a pagar o mesmo dinheiro que o que se cuida, depreende-se que “Este sistema não só é injusto, como também é um convite ao relaxe, ao desinteresse, à preguiça, pois estas são reacções normais da natureza humana ao ‘facilitismo’”.

É em cenários como estes que os argumentos do escriba se desenvolvem.

É por essa razão que Pepetela considera que “o autor de Do Tsunami Económico à Solução Utópica tem a sua explicação, para os sustos que vivemos, e a ousadia de propor uma solução que ele mesmo intitula de utópica. Como sabem, sou um adepto incondicional de utopias. E costumo dizer que procurar o impossível permite encontrar o possível. É esse o papel da utopia – mostrar um caminho”.

Como tal, diz Pepetela, “comungo, inteiramente, das preocupações do autor, sobre as consequências sociais da actual situação, e também com uma das suas soluções propostas, que é de tudo fazer para tentar dar emprego a toda a gente ou quase. (…) Estando nesse caso a pensar em Angola, o trabalho continua a ser – digam o que disserem os seus detractores com muitos doutoramentos na arte de ficar com o dinheiro dos outros – a base de sustentação não só de uma economia, mas também de um país ou até da humanidade. E associado ao trabalho, existe um esforço exigido para o crescimento e a melhoria constante da qualificação profissional e, portanto, da educação”.

Temos de convir que “o verdadeiro desenvolvimento passa por um sistema educacional avançado, exigente, rigoroso e alargado o mais possível. Sem isso não há redenção”. Por isso, um dos méritos deste Do Tsunami Económico à Solução Utópica é o facto de nos compelir para a “necessidade de se discutirem os assuntos, avançar com sugestões, sem medo de errar, rompendo tabus económicos, culturais e sociais porque o que conta é um consenso final”.

Aqui está a utopia

De acordo com o autor, “a solução da crise internacional passa por uma análise, bem profunda, dos direitos e deveres dos cidadãos”.

Afinal, “direitos gerais, com obrigações frouxas, conduzem a injustiças profundas. Tem de haver uma reflecção séria sobre a questão dos direitos e deveres dos cidadãos. Há países que, simplesmente, não têm peito para dar aos seus cidadãos o que as suas constituições respaldam. Isso deve ser reanalisado. Em Angola, por exemplo, quando se debateu a nova Constituição, a imprensa e os políticos estavam preocupados com a forma como era eleito o Presidente da República”.

Ora, para a maioria dos cidadãos, provavelmente, “isso é o que menos importa. A grande maioria das Constituições precisa de saber o que é que as pessoas têm como direito, mas também o que lhes é exigido em troca”.

 

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