A jornalista iraniano-americana Roxana Saberi, julgada em Teerã por espionagem a favor dos Estados Unidos, foi condenada a oito anos de prisão, apesar dos pedidos de Washington por sua libertação. “Roxana Saberi foi condenada a oito anos de prisão e eu vou apelar”, anunciou o advogado de defesa, Abdolsamad Joramshahi.
O pai da repórter denunciou que a filha foi enganada para que confessasse, em troca da promessa, não cumprida, de ser liberada. “Roxana nos disse que nada do que confessou era verdade, mas que a intimidaram e disseram que se cooperasse seria liberada”, afirmou Reza Saberi, sem informar quando aconteceu a conversa com a filha.
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, manifestou desapontamento e disse que Washington manifestaria com vigor as preocupações a Teerã. “Estou profundamente decepcionada com a sentença contra Roxana Saberi pela justiça iraniana”, afirmou Hillary, que está na Cúpula das Américas em Trinidad e Tobago.
O julgamento teve início na segunda-feira passada no tribunal revolucionário da capital, mas durou apenas um dia. “A jornalista foi autorizada a falar no tribunal para sua defesa”, declarou na terça-feira o porta-voz do poder judiciário, Ali Reza Jamshidi. Ele confirmou que Saberi foi acusada de espionagem “em favor de estrangeiros, dos Estados Unidos”.
O advogado de defesa tem 20 dias para presentar uma apelação. A mulher, de 31 anos, nascida nos Estados Unidos, está detida desde o fim de janeiro na penitenciária de Evin, zona norte de Teerã. Roxana Saberi é cidadã americana e irananiana, mas o governo do Irão não reconhece o princípio de dupla cidadania.
A condenação foi anunciada apesar das iniciativas diplomáticas do presidente Barack Obama e da secretária de Estado americana, Hillary Clinton, em relação ao Irã. Hillary informou no fim de março que uma delegação americana entregou a uma delegação iraniana uma carta com o pedido de libertação para três americanos detidos no Irã, incluindo Roxana Saberi, durante uma conferência sobre o Afeganistão em Haia.
O porta-voz da chancelaria iraniana, Hassan Ghashghavi, negou a existência de uma reunião e que a carta tenha sido entregue pelos americanos.
O porta-voz do Departamento de Estado americano, Robert Wood, afirmou no início da semana que as acusações contra a jornalista não tinham fundamento e que estava preocupado, já que para ele o julgamento não parecia transparente.
Os pais de Saberi, que vivem nos Estados Unidos, desembarcaram em Teerã na semana passada e pediram para visitar a filha pela primeira vez na prisão de Evin. Depois da visita, o pai afirmou que a filha havia pensado em iniciar uma greve de fome, mas desistiu da ideia.
Segundo o procurador assistente de Teerã, Hassan Hadad, Roxana Saberi “não tinha credencial de imprensa e realizava atividades de espionagem sob a cobertura do jornalismo”.
A jornalista, colaboradora da rádio pública americana NPR, da BBC britânica e do canal de televisão americano Fox News, foi detida inicialmente por comprar bebida alcoolica (vinho), o que é proibido na República Islâmica. Ela mora no Irã desde 2003. As autoridades iranianas afirmaram que retiraram a credencial de imprensa dela em 2006.
Vários iraniano-americanos, fundamentalmente universitários radicados nos Estados Unidos, foram detidos no Irão nos últimos anos, acusados de atentar contra a segurança nacional. Mas nenhum deles foi julgado e todos conseguiram deixar o país.