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Autárquicas 2013: Catandica, a residência dos contrastes

Autárquicas 2013: Catandica

À primeira vista a vila de Catandica é um lugar acolhedor. A água jorra nas torneiras e o sistema de recolha de resíduos sólidos é eficaz. Mas isso, diga-se, é apenas no centro da vila. Ou seja, é a impressão que fica quando nos limitamos a vislumbrar a superfície. A verdadeira Catandica esconde-se atrás dessa cortina urbana e oferece um quadro real do drama do grosso dos habitantes. A água não chega a todos e a energia é um ponto luminoso que é possível ver, mas impossível de abraçar… Assim é Catandica.

Catandica é uma pacata vila de 12 mil quilómetros quadrados encrustada na Estrada Nacional número 7 (EN7). Uma espécie de posto fronteiriço entre as cidades de Chimoio e de Tete. Com cerca de 26 mil habitantes, de acordo com o Censo de 2007, na vila municipal de Catandica a água jorra nas torneiras de 560 famílias. A electricidade continua muito longe de cobrir 50 porcento da população. Uma família comum, em Moçambique, é composta por cinco pessoas. Portanto, na melhor das hipóteses, o número de pessoas que podem abrir uma torneira dentro de casa para encher um copo com água queda-se em 2800.

Efectivamente, o acesso ao precioso líquido continua muito abaixo dos 38 porcento que os dados do Ministério da Administração Estatal, publicados em 2008, davam como certos. Na verdade, o acesso a água canalizada situa-se nuns humildes 12 porcento.

Nas contas da edilidade, as 560 ligações abrangem 15.475 consumidores. Uma conta rápida mostra que os dados do município são muito mais do que optimistas. Se os mesmos correspondem à verdade e não resultam de um engano monumental, o país acaba de entrar numa era onde um agregado familiar em, média, tem 27.6 pessoas. Pelo menos é assim em Catandica. No entanto, os dados do Instituto Nacional de Estatística referem que uma família modelo em Moçambique conta com cinco membros.

Catandica, diga-se, cresceu, mas a água não acompanhou a expansão da urbe. No actual mandato, foram atribuídos 560 talhões o que aumenta, de certa forma, o número de pessoas com necessidade de água e energia. Nem sequer a abertura de 11 poços e a montagem das respectivas bombas muda o estado das coisas. Os bairros Sanhatunzi, Josina Machel, Chissano, Tongogar, Samora Machel, Militar e Mugabe beneficiaram destes poços.

Ainda no contexto da distribuição de água foram abertos quatro fontenários nos bairros 3 de Fevereiro, Mugabe, 7 de Abril e Eduardo Mondlane. Portanto, o aumento de mais quatro fontenários e de seis bombas eleva, nas contas da edilidade, a cobertura de água dos anteriores 38 para 60 porcento.

Contudo, a realidade e o sacrifício diário do grosso da população, na cintura da vila e mais para o interior, desmente categoricamente os números oficiais. A população que vive na Catandica real recorre a pequenos riachos ou a fontenários que o município instala para minimizar o drama da falta de água.

Uma mulher com um bidão na cabeça é a imagem de marca da periferia. Aliás, foi assim que deparámos com Rosália, de 29 anos de idade, e uma história de vida marcada por privações. Água sempre significou percorrer longas distâncias quando residia no interior do distrito. Contudo, a sua vinda para a vila com o esposo que trabalha no mercado municipal como biscateiro não mudou a situação. De tal modo que continua a lavar roupa nos riachos e só vai ao fontenário levar água para confeccionar as refeições para a família de quatro membros e para beber.

 

Comércio

A movimentação de vendedores informais à entrada, saída e no coração da município vila de Catandica é um retrato preciso da ocupação da população activa local. São centenas de munícipes provenientes dos 12 bairros com o firme propósito de fazer dinheiro numa vila que, apesar das potencialidades agrícolas, continua associada à miséria.

A unidade de farinação, os dois restaurantes, as duas pensões, a bomba de combustível, os estabelecimentos das empresas de telefonia móvel absorvem uma margem da mão-de-obra, mais isso é apenas uma parte insignificante do total da população activa que Catandica oferece. Ou seja, por cada 100 crianças ou idosos, existem 112 pessoas em idade activa.

Para se antecipar à falta de emprego, João Herculano, de 23 anos de idade, optou por vender milho na EN7. “É arriscado, mas é o lugar mais fácil de conseguir algum dinheiro”, diz o jovem. O desemprego é um problema real em Catandica e é pouco provável que o deixe de ser nos próximos tempos. Na verdade, 14.889 cidadãos estão em idade de trabalho. Portanto, excluindo os que procuram emprego pela primeira vez, a população economicamente activa é de 9.383 pessoas o que, de acordo com dados municipais, reflecte uma taxa implícita de desemprego e subemprego estimada em 60 porcento.

O grosso dessa população que não encontra emprego é absorvida pela actividade agrícola. A vila possui cerca de 800 hectares de terra arável. Grande parte dos produtos que são comercializados na EN7, com excepção dos refrigerantes, sai desse espaço. A papaia, a banana, as laranjas, a maçã, a batata-doce e o ananás são os produtos que podem ser adquiridos em qualquer ponto de Catandica.

A actividade comercial cresce consideravelmente. Em 2009 existiam 225 vendedores de mercado cadastrados. Até 2012 registou-se um incremento de quase 45 porcento. O número actual é de 435 vendedores. Quanto às bancas, quiosques e barracas, a concorrência nos dias que correm é enorme, fruto de um crescimento na ordem dos 220 porcento. Na vila, em 2009, existiam 55 estabelecimentos de pequeno porte contra 188 em 2012.

 

Educação

No sector da Educação, o município construiu três salas de aulas com receitas próprias nos bairros Militar, Samora Machel e Tongongara. Estima-se que o custo de total do investimento foi de 700 mil meticais. Contudo, o esforço da edilidade é uma espécie de gota de água no oceano numa vila que regista anualmente 360 novos ingressos no sistema nacional de ensino.

 

Energia

Mais de metade da população não tem acesso a corrente eléctrica. A situação é mais grave nos bairros mais distantes do centro da vila onde a percentagem de casas sem iluminação chega aos 98 porcento nos casos mais graves. Os números indicam que apenas 38.2 porcento da população é que se pode dar ao luxo de acender uma lâmpada dentro de casa. 18.9, na sua maior parte concentrados na cintura da vila, usam vela. 40.5 porcento recorrem ao petróleo, à parafina ou à querosene. Os dados municipais não falam em números, mas referem que o fornecimento de energia foi alargado aos bairros Futuro Melhor, 1o de Maio, Militar, Mugabe e 7 de Abril. Portanto, dos cerca de 12 bairros que compõem aquela vila municipal apenas três é que ainda não dispõem de corrente eléctrica.

 

Habitação

O tipo de habitação predominante é a casa maticada, com pavimento, paredes de estacas ou de tijolo cru e com cobertura de zinco, o que representa 77 porcento das casas de Catandica. As moradias de bloco e zinco em termos estatísticos significam 24 porcento. As de bloco e tijolo rebocadas com cimento totalizam 9 porcento da habitação da vila.

O material de construção, naquela urbe, com excepção da areia e da pedra, está muito além do preço que se pratica nas grandes cidades. O ferro, por exemplo, de 12 milímetros de espessura, custa 300 meticais. Um quilograma de arame não sai por menos 200 meticais o quilo. Um saco de cimento oscila entre os 300 e 400 meticais. Efectivamente, das edificações construídas para habitação e negócios 1.430 imóveis estão sujeitos ao Imposto Predial Autárquico.

 

Saneamento do meio

Cuidar do saneamento do meio, para preservar o ambiente é um dos maiores desafios de Catandica nos próximos tempos. Para se ter uma ideia, 60 porcento da população não têm acesso a uma latrina melhorada. 7.2 nem sequer têm uma e só 3.6 porcento dos munícipes, no coração da vila, é que dispõem de uma retrete com fossa.

Em suma: as principais realizações da edilidade de Catandica ainda representam muito pouco para os reais anseios dos munícipes. As duas viaturas adquiridas para a remoção de lixo servem apenas para deixar o rosto da vila limpa. O corpo, esse, continua aos deus- -dará e sem grandes cuidados de saúde e higiene. Outro grande mal que foi apontado em 2008, pelo Ministério da Administração Estatal, foi o controlo de estrangeiros. O problema, em 2013, ainda é uma realidade.

 

Contexto histórico

Catandica é nome que substituiu, após a Independência Nacional, o anterior nome de Gouveia que foi filho de Chitengo, ex-capitão do Prazeiro Manuel António de Sousa, ou Gouveia, que mais tarde participou na revolta de Báruè, ao lado de Macombe. Admite-se que Gouveia seja adaptação de Goa, cognome do prazeiro local de origem goesa que emigrou para Moçambique em 1850, tendo desempenhado um papel importante durante a revolta do Báruè, ao lado dos portugueses. Morreu em combate em 1892, durante a revolta.

A povoação passou a designar-se vila Gouveia em 25 de Janeiro de 1915 (Cabral, 1975: 161). Entretanto, em 1978, a vila foi extinta e criou-se em seu lugar o Conselho Executivo Distrital ao abrigo da Lei no 7/78 de 22 de Abril. A resolução nº 7/87 de 25 de Abril classificou a sede de distrito com o nível D. Pela resolução nº 9/87 de 25 de Abril, a vila foi restabelecida. A Lei no 3/94 de 13 de Setembro determinou a criação do distrito municipal, extinto em 1997 com a criação do conselho municipal, de harmonia com a Lei 10/97.

O município da vila de Catandica é sede do distrito de Báruè, e confina-se a norte com o monte Tsuanda; a sul com o monte Chitsana e a cordilheira da serra Chôa; a este com a linha de alta tensão da HCB e a oeste com a cordilheira do monte Chôa. Com uma área de 16 Km2 e uma população actualmente estimada em 26.000 habitantes, a vila é constituída por 11 bairros assim designados: Sabão; Chissano; Tongogara; 1º de Maio; 3 de Fevereiro; 7 de Abril; Mugabe, Sanhantunze, Futuro Melhor, Eduardo Mondlane e Samora Machel.

 

Município da vila de Catandica em números

Vereações: 4

Ligações domiciliárias de água: 560

Poços de água com bomba abertos: 11

Fontenários: 4

Casas construídas: 5

Aquedutos construídos: 8

Salas de aula construídas: 3

Agentes económicos: 436

Estabelecimentos comerciais: 188

Imóveis sujeitos ao Imposto Predial Autárquico: 1.430

Vias de acesso terraplanadas: 44 quilómetros

Habitantes: 26.000

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