A violência contra os civis aumentou em quase um quarto no Afeganistão enquanto as forças internacionais transferem as atribuições de segurança aos afegãos, revelou a ONU num relatório, esta Quarta-feira (31).
O texto da directora de Direitos Humanos da ONU no Afeganistão, Georgette Gagnon, diz que o número de civis mortos e feridos cresceu 23 por cento no primeiro semestre deste ano em comparação ao mesmo período de 2012, chegando a um total de mais de 1.300 mortos, com 2.533 feridos relatados.
Os insurgentes atacam principalmente nas áreas já abandonadas pelas forças estrangeiras, e as mulheres e crianças estão cada vez mais vulneráveis, diz o relatório, apontando um salto de 30 por cento no número de crianças mortas.
O elevado número de vítimas civis intensifica os temores de que as Forças Armadas afegãs – afectadas por um dos maiores índices mundiais de deserção e por uma crónica falta de apoio médico e logístico – sejam incapazes de enfrentar a insurgência do Taliban depois da retirada quase completa das forças estrangeiras, em 2014.
“A aceleração da transição das responsabilidades de segurança das forças militares internacionais para as forças afegãs e o fecho das bases das forças internacionais foram respondidos com crescentes ataques de elementos antigoverno”, disse Gagnon, ao apresentar o relatório.
Segundo ela, os ataques ocorrem “principalmente em postos de controle, rodovias estratégicas, em algumas áreas que já passaram pela transição e em distritos fronteiriços com países vizinhos”. As cifras de 2012 haviam indicado uma redução na morte de civis em comparação ao ano anterior.
O relatório da ONU diz que os explosivos improvisados são a principal arma, fazendo 53 por cento mais vítimas do que no ano passado, na maioria crianças. Os confrontos entre as forças de segurança e emergentes são a segunda causa mais significativa de mortes de civis, segundo o relatório, que estima em 207 o total de vítimas no fogo cruzado no primeiro semestre.
De acordo com a ONU, quase três quartos das mortes foram causadas por insurgentes, que estariam cada vez mais a atacar civis suspeitos de colaborarem com o governo. Em nota enviada por email, um porta-voz do Taliban, Zabihullah Mujahid, afirmou que o grupo insurgente islâmico vê qualquer apoiante do governo de Hamid Karzai como um alvo legítimo.
“Nunca consideramos como civis pessoas que estão directamente envolvidas na ocupação do nosso país ou que trabalham com órgãos sensíveis do inimigo”, afirmou.